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Internacional
Sexta - 20 de Julho de 2007 às 11:51

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O presidente do Comitê de Fiscalização da Câmara dos Deputados norte-americana na quinta-feira acusou a Agência Federal de Administração de Emergências (Fema) de se recusar a reconhecer a presença de teores elevados de formol em trailers que forneceu a refugiados dos furacões que varreram a costa do Golfo do México. Em depoimento na quinta-feira, três pessoas que viveram nesses trailers disseram acreditar que a exposição ao formol, presente em muitos materiais de construção, fosse a causa de diversos problemas de saúde, entre os quais dores de garganta, ardência nos olhos e dificuldades respiratórias.

O administrador da Fema, R. David Paulison, disse ao comitê que "não estava 100% seguro de que fossem os trailers", os causadores dos problemas de saúde dos refugiados. Mas ele acrescentou que, em retrospecto, a agência poderia ter agido mais rápido quando os problemas começaram a ser apontados em alguns dos mais de 120 mil trailers e residências motorizadas fornecidos aos refugiados.

"Não somos especialistas em formol", disse. "Reconhecemos agora que existe um problema. Estamos lidando com ele da melhor maneira possível". O presidente do comitê, deputado Henry Waxman, democrata da Califórnia, disse que cinco mil páginas de documentos divulgados na quinta-feira revelam uma batalha entre as equipes de campo da Fema e os funcionários na sede da organização.

"Eles queriam ignorar o problema", disse Waxman sobre os funcionários da sede. "O que temos é indiferença ao sofrimento de pessoas que já estavam sofrendo devido ao furacão Katrina, e isso vindo de uma agência que supostamente existe para servir o público". Waxman disse que depois que surgiram reportagens sobre a presença de formol nos trailers, em março de 2006, membros das equipes de campo recomendaram ação imediata. Ele mencionou uma resposta enviada por e-mail por um advogado da Fema, segundo o qual "não iniciem testes sem nossa aprovação. Quando vocês obtiverem resultados, o relógio começará a correr com respeito à nossa obrigação de responder a quaisquer problemas".

Os documentos incluem uma troca de e-mails entre funcionários da agência, datados de 27 de junho de 2006, relatando a informação de que uma pessoa havia sido encontrada morta em um trailer no departamento de St. Tammany, Louisiana. Em referência ao uso de ar condicionado, uma mensagem dizia que "não temos resultados de autópsia ainda, mas ele aparentemente havia dito ao vizinho que tinha medo de usar o ar condicionado por medo de agravar o problema do formol".

O funcionário da equipe que escreveu a mensagem recomendava novas investigações, e disse que o departamento jurídico da agência havia informado a um outro funcionário que "não desejava que a Fema testasse para detectar se os níveis de formol de fato representavam risco de segurança".

Mary DeVany, especialista em higiene industrial, testemunhou que não é raro encontrar formol em residências, porque o material é utilizado em produtos de madeira comprimida, como aglomerado e compensado, e em colas e certos materiais de isolamento. DeVany disse que diversas agências públicas, entre as quais a Agência de Proteção Ambiental (EPA) do governo federal, haviam classificado o produto como carcinogênico potencial ou conhecido.

Paul Stewart, de Bay St. Louis, Mississipi, que viveu em um trailer da Fema entre dezembro de 2005 e março de 2006, disse que a agência não havia atendido a queixas quanto às suas suspeitas de que o trailer estava causando problemas à sua saúde, de modo que ele comprou um kit de teste e determinou que a presença de formol era elevada. Quando Stewart reportou os resultados à agência e pediu um trailer novo, ele disse, "a Fema nos tratou como se estivéssemos pedindo esmolas". Ele acrescentou que "para a agência, era como se eu estivesse pedindo por algo melhor".

Lindsay Huckabee, de Kiln, Mississipi, disse que depois de se instalar em uma casa motorizada da Fema em dezembro de 2005, ela, seu marido e seus quatro filhos começaram a exibir sintomas que ela descreve agora como resultantes de exposição ao formol. Visitas a médicos se tornaram ocorrência comum, em sua família.

Huckabee, que estava grávida ao se mudar para o trailer, passou por contrações pré-parto durante três semanas, e teve de reprimi-las com o uso de medicamentos. Mesmo assim seu filho nasceu quatro semanas antes do previsto. Paulison disse que a agência recebeu sua primeira queixa sobre a presença excessiva de formol em março de 2006, seis meses depois da entrega dos primeiros trailers. Ele afirma que, "depois de uma revisão imediata", funcionários da agência substituíram os trailers mencionados na queixa de 19 de março.

Ele afirmou que 58 dos 66,8 mil trailers e residências motorizadas em uso haviam sido substituídos devido à presença excessiva de formol, e que, no caso de cinco outras queixas, os moradores dos trailers haviam sido transferidos a casas alugadas.

No dia anterior à audiência, a Fema anunciou que havia solicitado ao Centro de Controle e Prevenção de Doenças que teste a qualidade de ar nos trailers. O estudo começará na semana que vem. Paulison disse que a Fema havia atualizado suas especificações para a compra de trailers, melhorado o treinamento de seus representantes e pessoal médicos encarregado de responder às queixas e reforçado os esforços para transferir os moradores dos trailers a acomodações mais permanentes.

O deputado Mark Souder, republicano de Indiana, Estado que abriga muitos fabricantes de trailers, se preocupa pelo fato da audiência estar retratando o setor de maneira injusta. "Há problemas pessoais graves", ele disse, "mas fazer, sem prova, o tipo de acusações que ouvi hoje sobre o setor é uma grande irresponsabilidade".




Fonte: The New York Times

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