Fertilidade caiu na América Latina, afirma ONU
Um dos fatos mais relevantes da evolução demográfica na América Latina nos últimos 30 anos é a queda na fertilidade, segundo revelou a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), subordinada à ONU.
"As famílias são cada vez menores na América Latina e no Caribe", apontou a Cepal. O órgão explicou que os casais "optam por ter menos filhos, usam mais anticoncepcionais modernos e, em grupos crescentes, contam com mais educação e bem-estar, o que leva a priorizar seus projetos de vida em detrimento da reprodução".
"Grande parte da redução da fertilidade é atribuída à relação inversa com a modernização", diz o relatório.
Redução desigual
O estudo mostra, no entanto, que a redução ocorreu de forma desigual. Em países como Cuba, Barbados, Porto Rico, Martinica e Trinidad e Tobago, os novos nascimentos não chegam ao nível de substituição (2,1 filhos por mulher). Já na Bolívia, Haiti e Guatemala as mulheres têm cerca de quatro filhos em média.
A Cepal acrescenta que a fertilidade é mais alta entre os grupos pobres, os menos educados e os povos indígenas.
O fator-chave tem sido o uso de métodos anticoncepcionais modernos. Segundo dados de 2000, eles foram responsável por 55% a 70% da redução da fertilidade total na região.
O relatório da Cepal revelou além disso que, apesar da diminuição, "uma gravidez em cada três é não desejada ou inoportuna".
Planejamento familiar
"Se as mulheres tivessem apenas os filhos que desejam, a taxa global de fertilidade de muitos países diminuiria em quase um filho por mulher", avaliou o órgão. O número se relaciona com o uso de métodos de planejamento familiar.
A educação é outro fator relevante. Com maior escolaridade, as mulheres ampliam o seu controle sobre os recursos e a autonomia para tomar decisões. Já as mulheres que não receberam educação formal têm quase o dobro de filhos.
No entanto, nos povos indígenas a alta fecundidade é um traço distintivo. O cenário histórico marcado pela pobreza extrema, baixos níveis de instrução formal e pautas culturais se reflete no comportamento reprodutivo, segundo o documento.
A média de filhos entre as mulheres indígenas do Panamá é de 6,6, contra 2,9 entre as não indígenas. No Equador, os números são de 5,4 e 3, respectivamente.
Menores de 20 anos Segundo a Cepal, o único grupo no qual a fecundidade não diminuiu é entre as menores de 20 anos.
"Das adolescentes da região, 19% têm filhos. O número chega a 25% em El Salvador e na Nicarágua", diz o texto. Neste grupo o uso de anticoncepcionais aumentou, mas "tudo indica que há problemas no uso dos métodos, incorreto ou pouco sistemático".
Segundo a Cepal, a redução da fertilidade tem efeitos positivos a curto e médio prazo. Ela estabiliza a população que demanda sistemas de atenção materna e infantil, além de educação. Com isso, libera recursos para outros projetos de desenvolvimento social e econômico.
Apesar disso, a Cepal prevê que será necessário enfrentar o aumento da gravidez entre adolescentes e gerar políticas de apoio aos setores mais pobres.
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