Com caos aéreo, empresas de ônibus tentam recuperar cliente
Quem ainda continuou com o ônibus diminuiu as viagens, levando o setor a cortar 74% das saídas em 2005 em comparação a 1999. Agora, as rodoviárias querem aproveitar a brecha aberta pela crise aérea para diminuir as perdas.
A Folha consultou as companhias de ônibus que operam entre as cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba e Belo Horizonte. Todas planejam sofisticar ainda mais o atendimento --tanto na rodoviária como dentro dos veículos-- para fidelizar os passageiros que tiveram de trocar os aeroportos por essas rotas, batizadas informalmente de "ponte aérea do asfalto".
Além de dar acesso gratuito à internet nas salas VIP das rodoviárias, três das companhias irão oferecer conexão à rede no ônibus. O objetivo é permitir que o executivo trabalhe durante o trajeto, segundo o diretor de uma empresa que lançará o serviço em duas semanas.
As grandes do setor estudam ainda a veiculação de uma campanha publicitária coordenada pela Abrati (Associação Brasileira das Empresas de Transporte Terrestre de Passageiros) para salientar suas vantagens em relação aos aviões nos percursos de até 600 km.
Mas três delas --Auto Viação 1001, Viação Cometa e Viação Itapemirim-- não querem esperar mais que uma semana pela decisão. "Se as outras empresas demorarem, vamos fazer a nossa própria campanha", diz Eduardo José Baptista Abrahão, gerente da Cometa.
Para Carlos Lacerda, diretor comercial da 1001 --parceira da Cometa na linha Rio-São Paulo--, as empresas vão mostrar aos seus passageiros em potencial que, na ponta do lápis, vale a pena viajar de ônibus nos destinos que duram até oito horas. "Em média, é esse o tempo de espera por um vôo nos aeroportos", afirma o executivo.
Não por acaso, as principais companhias estão se organizando para que os veículos tipo executivo e leito -equipados com poltronas que reclinam mais e oferecem mais conforto- estejam disponíveis nos horários de maior freqüência.
A reviravolta nas empresas de ônibus ocorreu na semana passada, quando elas tiveram de dobrar o número de carros para dar conta de um aumento de 40% na procura por passagens nas rodoviárias.
"Tivemos de colocar nossa frota reserva nas estradas", diz Abrahão, gerente da Cometa.
Na 1001, os carros executivos e leitos só pararam para manutenção de rotina entre viagens. "A procura aumentou cerca de 30% só na semana passada", afirma Lacerda. Na Itapemirim, o aumento ficou em torno de 40%. "Os carros de luxo estão todos em operação", afirma o superintendente Ronaldo Fassarella.
A taxa de ocupação também foi histórica. Segundo Sérgio Augusto de Almeida Braga, presidente da Abrati, os ônibus saíram com mais de 80% das poltronas ocupadas. "É um índice que não se via há anos", afirma Braga.
Avião contra ônibus
Desde que as companhias aéreas deram início à disputa tarifária, a ocupação média dos ônibus despencou de 60% para 40%. É o que diz o analista José Luiz de Paiva Mota, da Êxitus Consultoria Empresarial. O problema é que, para pagar os custos da viagem, um ônibus precisa ter pelo menos 56% de sua lotação ocupada.
"Se as empresas souberem aproveitar o momento atual, poderão recuperar uma parcela dos passageiros perdidos."
As chances são reais. Embora boa parte dos executivos pense duas vezes antes de ir a uma rodoviária, eles estão sendo obrigados a se deslocar pelas estradas. "Não há outra forma de cumprir os compromissos agendados", diz Alexandre Campos, diretor da empresa de tecnologia Dimension Data.
Na última terça-feira, Campos teve de tomar um ônibus para viajar de Curitiba a São Paulo. "Outros dois executivos da nossa companhia também estão usando ônibus em viagens que duram até seis horas", afirma.
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