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Nacional
Quinta - 26 de Julho de 2007 às 16:55

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O cheiro de queimado que se espalhou por quilômetros na região do aeroporto de Congonhas na semana passada, após o acidente com o Airbus A320 da TAM, ainda era forte nesta quinta-feira dentro do prédio da empresa destruído pelo avião, que explodiu com 187 pessoas a bordo.

Alguns dos jornalistas que visitaram pela primeira vez os escombros do edifício da TAM Express, de onde saíram dez sobreviventes da tragédia, tossiam em meio a fios suspensos, barras de ferro retorcidas, papéis e pedaços de concreto, que mantinham o odor irritante para os narizes mais sensíveis.

Nos prédios frontal e direito do complexo de cargas da companhia aérea, liberados para a imprensa pela Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, a água se espalhava pelo estacionamento e no chão dos dois primeiros andares da construção, mas sem risco de choques, segundo os bombeiros, que seguiam trabalhando no edifício esquerdo da TAM Express.

Ali foi encontrada a maior parte da aeronave, que tentou pousar na pista de Congonhas na noite do dia 17, não conseguiu frear e, depois de sobrevoar 40 metros da avenida Washington Luis na hora do rush, colidiu a 175 quilômetros por hora com o prédio e com um posto de gasolina vizinho.

"Esses locais visitados são os menos afetados e mesmo assim a destruição foi grande. Na parte superior, que serviu de acesso para o prédio esquerdo, sobrou ainda menos. Do lado esquerdo, só bombeiros experientes podem entrar", disse a jornalistas o capitão Mauro Lopes, porta-voz da corporação.

Entre galões de água vazios, pacotes que não foram entregues e objetos deixados por funcionários que saíram do local às pressas, um buraco de cerca de quatro metros de largura na parede direita do edifício permitia a visão da pista de Congonhas, ainda interditada.

Enquanto os jornalistas se movimentavam pelo prédio, às vezes escapando dos guias da visita monitorada, um bombeiro repetia: "Êta, pessoal intrometido", balançando a cabeça. A coragem só diminuía ao som dos pedaços de escombros que caíam esporadicamente.

CORES E BARULHOS DA TRAGÉDIA

Nos corredores, assim como no piso superior, predominavam o cinza do cimento destroçado e o vermelho, cor da companhia aérea. Carpetes, escadas e logotipos da empresa dividem espaço com pequenos pedaços de escombros. As maiores seguiam no edifício esquerdo, onde duas lajes pressionavam os bombeiros a fazer buscas em um espaço de 60 centímetros de largura.

Diante dos guichês de atendimento no primeiro andar, só sobraram inteiros os vasos de plantas, ocasionalmente regados por goteiras, e um quadro no qual o falecido comandante Rolim Amaro, fundador da empresa, professa os chamados "sete mandamentos de sucesso".

O primeiro deles é "nada substitui o lucro". O terceiro escreve "mais importante que o cliente é a segurança". A ordem dos mandamentos, colados à parede do prédio da TAM Express, já tinha criado confusão na quarta-feira no depoimento de um representante da empresa na CPI da Crise Aérea, em Brasília.

Depois de dez dias de trabalho na busca por sobreviventes e retirada de corpos do local, os bombeiros finalmente faziam a limpeza final nos escombros em busca de pertences das vítimas, expulsando com pés e mãos os destroços menores do cenário da colisão. A cabine foi removida na madrugada.

Atrás do edifício da TAM Express, uma tenda dos bombeiros é rodeada por cadeiras brancas e sujas de preto. Já acostumados com o cheiro de queimado, os barulhos de pedras caindo e o trabalho pesado, nenhum deles tosse. Tomam café, comem maçãs e têm suas conversas do dia-a-dia.

"Só não pode fumar. Mas a gente sai de vez em quando e resolve", disse um bombeiro na padaria, perto do local do acidente, enquanto assistia à final do futebol feminino nos Jogos Pan-Americanos, em que o Brasil conquistou o ouro sobre os Estados Unidos.

"Dava para ver um pouco do jogo no nosso caminhão-base durante o almoço. Eu preferi relaxar um pouco, porque ficar ali é muito cansativo", admitiu.




Fonte: Reuters

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