Biocombustíveis ou “gasolina” da morte?
O próprio significado da palavra diz tudo: Bio significa vida, portanto, a utilização deste termo como prefixo do nome dado aos combustíveis produzidos a partir de produtos agropecuários gera controvérsias, pois, ao relacioná-lo com a vida, tenta-se justificar que a sua utilização reduziria a emissão de GEE (Gases de Efeito Estufa), reduzindo o avanço do “aquecimento global”, assim contribuindo com a preservação dos ecossistemas que ora estão ameaçados de desequilíbrio.
A verdade é que o que se busca com os agrocombustíveis é a perpetuação da lucrativa indústria automobilística, petroquímica e agroquímica, nos moldes capitalistas de destruição da biodiversidade e do próprio homem. Em que pese a propaganda da UE (União Européia) e os EUA (Estados Unidos da América) em relação a este tipo de combustível nos fazer acreditar que diminuiriam de maneira significativa o efeito estufa do planeta, sendo que no processo produtivo desta “gasolina” aumentará profundamente a destruição da biodiversidade, observa-se que, para aumentar a produção dos agrocombustíveis, é inevitável o aumento da fronteira agrícola, da devastação das florestas, da extinção de vidas indígenas e camponesas, e até a morte de milhares de trabalhadores rurais.
Milhares de alqueires de florestas e cerrados com uma rica biodiversidade transformar-se-ão em monoculturas. Quantos tipos de vidas serão extintas ao desmatar? Quantas toneladas de agrotóxicos serão despejadas nos rios para combater as “pragas” das lavouras? De quanto será os lucros das multinacionais das sementes transgênicas? Quantas toneladas de fumaça serão despejadas ao ar no processo de colheita e transformação da cana-de-açúcar? Ou quantos litros de combustíveis serão queimados pelas máquinas?
Com tudo isso, seria melhor usar o termo que Frei Betto deu aos agrocombustíveis: “NECROCOMBUSTÍVEIS”.
A palavra biocombustíveis está sendo empregada mais como um termo propagandista, pois esta palavra soa melhor aos ouvidos. Logo, qualquer pessoa o associa a produtos biológicos ou orgânicos, dando-lhe uma conotação positiva.
No entanto, com o aumento dos agrocombustíveis a única coisa que não está em discussão é justamente o desaquecimento global, porque, do contrário, estariam as grandes potências (EU e EUA) discutindo novas formas de transportes, diminuição da frota de automóveis no mundo, melhoria nos transportes públicos de massa, substituição de transportes terrestres rodoviários por ferroviários ou fluviais (sob estudos de impactos ambientais). Enfim, há ainda uma inúmera lista de alternativas para aliviar os efeitos do “aquecimento global” provocado pela ação humana, questionada por Andrew Marshall, estudante da Universidade Simon Fraser de Vancouver- Canadá.
Seus estudos demonstram que outros planetas também sofrem aquecimento por causa do aumento das tempestades solares. O aquecimento do planeta está acontecendo por fenômenos naturais, e não por ação humana, segundo este estudioso, o que está havendo é utilização deste fato para “faturar”, pois em capitalismo qualquer evento se transforma em lucro.
Outro problema com o avanço dos agrocombustíveis é a diminuição da produção de alimentos, num modo de produção onde se prioriza a ganância, com certeza, os capitalistas e latifundiários não terão dúvidas em substituir suas monoculturas de alimentos por monoculturas para a produção de agrocombustíveis. Como conseqüência, teremos encarecimento dos alimentos, só por satisfazer ímpeto consumista norte-americano e europeu.
(*) CARLOS VEGGI ATALA é militante do PC do B de Mato Grosso. E-mail: carlosveggi@hotmail.com
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