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Internacional
Sábado - 21 de Julho de 2007 às 10:22

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Em meio ao ruído e à escuridão do restaurante "O Escuro Interior da Baleia", em Pequim, as 30 pessoas acomodadas a uma mesa estão começando a se animar. "Mexi na sua cabeça", diz uma voz, em tom de criança travessa. "Quem disse isso?", responde outra voz. O barulho das vozes vindas da escuridão enche o restaurante de mais de 90 lugares, mas ninguém é capaz de ver quem está falando, a não ser os garçons, equipados de sistemas de visão noturna como os usados nas forças armadas.

A nova tendência da culinária conceitual é que os restaurantes apaguem a luz para que os fregueses concentrem sua atenção na comida. A idéia parece ter surgido em Zurique, e desde então gerou diversas permutações em todo o mundo, com fregueses vendados, instalados em salas sem iluminação ou, recentemente, sendo atendidos por garçons equipados com sistemas de visão noturna. A idéia é que a privação de um dos sentidos (a visão) sirva para aguçar os demais.

A escuridão tem outros benefícios. "Os chineses tendem a ser tímidos", disse Chen Long, proprietário do restaurante, inaugurado em janeiro. "As pessoas encontram mais facilidade para quebrar o gelo dessa maneira".

O primeiro restaurante sem iluminação, inaugurado em Zurique em 1999, tinha intenções menos frívolas. O objetivo "era criar empregos para os cegos e deficientes", disse Adrian Schaffner, administrador do Blindekuh, ou Vaca Cega, Projeto da fundação Blind-Liecht, que provê assistência aos deficientes visuais, o Blindekuh tem só funcionários cegos, e serve culinária suíça em um ambiente sem iluminação alguma. O cardápio muda a cada semana, e recentemente incluía vitela grelhada com crosta de ervas e um risoto vegetariano cozido com manjericão e mozarela. (O jantar para dois custa 120 francos suíços, ou cerca de US$ 98). "Temos reservas com semanas e até meses de antecedência", disse Schaffner. De fato, o restaurante abriu uma filial em Basiléia, também na Suíça.

O conceito se expandiu a Paris, Londres, Sydney e outras cidades, oferecendo novas variações nos métodos pelos quais a visão é impedida. Em Los Angeles, o grupo Opaque oferece uma experiência culinária semelhante à do Blindekuh no West Hollywood Hyatt, a cada sexta e sábado. Os garçons são cegos e servem pratos como salmão grelhado e frango desfiado temperado com pesto. O jantar a preço fixo custa entre US$ 99 e US$ 105. E, em Nova York, em Greenwich Village, um grupo chamado Dark Dining Projects realiza jantares mais ou menos uma vez por mês no CamaJe Bistro, onde os fregueses pagam US$ 75 para serem vendados no interior de um pequeno bistrô de paredes vermelhas (não que se possa ver a decoração).

Em Pequim, o "Escuro Interior da Baleia" não tem por objetivo apenas reforçar o senso de paladar, mas reduzir as inibições sociais. É um local popular de encontro para pessoas que se conheceram pela Internet, nos sites de encontros que vêm surgindo em número cada vez maior na China. Os fregueses são recebidos em um vestíbulo com cara de escritório, onde selecionam jantares predefinidos, entre os quais sopa de galinha com shiitake ou camarões fritos. O jantar para dois sai por 225 yuan, ou US$ 29.

Comer no escuro não deixa de ter suas inconveniências. Em lugar de ser servida à moda caseira, a comida já vem disposta no prato. E opções que requerem o uso de apetrechos afiados, como o filé, não constam do cardápio. Quando cada prato chega, o garçom leva sua mão para perto do prato e oferece indicações úteis como "esse prato se come com colher". O formato parece estar funcionando. "As pessoas se sentem mais confortáveis quando ninguém pode vê-las", disse Chen, que vai abrir uma filial em Xangai nos próximos meses. "Os casais podem se conhecer sem que se olhem no rosto".





Fonte: The New York Times

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