Após auge em 2003, criação de camarão declina no país
Em apenas três anos, as exportações caíram de US$ 244,5 milhões em 2003, com 61 mil toneladas do crustáceo, para US$ 154,4 milhões e 34 mil toneladas no ano passado --queda de 37% em valor.
De um lado, produtores culpam a política cambial, que supervalorizou o real diante do dólar e tornou desigual a competição com outros países, como os asiáticos e o Equador. De outro, ambientalistas alegam que doenças causadas pelo descuido dos carcinicultores com o ambiente afetaram a produção.
Uma das maiores empresas do setor no país, a Compescal, de Aracati (CE), chegou a faturar mais de US$ 22 milhões em um ano. O dono da empresa, Expedito Ferreira da Costa (PP), foi eleito prefeito da cidade em 2004.
Com a crise, a empresa desativou metade dos 219 viveiros de sua sede, que ocupam 620 hectares de espelho d'água --área equivalente a cerca de 870 campos de futebol--, e demitiu 1.200 funcionários. Também não exporta mais. A produção restante será voltada ao mercado interno.
Segundo Rodrigo Carvalho, da ABCC (Associação Brasileira dos Criadores de Camarão), o setor está agonizando porque era todo voltado para a exportação. "É muito diferente você ter em sua empresa só uma pessoa para tratar com seis, sete clientes internacionais, que fazem grandes compras, do que ter uma equipe para tratar de um leque muito maior no mercado nacional, e que compra em volume menor."
Para o presidente da ABCC, Itamar Rocha, o produto vai ter de mudar para ser aceito no Brasil. "O consumidor quer facilidade, embalagem fácil, com pouco conteúdo. Não os pacotões de quilos que despachamos para o exterior", afirmou.
A ABCC, segundo ele, já estudou 30 produtos diferentes de camarão para o mercado brasileiro, mas ainda não tem data para colocá-los em prática. Também existe a idéia de certificar a produção, como garantia de qualidade.
Viroses
Além da variação do câmbio, que encareceu o produto no exterior, outro problema que afetou a produção foi a incidência de viroses que causaram grande mortandade nas criações.
A Compescal, por exemplo, criava 80 camarões por m2, em uma época em que a sobrevivência dos crustáceos, animais frágeis, chegava a 75%. Com as viroses, começou a restar somente 30% da criação.
"Agora, diminuímos para 25 animais por m2 e despovoamos metade dos viveiros. Vamos aguardar o resultado do povoamento para ver o que faremos", disse Adalmir Costa, diretor administrativo da empresa.
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