Basta encarar por dez segundos o novo RAV4 e dar duas voltas no quarteirão para se ter uma noção de como será a próxima geração do Corolla, que estreia por aqui no ano que vem. A explicação é simples: a Toyota vai, paulatinamente, aplicando a nova diretriz estética em todos seus veículos ao redor do mundo e, em território brasileiro, começa com o SUV. No mais, uma das novidades mecânicas nesta quarta geração do RAV4 será, fatalmente, aplicada no sedã.
Além do novo visual, o RAV4 estreia novos motores: o 2.0, de 145 cavalos e 19,1 kgfm de torque, vem acoplado a uma transmissão do tipo CVT; já o 2.5 vem com 179 cv e 23,8 kgfm de torque, combinado a um câmbio automático de seis marchas. Mais uma vez, enxerga-se o Corolla nas entrelinhas: assim como o SUV abandonou o arcaico câmbio de quatro marchas, o sedã fará o mesmo, usando o mesmo equipamento de seis velocidades.
Ar-condicionado digital sim, GPS não
Por R$ 96,9 mil, a versão de entrada do RAV4, 2.0 4x2, traz entre os principais equipamentos ar-condicionado, direção hidráulica, CD player com conexão Bluetooth, USB e auxiliar; volante e manopla do câmbio em couro, volante com comandos do rádio, airbag duplo, faróis de neblina, sensor de estacionamento e ABS com distribuição eletrônica de força de frenagem (EBD) e sistema de assistência em frenagem de emergência (BAS).
Saltar para a configuração 2.0 4x4 não significa necessariamente preferência por um carro com tração nas quatro rodas. Aliás, o equipamento mais inútil para 99% dos futuros proprietários do RAV4 (e seus concorrentes, logicamente) é a tração 4x4. Custando R$ 109,9 mil, o que a configuração intermediária acrescenta de relevante para esses clientes são justamente itens que aumentam o conforto dos ocupantes, como ar-condicionado digital dual zone, tela de 6,1 polegadas que agrega sistema de som e câmera de ré, bancos dianteiros com aquecimento (sendo o do motorista ajustável eletricamente), revestimento interno em couro, controle de velocidade de cruzeiro, retrovisor interno eletrocrômico, destravamento das portas por proximidade da chave e sistema de ignição por botão. A segurança também aumenta, com airbags laterais e de cortina.
No RAV4 topo de linha, que custa R$ 119,9 mil, o único elemento acrescentado à lista de equipamentos é o teto solar elétrico. O diferencial, mesmo, é o motor 2.5 e o câmbio automático, e não CVT.
Embora seja um rol de itens satisfatório, falta um componente cada vez mais elementar, especialmente nessa faixa de preço: mesmo na versão mais cara, não há GPS, utilidade presente nos rivais Honda CR-V, Hyundai iX35 e Kia Sportage.
Impressões
Após cerca de 200 km em companhia da quarta geração do RAV4, é clara sua evolução em relação ao modelo aposentado (constatação aparentemente óbvia, mas que vez ou outro foge à regra). O novo RAV4 não é apenas melhor que o antigo, mas muito melhor. A começar pelo estilo mais esportivo, esguio e que tem como principal virtude a abolição do estepe pendurado na porta traseira. Além de criar um visual mais limpo, é menos prejudicial em caso de colisão traseira.
Internamente, encontra-se acabamento caprichado, embora de apresentação discreta. Os materiais escolhidos são de boa qualidade, especialmente o revestimento do banco, quando em tecido. Não à toa, há uma notória semelhança com o arquirrival CR-Vem relação à disposição dos equipamentos (repare na posição do ar-condicionado, por exemplo), tamanho das peças e escolha dos revestimentos. O volante tem praticamente os mesmos adornos e tamanho de botões.
O painel tem ótima visualização – outro item parecidíssimo com o existente no CR-V –, com um enorme velocímetro ao centro. Sua leitura é fácil e a iluminação, exemplar. O que não se pode dizer do display do sistema de som da versão 2.0, de visualização praticamente impossível durante o dia.
A ergonomia também melhorou, graças a uma posição mais verticalizada na nova geração. O pequeno curso dos ajustes de altura e profundidade do volante, no entanto, não evoluiu. Destaque para o amplo espaço, inclusive no banco traseiro – mas que, assim como na frente, é ideal apenas para dois ocupantes.
2.0 ou 2.5?
É mais fácil argumentar a favor do motor 2.5 (experimentado pelo G1 por cerca de 60 km, em trecho apenas rodoviário), por ser consideravelmente mais potente que o 2.0 e casado com um câmbio mais adequado ao gosto de quem aprecia uma condução mais esportiva. Mas a Toyota está certa em imaginar que apenas 10% dos clientes do novo RAV4 vão fazer questão da versão com mais motor.
Isso porque o 2.0 com transmissão CVT, embora insosso, atenderá o propósito do público do RAV4. Seus pecados, afinal, não são tão graves para um carro dessa proposta: no modo manual, há um incômodo atraso entre o comando da alavanca e a efetiva troca da marcha. Sem contar uma leve desobediência quando o condutor decide passar uma marcha antes do que o sistema acha mais adequado. E não adianta insistir.
Na cidade, o CVT dá o troco, garantindo rodar mais suave. A estabilidade e o isolamento acústico também merecem elogios.
A Toyota espera vender 800 unidades do novo RAV4 mensalmente. Marca que equivale à quantia alcançada na soma de 2012 inteiro, ano em que o RAV4 agora aposentado emplacou 822 unidades, segundo dados da Federação Nacional da Distribuição dos Veículos Automotores (Fenabrave). Caso atinja daqui até o final do ano o volume desejado, fechará 2013 com 6.400 vendas. Projetando as previsões para 2014, primeiro ano “cheio” do novo RAV4, serão 9.600 emplacamentos. Ao considerar o desempenho dos rivais em 2012 (e não há indícios de que o mercado de SUVs médios sofrerá declínios) o Toyota ficaria apenas na 4ª posição, atrás de Honda CR-V (14.890 unidades emplacadas no ano passado), Hyundai iX35(11.027) e Chevrolet Captiva (9.907), e à frente apenas do Kia Sportage (9.137).
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