Uma conversa com Delfim Neto e Fritjof Capra
É claro que Capra, um físico austríaco, autor dos livros “O Ponto de Mutação” e “O Tao da Física” não compreende a linguagem econômica tanto quanto Delfim. O “gordo”, como é chamado o ex-ministro brasileiro, é um profundo conhecedor de economia, sobretudo a linguagem econometrica, mas sua erudição serve muito para lhe gerar respeito acadêmico, não pra mudar a vida das pessoas para melhor. Ou, para ser justo, não para mudar a vida da grande maioria das pessoas para melhor.
Delfim, um personagem fundamental na história econômica e política brasileira nos últimos cinqüenta anos, gosta de criticar a condução de políticas econômicas. Critica todas, exceto a sua própria. Mas, no fundo ele quer, como diz Kleber Lima “mudar o resultado das coisas, fazendo o que fazia antes”, ou seja, para Delfim, o importante é que a propriedade privada seja sempre preservada e valorizada, um “dogma” do capitalismo, e para isso, sua teoria econômica obedece à lógica do capital. E o povo nesta lógica? Ah, o povo é um detalhe.
Capra fala em subverter essa ordem. Em sua linguagem, que não pode ser chamada de marxista, tampouco socialista, o povo, assim como o meio ambiente é primordial. Para materializar este conceito, Capra se esforça em discutir teorias que versem sobre um novo ambiente de negócios, aquele chamado de “ganha-ganha”, com os valores vistos de uma forma vertical, ou seja, onde o homem é tão importante quanto a natureza.
Delfim, quando é conveniente, insiste na “mão invisível”, ou seja, que o mercado é que deve estabelecer suas regras e que a dinâmica de uma economia não precisa da intervenção estatal. Mas quando a conveniência é outra, ele prega a intervenção estatal, sobretudo para proteger interesses privados. É a dupla seletividade dos discursos de Delfim Neto.
Assim, para Delfim, o Mato Grosso vai crescer, enriquecer e se tornar um grande caso de sucesso. Basta o Estado não atrapalhar. Para Fritjof Capra, Mato Grosso, assim como a Amazônia, precisa ser pensado de forma diferente, com reflexões sobre o limite que o crescimento econômico deve ter para não afetar o meio ambiente e nem para que sirva apenas como uma maquina para produzir e reproduzir desigualdades.
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