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Internacional
Segunda - 23 de Julho de 2007 às 12:56

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HAVANA - Um ano após a cirurgia intestinal de emergência que o obrigou a se afastar do poder pela primeira vez desde a revolução de 1959, Fidel Castro se tornou um prolífico articulista de assuntos mundiais, mas não dá sinais de que voltará ao comando de Cuba.

Última grande personalidade viva da Guerra Fria, Fidel não aparece em público desde 26 de julho de 2006. Desde então, é visto apenas em vídeos e fotos, sempre com um casual agasalho vermelho, em vez da tradicional farda.

De um ano para cá, toda vez que há no calendário uma data importante da revolução surgem especulações de que Fidel reaparecerá - sempre desmentidas pelos fatos.

Embora o governo insista que ele não tem câncer, como disseram algumas autoridades norte-americanas, o regime parece menos otimista do que já esteve a respeito da perspectiva de que Fidel reassuma o poder.

"Enquanto continuarmos a vê-lo em trajes de ginástica - meio que a versão latino-americana de um traje de lazer para aposentados - ele está sinalizando que não vai retomar o leme", disse Julia Sweig, especialista em América Latina no Conselho de Relações Exteriores, de Washington.

Fidel, que completa 81 anos em agosto, talvez nunca mais faça seus longuíssimos discursos. Em vez disso, ele se ocupa escrevendo dezenas de artigos sobre questões globais - já publicou 42 mil palavras na imprensa estatal desde março.

A maioria dos textos ataca o maior inimigo de Fidel, o presidente dos EUA, George W. Bush, por causa da guerra do Iraque ou de sua proposta de promover os biocombustíveis, o que o líder cubano acha que reduzirá o espaço dedicado ao cultivo de alimentos no mundo, agravando a fome nos países pobres.

Alguns temas mais leves também aparecem - como a vitória da seleção feminina de vôlei sobre os EUA na semana passada pelos Jogos Pan-Americanos.

Qualquer que seja o tema, os editoriais são publicados na íntegra pelo Granma, órgão oficial do Partido Comunista, e lidos na TV estatal.

"O sistema unipartidário cubano precisa mantê-lo vivo, mesmo que seja só uma presença virtual, porque ele é um símbolo tão importante e a fonte de legitimidade de seus sucessores", disse o dissidente Manuel Cuesta Morúa.

O próprio Fidel admite que esteve perto da morte há um ano, mas a recuperação vista nos vídeos e os artigos convencem alguns cubanos de que ele já voltou a mandar.

Artigos recentes lidaram com questões internas - em um deles, com duríssimas críticas a um "distinto burocrata" não-identificado, que propusera que o país gastasse combustível enviando delegações a eventos internacionais.

'Rei-Filósofo'

Em sua primeira entrevista a uma TV após adoecer, no mês passado, ele não deu sinais de que pretende voltar a governar. Muitos cubanos acreditam que ele terá apenas um poder de veto sobre as políticas públicas, controlando o ritmo das reformas para abrir a economia do país, controlada em 90 por cento pelo Estado.

"Sua influência continua enorme", disse Sweig.

"Claramente ele agora planeja um papel de estadista veterano, o rei-filósofo refletindo sobre os problemas graves que ameaçam o futuro da raça humana, e o papel dos Estados Unidos - ou ''o Império'' - como fator agravante", afirmou o historiador canadense John Kirk.

Para Sweig, o regime cubano sabe que, sem Fidel à frente, terá de atender a necessidades mais concretas da população. Raúl Castro, irmão mais novo de Fidel e presidente interino de Cuba, já iniciou um debate sobre o que precisa ser consertado, segundo ela.

Um ano depois, porém, os cubanos vêem poucas melhorias nas questões que mais lhes preocupam - salários baixos, comida escassa ou cara, casas deterioradas e transportes deficientes.

Mas nenhuma dessas frustrações trouxe instabilidade, deixando perplexos alguns anticomunistas que previam que o regime cairia se Fidel não estivesse por perto.

Para Cuesta Morúa, os cubanos estão ocupados demais com sua sobrevivência para pensarem em política.

Apesar da lealdade por Fidel demonstrada por muitos, há também apelos disseminados por reformas.

"Eu me desliguei. Não estou interessado em política. O que eu quero é que isto mude", disse Yoandri, 19 anos, carpinteiro de formação que sobrevive vendendo roupas numa rua de Havana.





Fonte: Reuters

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