90 mil adolescentes já fumam cigarro em MT, diz pesquisa

Em Mato Grosso cerca de 90 mil adolescentes de 14 a 17 anos são fumantes. A maioria deu a primeira tragada na escola, com os amigos, ou por influência da própria família. O agravante é que 90% das pessoas que se tornaram dependentes do cigarro tiveram sua primeira tragada nessa faixa etária, considerada a mais vulnerável da população. As constatações são do pneumologista Clóvis Botelho, que é professor titular da Faculdade de Ciências Médicas e do Curso de Mestrado em Saúde Coletiva da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT).

Os números reforçam uma pesquisa da Santa Casa da Misericórdia do Rio e da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), que revela, na média, o consumo diário iniciado antes dos 18 anos. O levantamento foi realizado a partir de entrevistas com mais de 3 mil pessoas com 14 anos ou mais. Outra constatação: a legislação que proíbe a venda de cigarros para crianças e adolescente não é cumprida, por isso a prevenção do contato com o cigarro é falha no Brasil.

Botelho explica que ainda é comum pais, irmãos mais velhos ou parentes pedirem para a criança ou adolescente acender o cigarro, em algumas situações, principalmente no interior do Estado, os pais pedem para os filhos comprar o produto, vendido em padarias, conveniências de postos de combustíveis, lanchonetes e até supermercados."Começa às vezes como uma brincadeira, mas alguns se tornam dependentes".

O pneumologista alerta para a prevalência do uso também entre as "meninas", em razão da transformação cultural pela qual o país enfrentou nos últimos 20 anos. Ao invés de ficarem apenas dentro de casa, elas hoje são tratadas em pé de igualdade com os meninos e acabam mais expostas ao problema. Por não terem limites muito bem definidos, nessa idade também fica mais fácil da indústria do tabaco influenciar através de material publicitário direto ou subliminar, ou seja, através de inserções indiretas. "Por que será que aquelas mocinhas dos filmes fumam um cigarro atrás do outro?".

A nicotina - um dos componentes do cigarro - é a droga que mais causa dependência. Ele estimula o cérebro a produzir duas substâncias que causam sensação de prazer, que são a serotonina e a dopamina. Se comparada com outras, ela tem um poder de vício muito maior por ser uma droga socialmente aceita. Assim como o álcool, o fumante acaba não percebendo seu grau de dependência, por isso o tratamento é mais difícil.

Aqueles que fumam esporadicamente representam uma parcela significativa que nem entram nas pesquisas, mas também são considerados como fumantes