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Domingo - 28 de Abril de 2013 às 12:28
Por: PRISCILLA VILELA

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Ex-diretor do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), Luiz Antônio Pagot está prestes a retomar seu espaço na política mato-grossense. Afastado do cenário após ter seu nome citado no escândalo da construtora Delta, ele se filia ao PTB nesta segunda-feira e já começa a assumir postura de candidato ao tecer críticas ácidas ao atual governador Silval Barbosa (PMDB). “A gestão dele é sofrível”, diz. 

 
 
Considerado um dos “homens-fortes” do governo Blairo Maggi, Pagot já chegou a se autodenominar um “trator”. Ele começou sua carreira política em 2003, como secretário do governo Maggi, de quem é amigo desde os tempos em que ambos moravam no interior do Paraná. No governo Maggi, atuou como secretário de Infraestrutura, Educação e na Casa Civil. No segundo mandato do presidente Lula, foi convidado a assumir o Dnit. 

 
 
Nesta entrevista ao Diário, concedida em seu escritório em Cuiabá, na última quinta-feira, Pagot enumera ainda as razões que o levaram a aceitar o convite para se filiar ao PTB, partido com o qual tem um histórico familiar. E a revela por que retrocedeu em sua decisão de nunca mais atuar na política partidária. 

 
 
Diário - O senhor vai se filiar nesta segunda-feira ao PTB. As conversas de bastidores dão conta de que será candidato a deputado federal? O que há de verdade nisso? 

 
 
Luiz Antônio Pagot - Recebi um convite do presidente regional do PTB, Chico Galindo, e do presidente nacional, Benito Gama, para me filiar ao PTB, que é um partido das tradições da minha família. Meu avô foi do PTB, meu pai foi do PTB e o primeiro partido na minha vida foi o PTB. Gostei muito da ideia, fiz uma avaliação do partido, da força nacional. É muito bem posicionado em Mato Grosso, é um partido que precisa crescer dentro do Estado e isso me atrai muito. E especificamente nessa questão da candidatura, meu nome está à disposição do partido. Posso disputar para deputado federal sem problemas, desde que eu consiga construir isso. Não posso ser candidato do Pagot, tenho que ser candidato do partido. As pessoas têm que me querer como candidato. Propriamente dentro do partido, há outras pessoas que têm o sonho de ser candidato. Então, tudo será muito conversado, muito democrático. 

 
 
Diário - Quem mais vai com o senhor para o PTB? 

 
 
Pagot - Nesse momento as pessoas que vão comigo para o PTB são amigos, comunitários, gente da base política, pessoas que gostam de política, principalmente da Baixada Cuiabana. Lideranças, microempresários, professores. Não estamos fazendo um início de grandes de filiações simplesmente por eu estar me filiando. Muitos se manifestaram e decidiram me acompanhar. São pessoas desconhecidas, mas que têm liderança. Temos aqui em Mato Grosso pessoas que trabalham na área social, que têm grande liderança e são essas pessoas que vão se filiar comigo. São os anônimos que fazem a diferença e são esses anônimos que vão estar se filiando comigo na terça-feira. 

 
 
Diário - O que o senhor acha de uma eventual candidatura de Eder Moraes ao governo pelo PTB? Muita gente no partido, como o vereador Júlio Pinheiro, tem entusiasmo pela ideia. 

 
 
Pagot - Prefiro não me manifestar sobre isso, porque é uma questão de partido. Tenho que entrar no partido e conversar com as lideranças, ver quais serão as estratégias, como vamos construir. Acho que está muito precoce para se discutir sobre o assunto. 



 
Diário - Mas posicionando o senhor já como filiado, como se manifestaria com uma possível candidatura de Éder Moraes? 

 
 
Pagot - Qual o cenário que vamos enfrentar em 2014? O cenário está definido? Ainda não! O partido hoje pode ser um partido que tem candidato a governador e temos que ver se isso vai ser uma coisa séria ou uma aventura. Estamos em uma época em que não se faz mais aventura. Tem que estar bem composto em um arco de aliança, bem composto com outros partidos. Ninguém lança uma candidatura e fala “ah, eu vou sozinho”. Tem que discutir isso, se é isso que ele quer mesmo. O senhor Eder Moraes é um bom nome como tantos outros. 

 
 
Diário - Após as denúncias da revista Veja – sobre seu suposto envolvimento com a construtora Delta -, o senhor anunciou que estava abandonando a política partidária. Nesta segunda, o senhor se filia ao PTB. O que o fez mudar de opinião? 

 
 
Pagot - Aquele foi um momento muito sofrido, mas graças ao bom Deus a denúncia foi desmentida. Fiz questão de me apresentar às comissões da Câmara e do Senado em 2011. Foram mais de 4 horas no Senado e 6h55 na Câmara. Nos dois, respondi a 210 perguntas e mostrei o quão profícua foi a minha administração e a lisura dos meus atos no Dnit. Quando tive a oportunidade, fui à CPI do Cachoeira para esclarecer o que eles quisessem que fosse esclarecido. O resultado da própria CPI é uma carta de bons antecedentes. Não tem qualquer denúncia ou investigação sobre mim e isso me deixou de alma lavada. Porque quando se é vítima de um complô como eu fui, isso fica com resquícios para o resto da vida. Foi muito maléfico. Sou um trabalhador inveterado. Mas nesse momento, por eu estar vendo que Mato Grosso está indo por um caminho com o qual eu não concordo - e eu não quero ser omisso -, vi a oportunidade de, através do PTB, dar uma contribuição para o futuro do Estado, após conversar com amigos e companheiros. Por isso decidi voltar à política, colocar meu conhecimento e expertise, dar minha contribuição para futuro de Mato Grosso. Se tiver condições, estarei à disposição ano que vem; se não tiver, continuo como empresário. 

 
 
Diário - Como está sua relação com o senador Blairo Maggi? 

 
 
Pagot - Muito boa! Meu relacionamento com Blairo Maggi vai muito além da política - é fraternal. Não só com ele, mas com sua família. 

 
 
Diário - O escândalo da Delta, que teve enlaces com membros do PR, não afetou em nada o relacionamento do senhor e o senador? 

 
 
Pagot - Com senador Blairo Maggi não teve nenhum problema, nenhuma queixa. Agora, contra algumas figuras do PR que fizeram parte do complô é uma coisa que me dói muito. Não só como partidário, como cidadão. Trabalhei muito para que o PR pudesse se reestruturar, para que fizesse uma boa campanha nacional, tivesse bons quadros. E na verdade, algumas figuras “esquisitas” do partido participaram do complô que me tirou do Dnit e me fez tanto mal. Não gosto nem de mencionar os nomes. 

 
 
Diário - O senhor acredita que Blairo Maggi será candidato ao governo em 2014? 

 
 
Pagot - Não sei! Fala-se em muitas candidaturas para 2014, mas de fato ainda não há nada definido. 

 
 
Diário – Qual é o perfil de alguém capaz de governar Mato Grosso a partir de 2014, em sua opinião? 

 
 
Pagot - O próximo governador vai ter que ter uma grande capacidade de trabalho, liderança, uma equipe profissional. Mato Grosso vai atravessar um momento de administração bastante difícil. Esse governo que aí está vai deixar o Estado com um endividamento alto, uma folha de pagamento praticamente inadministrável. O Estado está indo para além dos limites da responsabilidade fiscal. O custeio da maquina está altíssimo e terceirizamos praticamente todas as áreas, Saúde, Educação, o que representa um altíssimo custeio. O gestor, além de ter uma ótima capacidade de gestão, vai ter que olhar para o futuro do Estado, um Mato Grosso que precisa de investimentos em ciência e tecnologia, em turismo, que tem que resgatar o setor madeireiro, mineral... O próximo governador precisará observar vários setores que estão à margem do desenvolvimento: várias regiões que estão à margem. 

 
 
Diário - Embora não tenha atuado diretamente na campanha de Mauro Mendes para a prefeitura de Cuiabá, o senhor declarou e pediu voto para ele. Mauro tem sido o prefeito que o senhor esperava? 

 
 
Pagot - Todo início de administração, principalmente uma administração ousada, que pretende fazer o Mauro, tem suas dificuldades. Eu me lembro quando Blairo Maggi assumiu o governo em 2003. Os primeiros seis meses também foram difíceis. Acredito que o Mauro está trilhando nessa reorganização. E, ainda, para completar, ele pega uma cidade que está impactada pelas obras da Copa do Mundo, tanto as obras estruturantes, diretamente ligadas às obras da Copa, como as de mobilidade urbana. Com isso fica muito mais difícil de administrar a cidade, esburacada, com transito caótico. Mas temos que dar um voto de confiança. Tenho certeza de que a partir de setembro a administração dele deslancha e vai deixar um legado, não só para os cuiabanos, mas para os mato-grossenses. 

 
 
Diário - Qual é a avaliação que o senhor faz da administração do governador Silval Barbosa? 

 
 
Pagot – Olha, eu considero o governo Silval Barbosa sofrível. Porque ele faz uma administração que vai deixar o Estado com alto endividamento. Tirando o MT Integrado, que são investimentos importantes para todo o Mato Grosso, os demais investimentos são muito localizados, de altíssimo custo, que não consigo enxergar o alcance do custo-benefício. Quando vai se fazer um investimento em uma região ou na capital, tem-se que se avaliar o custo-benefício. Vou fazer um VLT e isso vai consumir R$ 1,5 bilhão, vai endividar o Estado por muitos anos, vai precisar de manutenção. Quem vai subsidiar isso? Vai ser uma conta muito pesada tanto para o Estado quanto para os municípios. Temos uma lista de outras obras que, olhando pelo custo-benefício, seriam muito mais importantes para Cuiabá e Várzea Grande que simplesmente confinar toda essa quantia de dinheiro num VLT. Mas a administração está fazendo esse passo e o resultado é que o povo de Mato Grosso, nos próximos anos, se prepare para ouvir falar muito dessa questão da dívida, que vai ficar lançada para o povo. Outro detalhe: o custeio da máquina está descontrolado, ao ponto de fornecedores e empreiteiras que prestam serviço ao Estado estarem com contas atrasadas. Elas prestam serviço e não recebem no prazo. O Silval está com problema sério de administração. Não sei se é a maneira como ele repartiu o Estado, passando um pedaço para o PT, outro para PSD e outro para PMDB - aliás, o maior lote para o PMDB. Não sei se esse modelo de gestão descontrolou o custeio. Nesse momento, ele está compondo o caixa da Conta Única, inclusive com fundos, o que na minha visão é ilegal. Fundos têm outra finalidade. Isso demonstra um descontrole muito grande na administração. 

 
 
Diário - Nos últimos dias, muito tem se falado em gargalo logístico em Mato Grosso. Por falta de capacidade para transportar a soja até os portos, o Estado tem perdido muito dinheiro. Como ex-diretor-geral do Dnit, o senhor sabe dizer por que chegamos neste ponto? 

 
 
Pagot - É importante que a sociedade civil organizada, governo do Estado e prefeituras ao longo do eixo estruturante da Ferronorte se preparem para discutir isso, porque é imprescindível e necessário que nós tenhamos essa ferrovia Rondonópolis/Cuiabá/Santarém, como também precisamos que o governo federal imediatamente licite a Fico (Ferrovia de Integração do Centro-Oeste), que vai de Lucas do Rio Verde até Uruguaçu (Goiás), uma leste-oeste. O governo já tem o projeto pronto, vemos que ele pode licenciar este ano e aí licenciando Açailandia (MA) até Barcarena (PA), nos teríamos acesso ao grande porto de Bacarena, saindo do médio norte do Araguaia e subindo pela Ferronorte sul até Barcarena. Em até oito anos imagino que estas ferrovias estejam implantadas. São ferrovias que são imprescindíveis para Mato Grosso, porque Mato Grosso cresce na produção, a fronteira agrícola avança e com advento da implantação da BR-163, que fica pronta em 2014, quem estava na região norte, praticamente, não podia plantar, porque os custos eram inviabilizados. Agora o produtor que estiver nessa região vai ter um custo muito menor para levar para o porto do que quem está em Nova Mutum, por exemplo. 

 
 
Diário - Na época em que dirigia o Dnit, o senhor já criticava a obra do VLT em Cuiabá por entender que, com o valor de R$ 1,2 bilhão era possível fazer uma grande readequação viária na cidade. Faça uma avaliação do andamento das obras. 

 
 
Pagot - Eu vejo que também o andamento das obras está sofrível. Estão falando em colocar terceiro turno, estão substituindo as empreiteiras que estavam fazendo corpo mole, as que estavam quebradas e que já foram contratadas quebradas... Agora, parece que estão substituindo por empreiteiras que vão dar conta do recado. As obras têm que ser implantadas com engenharia de tráfego e nossas obras não foram instaladas com essa visão. Há muitas obras que isolam, tomam completamente as avenidas, quando se poderia ter pequenos desvios, aterros e permitir que tivesse um escoamento mais rápido. Nada disso me parece que foi pensando. Então, eu vejo que essas obras foram conduzidas de maneira “atabaolhada”. Você poderia ter toda uma dedicação dessa engenharia de tráfego que causaria menos sofrimento para a população. Novas pistas, novos acessos, integração de avenidas, e pensar no grande fluxo da população. Nada disso foi pensado. Esse dinheiro poderia ser maximizado, poderia ser utilizado para múltiplas obras. Eu estava ainda no Dnit quando me posicionei sobre isso e simplesmente não quiseram discutir. Atropelaram o processo democrático e a discussão.





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