Incêndios na Grécia matam 61 e ameaçam patrimônio da humanidade
Os socorristas encontraram na tarde deste domingo mais quatro corpos carbonizados, no departamento de Élide, no Peloponeso, o que eleva a 61 o número de mortos no incêndio que devasta o país há três dias.
"A contagem provisória é de 61 mortos. As últimas quatro vítimas foram encontradas no oeste do Peloponeso, em Élide", disse Panos Efstathiou, funcionário do ministério da Saúde.
Mais cedo, cinco corpos carbonizadas foram encontrados na ilha de Eubea, no sul do país, informaram as autoridades. As cinco vítimas fatais, incluindo dois bombeiros, estavam na região de Mystra, nas imediações de Eretria, no centro da ilha.
O templo de Apolo situado na prefeitura de Arcádia, no Peloponeso, considerado patrimônio mundial da humanidade pela Unesco, está ameaçado pelas chamas, informou hoje o ministro da Ordem Pública, Vyron Polydoras.
"Estamos muito preocupados com o incêndio que atinge a região de Zacharo (oeste do Peloponeso) e avança na Arcádia, o que ameaça o templo de Apolo (em Basas)", disse Polydoras após uma reunião ministerial.
Situado a 1.130 metros de altura e considerado o templo mais bem conservado da Antigüidade - data do século V antes de Cristo - este santuário foi coberto por um toldo em 1987 para protegê-lo da chuva e da neve.
Horas antes, as chamas ameaçaram o sítio arqueológico de Olimpia, também considerado patrimônio da humanidade, mas os bombeiros conseguiram evitar o pior: "O novo museu arqueológico foi salvo e as chamas não atingiram o sítio antigo de Olímpia. Todos os sistemas antiincêndio funcionaram", disse o secretário-geral do ministério da Cultura, Christos Zahopoulos.
O santuário de Olímpia, dedicado a Zeus, foi a sede dos Jogos antigos do ano 776 antes de Cristo até o século IV da era moderna.
Entretanto, a situação continua crítica em todo o país. "Estamos à beira da catástrofe nacional, esta tragédia é sem precedente", afirmou na manhã deste domingo o porta-voz dos bombeiros, Nikolaos Diamantis.
Mais de mil bombeiros, auxiliados por 425 soldados e apoiados por 16 aviões e helicópteros, combatem as chamas.
Todo a Grécia se encontra desde sábado em estado de emergência e os primeiros reforços enviados pela comunidade internacional começaram a chegar: quatro aviões Canadair e 60 bombeiros franceses, 30 bombeiros cipriotas e um aparelho italiano ajudaram a salvar o patrimônio de Olímpia neste domingo.
Aviões e helicópteros fornecidos por Sérvia, Israel, Eslovênia, Espanha, Romênia, Alemanha, Noruega, Suíça e Islândia também devem chegar à Grécia nas próximas horas.
As chamas avançavam hoje nos arredores de Kalamata, no sul, e em Pyrgos, no oeste.
Os moradores e turistas da região sudoeste da ilha de Evia (ao nordeste de Atenas) ainda estavam cercados pelas chamas.
As redes de televisão mostravam imagens de desolação, com casas queimadas e plantações de oliveiras cobertas de cinzas.
No início da tarde deste domingo, novos focos de incêndio se declararam no departamento de Ftiótida, no centro do país.
O primeiro-ministro conservador, Costas Caramanlis, que pode ser cobrado sobre a ação de seu governo, antes das eleições legislativas de 16 de setembro, disse que suspeita de ação criminosa.
"O fato de que tantos focos tenham surgido ao mesmo tempo em tantos lugares não pode ser fruto do acaso", afirmou Caramanlis no sábado.
A tese criminosa também foi evocada pela imprensa, num país onde a especulação imobiliária desenfreada é regularmente acusada de provocar a destruição das florestas com fogo durante o verão.
Desde sexta-feira, a polícia prendeu dez pessoas por incêndio criminoso ou negligente, entre elas um homem de 65 anos e uma idosa no Peloponeso.
A oposição socialista e a imprensa de esquerda acusam o governo de tentar ocultar as responsabilidades de sua equipe, denunciada por sua desorganização na luta contra o fogo.
"O governo transformou a Grécia em um estado indefeso", exclamou o líder da oposição socialista, Georges Papandréou.
Este incêndio gigantesco que devasta o Grécia é um dos mais mortíferos desde o de outubro de 1871 em Peshtigo, no estado americano de Wisconsin, que deixou entre 800 e 1.200 mortos.
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