As autoridades de Bangladesh anunciaram neste domingo (28) a prisão do proprietário do edifício de oito andares que desabou perto da capital Daca na quarta-feira, matando ou ferindo centenas de funcionários do setor têxtil que trabalhavam produzindo roupas de conhecidas marcas ocidentais.
Mohammed Sohel Rana, proprietário do edifício, é suspeito de ter violado as normas de construção vigentes. Segundo a Reuters, ele tentava fugir para a Índia quando foi impedido pelo Batalhão de Elite de Ação Rápida.
"Foi detido e será julgado", disse o vice-ministro do Interior, Shamsul Haque Tuku, em uma coletiva de imprensa, citada pela AFP.
O Rana Plaza, um edifício de oito andares construído ilegalmente em Savar, um subúrbio de Daca, desmoronou deixando pelo menos 367 mortos e mais de 1.200 feridos, segundo o último balanço oficial, ainda provisório.
Desde quarta-feira, mais de 2.400 pessoas foram resgatadas com vida, incluindo quatro durante a noite de sábado.
Ainda segundo a AFP, as autoridades locais também procuram o espanhol David Mayor, diretor-geral da Phantom-Tac, uma empresa formada pela associação em partes iguais da Phantom Apparels (Bangladesh) e da Textile Audit Company (Espanha), cujos ateliês ocupavam mais de 2 mil metros do edifício que desabou, segundo o site da empresa.
No sábado, as autoridades locais já haviam detido dois donos de oficinas têxteis e dois funcionários municipais que asseguraram, um dia antes do acidente, que o imóvel era seguro.
Marcas ocidentais
Neste edifício havia cinco ateliês de confecção que trabalhavam para marcas ocidentais e nos quais havia mais de 3 mil funcionários, segundo a associação das empresas do setor têxtil de Bangladesh.
Apesar das negativas da marca italiana Benetton, foram encontradas camisas com esta etiqueta nas ruínas do edifício.
Camisas azuis com a etiqueta "United Colors of Benetton" foram fotografadas pela AFP no local onde a fabricante New Wave Bottoms, que tem este grupo em sua lista de clientes, estava baseada.
A empresa italiana não respondeu imediatamente ao ser interrogada pela AFP neste domingo, depois de ter afirmado na semana passada que "os indivíduos envolvidos no desabamento da fábrica em Bangladesh não eram fornecedores do Grupo Benetton".
Já a fabricante de baixo custo britânica Primark reconheceu que tinha um fornecedor neste prédio, enquanto a espanhola Mango admitiu que havia feito um pedido de produtos, informando que se tratava da fabricação de amostras.
Entre os escombros do Rana Plaza, a AFP também encontrou roupas com as marcas da linha de moda feminina Cato, cuja sede se encontra nos Estados Unidos.
O grupo Clean Clothes Campaign disse que a marca britânica Bon Marché, a espanhola El Corte Inglés e a Joe Fresh -- uma coleção vendida na rede de supermercados canadense Loblaw"s -- também confirmaram produções recentes.
A Organização Internacional do Trabalho fez na sexta-feira um apelo às autoridades e às organizações empresariais de Bangladesh para que contribuam para criar locais de trabalho seguros.
Revoltas e greve
Trata-se do pior acidente na história industrial de Bangladesh, um país pobre do sul do continente asiático que converteu a confecção têxtil no motor de sua economia.
Esta catástrofe reavivou a polêmica sobre as condições de trabalho neste setor -- que emprega principalmente mulheres que trabalham por menos de US$ 40 por mês para marcas ocidentais -- e provocou a ira dos trabalhadores.
Embora muitas das 4.500 fábricas da indústria têxtil de Bangladesh já estivessem paradas devido às manifestações, os empresários deste setor declararam feriado neste final de semana, e os sindicatos lançaram uma convocação de greve para este domingo, com a finalidade de exigir melhores condições de trabalho.
Na sexta-feira, a polícia precisou enfrentar muitos manifestantes furiosos em Savar, onde o Rana Plaza desmoronou.
Ainda há soterrados
Neste domingo, mais de 100 horas após o desabamento, os socorristas encontraram em meio aos escombros uma mulher com vida, cujos pedidos desesperados de ajuda aumentaram as esperanças de mais milagres.
"Podemos ouvir seus ruídos", afirmou um bombeiro, que disse que a mulher havia se identificado como Sakhina Begum. "Outros três estão em um estado semiconsciente", acrescentou.
Durante a tarde, a luta desta mulher pela sobrevivência depois de mais de quatro dias sob os escombros estava sendo transmitida ao vivo pelos canais de televisão privados, enquanto a operação para libertá-la prosseguia.
Ao redor do local, os familiares e amigos dos desaparecidos continuavam esperando notícias.
O fedor era cada vez mais insuportável. Dezenas de cadáveres, visíveis do exterior, apodreciam em um túmulo de concreto e aço.
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