Dois anos depois, banco de talentos do Enem continua no projeto
Com a iniciativa, muitos jovens como Domenica Cristina de Paula, 20, poderiam ser beneficiados. Este ano, a garota que mora no Itaim Paulista, Zona Leste de São Paulo, presta o Enem para tentar uma bolsa no Programa Universidade para Todos (ProUni), ou melhorar a nota em vestibulares de instituições públicas.
“Estou procurando emprego, e saio para isso sempre que tenho dinheiro. Estou correndo atrás, mas está difícil, porque alguns trabalhos pedem cursos, pedem experiência, outros pedem faculdade”, diz Domenica. Se o projeto estivesse funcionando, a jovem colocaria suas notas para serem consultadas por empresas, “mas só se fossem boas”.
Ela já tentou colocar cadastro em sites de emprego, mas não teve muito sucesso. A diferença de um site de emprego particular e de uma iniciativa do MEC é a credibilidade dos dados do Enem – pois não é possível mentir sobre a nota da prova - e a facilidade de acesso para os estudantes, já que muitos sites de emprego cobram a inclusão do currículo.
“Pode ser muito útil um programa desse tipo. É função pública o combate ao desemprego. Ainda existe um abismo entre quem procura emprego e quem oferece. Então, uma rede de informações de um órgão sério desses, pode ajudar”, afirma a professora da USP, Ana Cristina Limongi, especialista em recursos humanos.
A pesquisadora da Ação Educativa, Maria Carla Corrochano, que estuda a relação do jovem com o mundo do trabalho, entende que a iniciativa poderia ajudar quem faz o Enem. “Uma das grandes dificuldades do jovem é essa de aproximação com as vagas de trabalho. Seria importante que o MEC fizesse um debate público sobre esse projeto, ouvir jovens, instituições, levar a proposta à sociedade”, diz.
Como é o projeto
Quando o banco de talentos foi lançado, o MEC informou que o banco de dados reuniria dados sobre o desempenho dos estudantes em cada uma das cinco "competências" avaliadas pelo Enem. São elas: dominar linguagens, como o português e a matemática; compreender fenômenos científicos e naturais; enfrentar e resolver problemas; construir argumentações; e elaborar propostas de intervenção na sociedade.
No banco de dados, o candidato que quisesse deixaria essas informações disponíveis a empresas que se cadastrassem para ter acesso às informações. O resultado seria um gigantesco banco de dados público.
Em setembro de 2005, o ministro Fernando Haddad anunciou o projeto assim: “Percebemos a atração das empresas em relação aos jovens que entraram no ensino superior pelo ProUni, que são de baixa renda e conseguiram vencer o desafio de entrar numa universidade”. No site do MEC ainda há uma notícia com o anúncio e, de acordo com o texto, o projeto deveria ter sido implementado até o fim de 2005.
O programa seria implantado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeiras (Inep), que realiza o exame. O G1 entrou em contato com a assessoria de imprensa na terça-feira (21) para saber por que o banco de talentos não avançou. A assessoria respondeu apenas que não tem informações sobre o projeto e que o coordenador do Enem, Dorivan Ferreira, não foi localizado para comentar. A assessoria de imprensa ligada ao ministro repassou as responsabilidades ao Inep.
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