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Domingo - 26 de Agosto de 2007 às 10:48
Por: Josi Costa

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A cada ano pelo menos 25 homens são submetidos à cirurgia para amputação de pênis nos hospitais Universitário Júlio Müller e do Câncer (HC) de acordo estimativa de urologistas. A higiene íntima precária e a presença de fimose que dificulta a limpeza, já que a "pele" ou prepúcio que recobre a glande "cabeça do pênis" é estreita ou pouco elástica, são os fatores que levam ao câncer, de acordo com pesquisa da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU).

O estudo da SBU mostra que a doença obriga 1 mil homens, por ano, a amputar o órgão. Pelo menos 95% casos chegam ao consultório em estágio tão avançado que não resta outra alternativa de tratamento do tumor a não ser a mutilação seguida de sessões de radio e quimioterapia para evitar que a doença avance para regiões como virilha e pernas.

O urologista Carlos Eduardo de Almeida Bouret, 46, informa que o câncer de pênis representa 2,1% de todos os tipos da doença que afetam a população masculina. Ele diz que o número é alto se comparado aos americanos, por exemplo, onde o índice é 0,5%. No Maranhão, esse percentual sobe para 16%, conforme a pesquisa que associa o câncer de pênis ao vírus HPV (papilomavírus humano) contraído em relações sexuais sem a proteção da camisinha.

A resistência ao uso do preservativo também favorece o câncer, já que outros tipos de doença sexualmente transmissível (DST) podem se tornar crônicas quando não tratadas de forma adequada, segundo ele. O médico, que integrou a equipe de cirurgiões do Júlio Müller em meados da década de 90 - explica que a secreção (esmegma) que se acumula embaixo da "pele" é rica em substâncias que favorecem a proliferação de fungos. O calor do corpo, a umidade e a má higiene permitem as infecções e irritações crônicas que evoluem para o câncer.

A pesquisa também mostra que a população de baixa renda - de forma mais acentuada os trabalhadores rurais - são as principais vítimas da doença. "Eles tomam banho, mas não lavam bem o pênis e não passam sabão", diz. Zico, ex-jogador e atual treinador da Feenarbah, da Turquia, que é o garoto-propaganda da campanha nacional, onde aparece de sabonete na mão."Lavar bem o pênis com água e sabão e operar previnem quase 100% o câncer de pênis", explica o urologista.

Bouret tranquiliza quem tem fimose, ao esclarecer que a cirurgia é rápida e com anestesia local (com exceção nas crianças) e dispensa internamento. O procedimento é pago pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

Sintomas - A doença que abala corpo e a mente surge em forma ferida ou tumor na glande (prepúcio) ou no corpo do pênis. A presença de uma dessas manifestações associada à presença do esmegma podem ser um sinal da doença e exige uma consulta ao especialista. A literatura médica aponta ainda para a possibilidade da presença de gânglios inguinais (íngua na virilha) que pode sinalizar metástase; fase avançada do tumor, que ainda pode afetar as pernas e obrigar também a amputação.

Bouret explica que a doença é tratada e curada quando é detectada na fase inicial, mas a pesquisa mostra que apenas 5% dos homens procuram ajuda médica nesse período. Ele explica que se o tumor tem mais de dois centímetros - que se denomina infiltração - o tratamento primário da doença é a amputação. Em razão da margem cirúrgica, que obriga o cirurgião retirar além da região afetada pela doença, por segurança, os homens com pênis menores são mais prejudicados, ainda que a mutilação é parcial.

O médico comenta que há casos de pacientes com órgão longo que mesmo operados conseguem ter vida sexual satisfatória e ativa. Nos dois casos, a notícia da amputação cai sobre a cabeça como uma "bomba" ou sentença de "morte". "Muitos choram e a primeira reação é se recusar a fazer a cirurgia. Depois eles voltam", relata, ao se referir ao sofrimento emocional desses pacientes. "É uma mutilação que não vai amputar só o órgão, mas a auto-estima e muitos outros valores. Muitos homens ainda têm como principal função ser macho, no sentido sexual", diz, ao comentar que os pacientes recebem apoio psicológico para enfrentar o trauma. Segundo ele, pelo menos em Mato Grosso, desconhece que haja cirurgia para reconstrução pênis. "Não é dominada pelos urologistas. Eu não faço e não conheço quem faça", diz.

Desespero - Os casos são mais comuns na população masculina se concentram na Baixada-Cuiabana e Norte de Mato Grosso segundo o urologista João Bosco de Almeida Duarte, professor da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), da equipe de cirurgiões do Júlio Müller. Naquela unidade, ele informa que são realizadas entre 10 e 15 operações por ano e atribui 85% dos tumores por carcinoma epidermóide, que levam ao câncer de pênis, ao vírus HPV. No Hospital do Câncer, o volume de amputações é equivalente.

O médico conta que antes de procurar ajuda médica, os homens recorrem a curandeiros, remédios caseiros e alternativas absurdas - para quem está de fora do problema - mas que mostram a busca desesperada para ter de volta a saúde do órgão sexual. "Muitas vezes eles tentam curar a ferida com creolina, água sanitária e até água de bateria antes de procurar um médico. Quando chegam ao consultório, a moléstia já comprometeu o pênis", relata.

João Bosco esclarece que a doença afeta mais os homens de baixo poder aquisitivo, menos informados quanto à necessidade de uma boa higiene, entre 40 e 60 anos de idade. "a grande maioria é trabalhador rural; funcionários de fazendas. Embora faça alguns anos, ele já operou um rapaz de 26 anos, por causa desse tipo de câncer. Eles não puxam a pele e não lavam direito", diz.

O médico comenta que em muitos casos, a primeira reação ao se avisado que vai perder o pênis ou mesmo alguns centímetros, é culpar alguma mulher com quem manteve relações sexuais. "Um deles quis matar a mulher ao saber que estava com a doença", conta. Apesar de a cirurgia mutilar o pênis e também prejudicar o psicológico, João Bosco lembra que um dos pacientes operados por ele, conseguiu até mesmo ter filhos após cirurgia que retirou parte do órgão, que é feita após anestesiar o homem da cintura para baixo, dura em média 40 minutos e obriga internamento de pelo menos dois dias. "A circuncisão (cirurgia de fimose) entre 4 e 7 anos e o uso da camisinha previnem a doença".

Visita ao urologista - O motorista Alcides Peres, 50, de São José de Quatro Marcos (a 300 km de Cuiabá) admite que ia ao médico apenas quando se sentia mal até descobrir que sua próstata estava aumentada. "Se eu me consultasse mais vezes esse problema tinha sido evitado", reconhece, ao revelar que trata o problema há 4 anos.

Ao comentar sobre a má higiene como principal causa de câncer de pênis, ele ajuda a comprovar o que a ciência investiga, que é a ligação entre o trabalho rural e a doença. "Quando eu trabalhava na roça só podia tomar banho de noite. Hoje tomo banho cedo e à noite e quando dá tempo até no meio do dia", comenta. Ele acredita que a "falta de estudo e de informação" são as principais causas que impedem o homem de lavar o pênis de forma correta durante o banho.

O policial rodoviário federal Rogério Arantes de Barros, 36, já está há vários dias às voltas com exames e consultas médicas porque fraturou o braço esquerdo numa partida de futebol e houve rejeição ao metal implantado no local. Ele admite que consultórios médicos não são os melhores lugares para se frequentar, mas garante que costuma fazer "check up" para avaliar a saúde. O mais recente foi feito há menos de um ano. "Faltam campanhas, há o problema das doenças sexualmente transmissíveis e muitos esbarram na ignorância", opina, ao saber da pesquisa da Sociedade Brasileira de Urologia.

Atento aos sinais

Perda de pigmentação ou manchas esbranquiçadas

Feridas e caroços no pênis que não desapareceram após tratamento médico, e que apresentem secreções e mau cheiro

Tumor no pênis e/ou na virilha (íngua)

Inflamações de longo período com vermelhidão e coceira, principalmente nos portadores de fimose





Fonte: Gazeta Digital

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