Advogado de pilotos do Legacy culpa 'caos aéreo' por acidente
O advogado dos dois pilotos do jato Legacy que colidiu com um Boeing da empresa aérea Gol em 29 de setembro de 2006, provocando o segundo maior acidente aéreo da história do Brasil, culpou o ''caos áereo'' no país pelo acidente.
''O sistema de segurança aérea do Brasil está em caos. Há radares que falham, aviões que são mandados de volta, o ministro da Defesa perdeu seu cargo, os controladores de tráfego aéreo fizeram greve e estão sobrecarregados. O sistema de controle de tráfico aéreo colocou dois aviões em rota de colisão. É simples assim'', disse Joel R. Weiss à BBC Brasil.
O advogado defendeu a decisão de seus clientes de não ir ao Brasil para depor, em uma audiência sobre o caso marcada para esta segunda-feira, em Sinop, no Mato Grosso, mesmo após terem sido intimados pela Justiça brasileira.
''Eles estão nos Estados Unidos, onde vivem e trabalham. Segundo um tratado legal entre os dois países, eles podem depor a partir daqui. O tratado não permite que eles sejam obrigados a retornar ao Brasil. Eles não estão tentando evitar testemunhar. Querem fazê-lo, mas a partir do país em que vivem.''
Em um ofício enviado ao juiz federal Murilo Mendes, responsável pelo caso, a defesa pediu que eles fossem ouvidos nos Estados Unidos – mas o juiz recusou o pedido. Reagindo à decisão, Lepore e Paladino avisaram, por meio de seus advogados, que não vão comparecer à audiência. Caso Lepore e Paladino de fato não apareçam, o juiz deve decidir o procedimento a ser adotado a seguir.
Inadequado
Lexi Hazam, advogada do escritório Lieff Cabraser Heimann & Bernstein, de San Francisco, contratado por famílias de vítimas do acidente com o Boeing da Gol, acredita que o depoimento dos pilotos a partir dos Estados Unidos não teria a mesma validade.
''Julgamos inteiramente inadequada a sugestão de que seria adequado dar testemunho a partir dos Estados Unidos, em vez de perante o júri e do público do Brasil'', afirmou a advogada, cujo escritório está movendo uma ação civil em um tribunal nova-iorquino contra a Excelaire, proprietária do jato Legacy, a Honeywell, a empresa fabricante do transponder supostamente defeituoso do jato, e os dois pilotos.
Segundo Hazam, a decisão dos pilotos e de seu advogado ''torna imperativo que um tribunal americano ouça o caso, pois os Estados Unidos são o único país em que eles estão dispostos a comparecer perante um tribunal e o único que pode obrigá-los a comparecer''.
Joel R. Weiss afirmou que o advogado dos dois pilotos no Brasil, Theo Dias, vai comparecer à audiência em Sinop, na segunda-feira e ''pedirá que os juízes reconsiderem a sua posição e aceitem que eles deponham a partir dos Estados Unidos.''
De acordo com o advogado, uma ''audiência justa por parte do juiz deixará claro que eles não têm culpa, irá descobrir que eles são inocentes''.
A advogada das famílias afirma que a decisão dos dois pilotos ''é muito decepciontante''. ''Eles frenquentemente diziam não ter responsabilidade pelo acidente. E afirmavam que foram falsamente acusados no Brasil. Se esse é o caso, seria de se pensar que eles não teriam medo de ir ao país para limpar seus nomes'', comentou Lexi Hazam.
Sindicato de pilotos
A Air Line Pilots Association, International (ALPA), o maior sindicato mundial de pilotos de avião, disse apoiar a decisão dos pilotos Joseph Lapore e Jan Paladino de não comparecer ao interrogatório marcado para Sinop.
A colisão do jato Legacy com o avião da Gol provocou a queda do Boeing em uma área de selva no Mato Grosso, matando todos os seus 154 passageiros e tripulantes.
A ALPA, que é sediada em Washington e formada por 60 mil pilotos de 41 companhias dos Estados Unidos e do Canadá, disse em um comunicado que ''apóia a ação deles, por julgar que ela está de acordo com suas proteções legais e segurança, uma vez que eles estão dispostos a testemunhar sobre o que aconteceu, a partir dos Estados Unidos, o que também está de acordo com a lei brasileira''.
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