Governo quer reduzir desigualdade racial no acesso à internet
Para o secretário, a extensão dos laboratórios de informática às escolas públicas de ensino fundamental até 2010, como prevê o Plano Nacional de Educação, será um meio de iniciar o processo de universalização do acesso. Atualmente, somente as escolas de ensino médio contam com os laboratórios. Assunção afirmou que a instalação de laboratórios em todas as escolas é uma forma de levar a infra-estrutura necessária para oferecer o serviço em vários locais ainda não atendidos.
“Com uma mão se estende a infra-estrutura e com a outra se articulam os projetos em conjunto com todos os atores da sociedade, governos federal, estaduais, municipais, terceiro setor e iniciativa privada”, disse o secretário-adjunto.
“Há projetos de pontos de culturas e telecentros juntos a populações quilombolas, ribeirinhos e populações indígenas. Todos esses projetos são pontuais e têm um impacto numérico pouco expressivo. Para alcançar a maioria pobre do país, precisamos ampliar maciçamente os programas de acesso.”
Para o professor do Núcleo de Estudos Afrobrasileiros da Universidade de Brasília (UnB), Nelson Inocêncio, é necessário discutir as diferenças e criar mais programas com conteúdos que atendam as demandas da população negra.
“Acho importante a universalização do acesso, mas com relação aos conteúdos a gente não pode deixar de conversar sobre diversidade. Até hoje no Brasil quando se fala em educação universalizante os conteúdos são eurocêntricos. Isso não interessa mais”, afirmou Inocêncio.
“As pessoas que pertencem a comunidades descentes de europeus têm referencias. Mas tem pessoas negras que não conhecem o legado africano no Brasil.”
Para o diretor da Casa de Cultura Tainã, uma entidade cultura e social, localizada em Campinas (SP), Antonio Carlos Silva, não basta somente o governo ceder equipamentos para as comunidades, mas é preciso também criar núcleos de informação. “A gente tem que criar núcleos de informação para que essas populações tenham acesso ao conhecimento necessário para se apropriar dessas tecnologias e fazer uso delas para o próprio desenvolvimento.”
Na opinião de Silva, nesses núcleos, a comunidade pode aprender a recuperar um computador danificado, criar um programa de rádio na internet ou um informativo, além de discutir sobre a titulação de terras de quilombolas, desenvolvimento sustentável e identidade cultural.
Silva afirmou ainda que, atualmente, por meio de parcerias com o governo, está sendo ampliado o número de comunidades tradicionais atendidas com o acesso à tecnologia. Entretanto, ele enfatizou a necessidade de garantir a formação necessária para as comunidades.
O diretor da Casa de Cultura Tainã lembrou ainda que atualmente estão instalados 3,5 mil pontos de acesso em comunidades, como de quilombolas, ribeirinhos e indígenas, por meio do projeto Serviço de Atendimento ao Cidadão (Gesac), do Ministério das Comunicações.
“Estamos ampliando um dos nossos projetos com apoio do Ministério das Comunicações. Hoje, estamos em 30 comunidades e está ampliando para umas 80, vamos atingir os estados do Maranhão, Pará, Espírito Santo, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e estamos mais concentrados em São Paulo.”
Pesquisa da Rede de Informação Tecnológica Latino-Americana (Ritla), com base em dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) de 2005, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostra que o acesso dos brasileiros, principalmente pobres e negros, à internet ainda é pequeno.
De acordo com os dados, 28,3% da população branca com 10 anos e mais utilizou a internet nos últimos três meses anteriores à pesquisa do IBGE. Entre os negros, essa porcentagem é de 13,3%. Segundo a pesquisa, entre os 40% da população mais pobre, 5,7% conseguiram acessar a rede, enquanto nos 10% mais ricos esse índice era de 58,7%.
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