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Internacional
Sábado - 21 de Julho de 2007 às 13:13
Por: Tradução: Paulo Eduardo Miglia

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Tenho 49 anos. Nasci em Madri e me criei na Califórnia. Estudei aeronáutica na Marinha norte-americana e fui escolhido entre 2,2 mil aspirantes para ser astronauta da Administração Nacional da Aeronáutica e Espaço, para a qual completei a mais longa missão espacial, com 215 dias. Ganho muito menos que um piloto da Ibéria. Separado, tenho um filho de sete anos que não quer ser astronauta. Se você ouvir falar de um trabalho interessante, me avise. A entrevista: P. Como está seu joelho? R. Melhor, obrigado. Acabo de voltar do espaço, em abril, e tenho essa lesão há anos, mas piora a cada vez que passo muito tempo sem gravidade.

P. O espaço é ruim para os ossos? R. Cada mês passado sem gravidade faz perder massa óssea. Para evitar isso, nos exercitamos a bordo, cerca de duas horas e meia por dia. E agora, como você pode ver, já estou em plena recuperação.

P. Parece que você saiu para correr. R. Não, ainda não posso correr. Estou fazendo exercícios na academia do hotel.

P. Por que voltou tão lesionado? R. Porque as articulações acusam as tensões ao voltar do espaço, onde estavam sem gravidade e sem sofrer pressão alguma, quando são de novo submetidas à gravidade terrestre. Esse vai e vem não é nada bom para elas.

P. Para que servem os vôos espaciais? R. Eles satisfazem a inata necessidade humana de explorar, e se isso não parece o bastante, pense no sistema de navegação GPS e nos satélites de telecomunicações que eles tornam possíveis.

P. A conquista do espaço sai cara... R. Eu dediquei a ela toda a minha vida, e não me arrependo.

P. E os políticos cortam recursos. R. A cada vez que falo em público, vejo enorme interesse pela exploração espacial, mas a cada ano nos custa mais arrancar recursos de Washington, onde em teoria esse público é representado, ou seja, em algum momento se perdeu essa conexão entre o povo e seus representantes.

P. O cosmos é o destino turístico definitivo? R. Essa é outra possibilidade para o futuro dos vôos espaciais, e não me parece ruim. A princípio me pareceu pouco sério admitir turistas a bordo da estação espacial, mas ao conhecê-los, mudei minha opinião.

P. Por quê? R. Viajei para o espaço com dois deles, o multimilionário norte-americano de origem húngara Charles Simonyi, criador do Microsoft Office, esse programa que todos usamos...

P. As pessoas o chamam de excêntrico. R. Uma rara figura. E também dividimos o espaço em nossa espaçonave astronave com a empresária norte-americana de origem iraniana Anousha Ansari...

P. Belíssima.

R. Muito competente, encantadora e grande companheira de vôo. Melhorei muito a minha opinião sobre os dois quando vi que, da Estação Espacial Internacional, mantiveram um blog que teve trinta milhões de acessos.

P. Quanto eles pagaram pelo passeio espacial? R. US$ 20 milhões cada um. E voltaram encantados com aquilo que viram e sentiram no espaço: a falta de gravidade, a Terra vista do espaço, o companheirismo a bordo...

P. Você investiria em uma empresa privada de vôos espaciais?

R. Por que não? A exploração comercial das viagens espaciais está hoje no estágio em que a aviação comercial estava nos anos 30: apenas começando a decolar, mas com enormes expectativas de crescimento.

P. Não sei se todo mundo pagaria. R. À medida que se popularizassem os vôos comerciais ao espaço, o preço certamente diminuiria. Não serão tarifas econômicas, num primeiro momento, mas sim como aqueles vôos transatlânticos do passado, que um dia representaram a grande viagem de toda uma vida e hoje se tornaram habituais.

P. Você percebeu as alterações climáticas ao contemplar o planeta do espaço?

R. Claro que sim, especialmente na Antártida, no Himalaia e no Kilimanjaro... Em termos gerais, as tenho observado desde que vi o planeta do espaço pela primeira vez, e até hoje.

P. Vê-se que a Terra é uma coisinha frágil? R. Quando se vê dali, dá para sentir que a nossa casa não é indestrutível.

P. Você tem vontade de voltar lá pra cima?

R. A verdade é que estou replanejando meu futuro muito seriamente... Tenho pensado e acredito que, como astronauta, já fiz tudo que era possível em minha carreira. Já cheguei a comandar a Estação Espacial. E agora talvez possa cogitar outras coisas. Caso isso não envolva a Nasa, talvez seja em outro lugar.

P. Você realmente quer deixar a Nasa? R. Até agora, toda a minha vida foi dedicada ao espaço: 15 anos como astronauta, assumindo em cada viagem mais e mais responsabilidade. Agora, depois desta última missão que comandei, me pergunto se não poderia criar mais valor fora da Nasa...

P. Com certeza devem existir muitas opções.

R. Interesso-me muito por Relações Internacionais, matéria em que me especializei na escola Kennedy da Universidade Harvard: basta pensar que a Estação Espacial Internacional só se tornou possível graças à cooperação com os russos, e trabalhei com eles diretamente.

P. Pensa em voltar para a Espanha? R. Por que não? Também é meu país. Se souber de um emprego interessante, me avise.

P. Além disso, você trabalha muito bem em equipe, uma habilidade crucial no espaço.

R. Em dezembro, durante a missão da nave Discovery, foi trazido um elemento externo para ser acoplado, um painel solar, e esse painel era fundamental para que a construção da estação prosseguisse...

P. A estação já tem uma certa idade. R. Ocorreram problemas, e tivemos que fazer uma quarta saída espacial, que não estava prevista em nosso programa de operações. A equipe de Houston trabalhou muito, mas a coordenação entre a equipe de terra e dos dois astronautas que saíram para o espaço foi exemplar. E nada fácil, como qualquer um que tenha trabalhado na estação sabe.

P. Seu trabalho é bem remunerado? R. ...

P. Quanto você ganha? R. Muito menos que um piloto da Iberia.

P. Quanto gostaria de ganhar? R. Pelo menos tanto quanto um piloto da Iberia




Fonte: La Vanguardia

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