Governo estuda reduzir tarifa para trazer trigo
Ontem, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou que encaminhou à Camex (Câmara de Comércio Exterior) proposta para que seja examinado o impacto da medida no mercado.
A Folha antecipou no domingo que a Fazenda estuda reduzir tarifas de alimentos como carne, leite e trigo, que estão em alta, para reduzir seu impacto na inflação.
"O preço dos alimentos está fazendo com que haja uma pequena elevação da inflação. Eu determinei à Secretaria de Acompanhamento Econômico que monitore todos os preços que estão subindo, de modo a detectar as razões. No caso do trigo, mais que isso, encaminhei à Camex proposta para examinar a oportunidade de reduzir a tarifa de importação."
A Camex já vinha analisando um pedido do setor para zerar a tarifa de importação do trigo, que é de 10%. A Abitrigo (Associação Brasileira da Indústria de Trigo) argumenta que a Argentina --fornecedor de 90% do trigo importado no Brasil-- suspendeu novos registros de exportação. Com isso, o país estaria sendo obrigado a trazer o trigo de outras regiões, o que encarece seu preço já que o grão da Argentina é livre de imposto de importação.
Mantega disse que é preciso examinar a eficácia da medida porque a redução da alíquota para o trigo pode não surtir efeito. E argumentou que trazer trigo do Canadá, por exemplo, pode ser muito caro devido aos custos de transporte.
Mantega afirmou que o preço de outros alimentos --carne, leite e outros grãos-- também vem pressionando a inflação, mas enfatizou que a Fazenda vem apenas monitorando de perto o comportamento do mercado para evitar "abusos".
Na avaliação da Fazenda, a pressão que os preços dos alimentos vem exercendo na inflação é decorrente da entressafra e da elevação dos preços no mercado internacional. O ministro admitiu que, além da oferta, há pressão de demanda.
"Se essa inflação de alimentos persistir e os preços internos se descolarem dos internacionais, a Fazenda poderá recorrer à política tarifária para abrir o mercado à importação de alimentos", disse na sexta à Folha Nelson Barbosa, o secretário de Acompanhamento Econômico da Fazenda.
Mantega disse que a inflação está sob controle porque a pressão dos alimentos seria compensada pela queda nos preços administrados --como energia. "A projeção de inflação é de 3,9%. Ainda está abaixo do centro da meta, de 4,5%."
O Banco Central decide na quarta-feira sobre nova redução da taxa básica de juros, hoje em 11,5%. O mercado espera redução no ritmo de corte de meio ponto para 0,25 e aponta para a alta nos alimentos.
A proposta do governo é considerada ineficaz por economistas. "Os choques pelos quais passamos não são exclusivos nossos. Assim, se o mundo está passando por choques semelhantes, fica difícil saber de onde importaremos", diz Sérgio Vale, da MB Associados.
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