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Internacional
Segunda - 27 de Agosto de 2007 às 15:47

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"Dr. Ecstasy" lamenta fama da droga por causa de raves.

O cientista que na década de 1970 apresentou o ecstasy ao mundo teme que a fama e a popularidade da droga em casas noturnas esteja destruindo qualquer possibilidade de que ela venha a ser usada no tratamento de doentes psiquiátricos.

"Seu excelente potencial para o uso como medicamento está sendo gravemente ameaçado", disse Alexander Shulgin à Reuters, após defender os méritos das drogas que alteram a consciência durante um simpósio sobre o cérebro humano no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), nesta semana. "Saiu de controle", lamentou Shulgin, um californiano alto, de vasta cabeleira branca e barba de Papai Noel, que é conhecido como "Doutor Ecstasy".

Esse psicofarmacologista certa vez obteve do governo norte-americano uma autorização para desenvolver qualquer droga ilegal. Defensor incondicional da utilidade das drogas psicodélicas para abrir a mente humana, ele pretende concluir neste ano uma enciclopédia de 1.500 páginas a respeito de todas as suas criações.

Aos 80 anos, ex-conferencista da Universidade da Califórnia em Berkeley, ele testou vários dos seus experimentos e admite ter tido mais de 4.000 experiências psicodélicas. Mas não gosta que a imagem do ecstasy seja associada ao uso recreativo em raves e casas noturnas. "Essa cena das raves jogaram lenha na fogueira da reprovação governamental", afirmou. O uso da droga, que induz à euforia, dá energia e reduz as inibições, cresceu 70 por cento entre 1995 e 2000, segundo dados da ONU.

As mortes provocadas pelo ecstasy, embora raras, geram manchetes que levam as autoridades a fazerem severos alertas. A Austrália, por exemplo, disse em abril que os usuários podem sofrer graves danos psicológicos. Essa explosão no uso tem relação direta com Shulgin. Talentoso bioquímico e ex-consultor do Instituto Nacional de Saúde dos EUA, ele achou a fórmula do MDMA - uma droga sintética com efeitos psicodélicos e estimulantes - em um texto de química em 1912. Com base nessa informação, sintetizou o ecstasy em 1976.

Após testar a droga em si mesmo, ele ficou convencido de seu poder no tratamento de doenças mentais. Shulgin deu então a droga para um amigo, o psicoterapeuta Leo Zeff, que a provou, chegou à mesma conclusão e a passou a centenas de outros terapeutas. Shulgin, que já havia deixado um importante cargo na Dell Chemical após provar mescalina na década de 1960 - numa introdução à psicodelia que mudaria sua vida -, virou então uma celebridade, reconhecido como químico inovador.

Ele descreveu seu primeiro contato com drogas psicodélicas como "uma experiência muito agradável", na qual podia "ver claramente o que não podia apreciar antes." O ecstasy foi usado no começo como um tratamento contra a depressão e outras doenças, mas isso acabou de repente em 1986, quando a droga foi proibida pelo governo norte-americano.

Recentemente, entretanto, o ecstasy teve um modesto retorno à terapia clínica. As autoridades dos EUA autorizaram em 2004 a Universidade Médica da Carolina do Sul a usar o MDMA em um pequeno estudo com pacientes de estresse pós-traumático. Em agosto, pesquisadores da Universidade Duke, na Carolina do Norte, descobriram que as metanfetaminas, inclusive o ecstasy, revertiam os efeitos do mal de Parkinson em ratos, o que criou a possibilidade de um tratamento semelhante para humanos.

Enquanto isso, Shulgin, cujo envolvimento com a pesquisa de drogas psicodélica já dura 40 anos, trabalha na sua enciclopédia a respeito de mil compostos psicodélicos. A estrutura é igual ao Índice Merck de propriedades químicas. "Terá tudo o que se sabe, o que foi testado e não foi descoberto ainda, ou o que deveria ser testado porque está apto a ser psicodélico", disse ele sobre a obra, a ser publicada por ele mesmo em meados do ano que vem.





Fonte: Reuters

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