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Cidades/Geral
Sexta - 24 de Agosto de 2007 às 10:02
Por: Adeildo Lucena

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O episódio envolvendo a servidora da Secretaria Estadual de Meio Ambiente (Sema), acusada injustamente de pertencer a uma quadrilha que atuava no desmatamento de área no Parque Nacional do Xingu, nos remete a algumas indagações sobre o assunto. Como estarão seus filhos hoje, todos pequenos? Qual a sua condição psicológica. Para quem não sabe, esta situação toda acabou levando-a ao hospital Adauto Botelho, em crise, no período de sua prisão. Atestado médico mostra que ela ainda passa por tratamento psiquiátrico. E o sonho de sua profissão? A justiça federal já vem reparando o erro cometido. O Tribunal Regional Federal em Brasília reconheceu que não era de competência da servidora a aprovação de plano de manejo. Mais importante que isso. Reconheceu que o procedimento adotado pela servidora na parte que lhe competia - que era exclusivamente fazer análise digital de imagem de satélite, foi correto. Mesmo assim, ela pediu desligamento do órgão por não ter mais condições psicológicas para permanecer ali.

Mas não é este o objetivo deste artigo. Não quero abordar isso até porque a justiça já o fez. Acredito no bom senso da Procuradoria da República e da Justiça de Mato grosso em corroborar tudo isso.

Quero entrar aqui no lado humano. Fico aqui, com meus mais de 70 anos de vida, fazendo perguntas para mim mesmo. Para algumas, encontro respostas. Para outras, não, mas não importa, o que vale é o exercício da filosofia.

Conheço a família de Célia. Gente simples, trabalhadora. Vive há mais de 20 anos em Cuiabá. Três filhos cuiabanos. Mora há quase 20 anos no mesmo local. Um apartamento de Cohab. Carro financiado. Gente humilde. E pelas funções que já ocuparam e ocupam, poderiam estar em outra situação financeira. Todos que os conhecem sabem disso.

Mas tenho conversado com eles e tenho aprendido muito – a gente sempre está aprendendo alguma coisa. Sei, até onde alcança o raio dos meus conhecimentos, que apesar de toda a dor provocada pelo episódio, não existe neles mágoa, rancor, sentimento de vingança ou coisa parecida. Sei que desde que estourou esta situação toda a família se uniu mais e vem buscando uma única coisa que realmente preenche a alma e alimenta o coração: a ajuda espiritual.

Quero dizer para Célia e sua família que o caminho é este mesmo. A justiça na terra é ambígua, complicada, tem nuances que muitas vezes não entendemos, mas na justiça divina não tem nada disso. Ela é limpa como as águas de uma fonte de água mineral. Simples como o sorriso de uma criança. Certa como o sol que brilha todos os dias há milhões de anos.

Não tenho dúvida que muitos episódios ocorrem na vida da gente por motivos que aqui na terra não entendemos, mas que lá em cima tem um objetivo claro. No caso da família de Célia, se ela me permite, vejo algumas coisas muito claras. Há um sentimento de apoio irrestrito. Basta ver a mobilização inédita que ocorreu na Sema por ocasião da sua detenção. Jamais existira algo parecido. Muito menos para defender uma servidora comissionada.

Se isso ocorreu, foi porque existe uma força motriz superior, que coordena tudo o que existe aqui. Nós, seres aqui instalados, seja na imprensa, na justiça, no executivo, no legislativo e outras instâncias de poder, somos subordinados a esta ordem superior. Sei que você e sua família descobriram isso agora, na dor. E sei que vocês estão agradecidos por isso. Confesso que também estou aprendendo muito com tudo isso. Aprendi que a humildade ainda é o melhor remédio para a dor. Que a verdade é o único caminho para a paz interior. E que acima de todos nós há uma ordem vigente. Não adianta tentar barrá-la.

Aprendi também que a vida aqui é muito passageira. E que precisamos encará-la como umas férias, uma passagem rápida que serve para que nos aperfeiçoemos. Ah, o aprendizado. Como é bom estar sempre pronto para recebê-lo. Montaigne diz que “filosofar é aprender a morrer”. Que filosofemos, então.

*Adeildo Lucena é jornalista.





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