Indústria do arroz fecha as portas em Mato Grosso
A indústria de arroz está encerrando as atividades em Mato Grosso. Há dois anos o estado era o segundo maior produtor do cereal no país - com 2 milhões de toneladas - e 72 beneficiadoras. Atualmente, produz pouco mais de 730 mil toneladas e conta com apenas 35 empresas. Os investimentos feitos no final da década de 90 evaporaram, com o desativação das unidades, decorrente da queda da safra. Estima-se que neste período, 1,5 mil vagas de trabalho tenham sido fechadas.
"Houve um boom na virada dos anos 90 para 2000, inclusive com programas de incentivos fiscais, mas a produção caiu", diz o diretor da Cogo Consultoria Agroeconômica, Carlos Cogo. Naquela época, empresas do Rio Grande do Sul e Santa Catarina não só abriram filiais no estado como ameaçaram fechar suas unidades do Sul, pois acreditavam que o lucro seria maior, devido ao custo de produção mais baixo na região.
"Não há produção compatível com o parque industrial", diz Joel Gonçalves Filho, presidente do Sindicato da Indústria de Arroz de Mato Grosso (Sindarroz). Na avaliação de analistas, a pressão pela não abertura de novas áreas - o cereal sempre foi usado após o desmate do Cerrado para preparar o solo para as demais culturas - foi uma das causas da menor área cultivada no estado - inclusive com o não financiamento da lavoura. Além disso, durante alguns anos os preços baixos desestimularam o plantio. "A queda na produção está totalmente relacionada à não abertura de áreas, que acabou por reduzir o desmatamento na região", diz Angelo Maronezzi, ex-presidente da Associação dos Produtores de Arroz de Mato Grosso.
No entanto, a safra reduzida elevou as cotações do cereal e com isso, retirou a competitividade da indústria. "O Rio Grande do Sul consegue colocar o arroz no Sudeste a preços melhores e, no Nordeste há a produção de alguns estados, como o Maranhão", afirma Gonçalves Filho. Indústrias do Sul também podem abastecer o Nordeste com o envio da mercadoria por navio - enquanto Mato Grosso usa rodovias, encarecendo o frete em cerca de 20%. É o caso da Santalucia (do arroz Blue Ville), que investiu no estado e se retirou. "Queríamos a empresa perto do mercado consumidor, mas estava ficando antieconômico", diz o diretor-comercial da companhia, Maurivan Dalben.
"A indústria não consegue repassar preço para o varejo e, portanto, não consegue competir com o Sul", diz Tiago Barata, analista da Safras & Mercado. Ele acrescenta também que a chamada região do "Mapito" (Maranhão, Piauí e Tocantins) tem elevado a produção do cereal. O produtor Benedito Bezerra Mendes é um dos que têm investido no arroz no Maranhão. "A produção está se profissionalizando", diz. Hoje ele tem uma área de 2,5 mil hectares, mas pretende chegar a 5 mil hectares.
A menor disponibilidade de áreas novas em Mato Grosso fez com que as indústrias de sementes desenvolvessem variedades adaptadas a terras "velhas", como a cambará e a sertanejo, disponíveis nesta safra. "A médio e longo prazo a redução da lavoura é positiva porque quem plantar será por opção pelo produto e, portanto, buscará produtividade e qualidade", diz Maronezzi.
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