Europa descarta aumentar importação de carne do Brasil
A Comissão Européia, braço executivo da União Européia (UE), afirmou que o surto de febre aftosa detectado na Grã-Bretanha (que faz parte do Reino Unido e onde estão Escócia, País de Gales e Inglaterra) não beneficiará o Brasil, "mesmo que apareçam novos focos e a doença se alastre por uma área maior".
"Não precisaremos de forma nenhuma aumentar nossas importações. Ainda não sabemos qual é a extensão do problema esta vez, mas mesmo [durante o surto de] 2001, quando a crise foi enorme e quase dez milhões de cabeças de gado foram sacrificadas, os outros países membros [da UE] foram capazes de suprir o mercado deixado aberto pelos ingleses", disse à BBC Brasil um oficial do departamento de Agricultura do Executivo europeu.
A declaração contraria as expectativas de alguns exportadores brasileiros, como os reunidos pelo Sindicato da Indústria de Carnes do Rio Grande do Sul.
Nesta segunda-feira o presidente da instituição, Ronei Lauxen, disse à imprensa que a proibição imposta sobre as exportações de gado britânico em decorrência da febre aftosa poderia aumentar a demanda internacional pela carne brasileira.
Fora de questão
O oficial europeu também garantiu que "está completamente fora de questão" aumentar a cota de 5 mil toneladas de carne bovina que o Brasil atualmente pode exportar à UE com tarifa preferencial de 20%.
Além desse volume, o Brasil ainda exporta 200 mil toneladas com tarifas que podem chegar a 176%, segundo a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne, totalizando 66% da carne consumida pelos europeus.
"Se a cota para tarifa preferencial fosse ampliada, as exportações brasileiras cresceriam muito, porque a aceitação da nossa carne no mercado europeu é muito boa", afirmou André Aranha Corrêa do Lago, ministro da Missão do Brasil para a União Européia.
O diplomata acredita que o embargo à carne britânica também não influenciará no preço do produto.
"A quantidade produzida e exportada pela Grã-Bretanha é muito pequena para desequilibrar o mercado", explicou.
Das 8 milhões de toneladas de carne produzidas anualmente pela UE, apenas 750 mil toneladas são provenientes da Grã Bretanha, das quais 50 mil são exportadas-- 2% para países de fora do bloco europeu.
Precaução
Desde a confirmação do surto de febre aftosa no condado de Surrey, no sul da Inglaterra, a Grã-Bretanha suspendeu as exportações de animais vivos, carne e derivados e sacrificou 160 cabeças de gado.
Também foi estabelecida uma zona de proteção no raio de três quilômetros ao redor da fazenda onde o surto foi detectado, além de uma zona de vigilância de 10 quilômetros, na qual os animais são monitorados.
Outros sete países --Japão, Estados Unidos, Canadá, Rússia, Coréia do Sul, Emirados Árabes e Nova Zelândia-- decretaram embargo sobre a carne britânica.
Nesta terça-feira o porta-voz europeu de Saúde, Philip Tod, disse que a Comissão Européia pretende "regionalizar a situação o mais rápido possível" e "levantar totalmente as restrições (às exportações britânicas) assim que o surto seja totalmente controlado".
Controle
Especialistas do Executivo europeu se reunirão nesta quarta-feira com seus homólogos britânicos para avaliar a situação e a necessidade de novas medidas de controle.
Segundo o ministro Corrêa do Lago, "ninguém comemora uma situação como esta, mas isso lembrará aos europeus que surtos de aftosa não são coisas exclusivas de países subdesenvolvidos, como muitas vezes pode-se chegar a pensar".
"Esse problema pode acontecer até no país mais rico e preparado", acrescentou.
Desde o ano passado produtores irlandeses pressionam Bruxelas por um embargo total da importação da carne brasileira, alegando deficiências no controle da febre aftosa.
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