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Internacional
Domingo - 15 de Julho de 2007 às 12:09

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Nos últimos anos, Barinas, o Estado onde Hugo Chávez nasceu, em 1954, transformou-se num dos principais laboratórios do que o presidente venezuelano vem chamando de socialismo do século 21. Mas, para implantar a sua revolução, ele vem lançando mão de um recurso antigo: empregar a própria família.

Os Chávez são onipresentes neste pequeno Estado agropecuário a oeste do país, batizado de "berço da revolução" pela propaganda oficialista em diversos outdoors espalhados por ruas e rodovias.

A lista começa pelo pai, Hugo de los Reyes Chávez. Professor aposentado do ensino primário, ele é o governador de Barinas desde 1999.

De idade avançada --tem mais de 80 anos--, Chávez pai delega cada vez mais suas funções ao filho Argenis, secretário de Estado, cargo especialmente criado para ele. Com forte influência na política local, é o provável candidato à sucessão do pai, no ano que vem.

Em Barinas, a família tem ainda Adelis, organizador local da Copa América, e Narciso, coordenador regional do convênio médico com Cuba. Na capital venezuelana, outro irmão, Adán, foi nomeado ministro da Educação no início deste ano.

Por fim, a cerca de 50 km da cidade de Barinas, mais um irmão de Chávez, Anibal, é o prefeito do município Alberto Arvelo Torrealba, cuja sede é Sabaneta, cidade onde o presidente nasceu e viveu seus primeiros anos.

Apesar de ter pouco menos de 50 mil habitantes, Sabaneta ainda tem ruas sem pavimento, facilmente inundáveis pelas chuvas, e sofre com um problema histórico no fornecimento de água, que chega às casas com mau cheiro.

Críticas

"Hugo é um homem enviado por Deus e nunca vou traí-lo", diz à Folha "Chicho" Romero, 71, ex-treinador de beisebol com quem Chávez morou em Caracas em meados dos anos 1970, quando era estudante.

"Mas o povo daqui de Sabaneta não quer saber da família, pode fazer uma pesquisa. Não tem açúcar, gás, leite; tem de fazer a mãe das filas para conseguir isso", diz ele, constantemente citado por Chávez em discursos e casado no passado com uma tia do presidente.

As críticas não se resumem a problemas urbanos. O município, administrado há dois anos e meio por Anibal, é a sede do ambicioso projeto de uma grande usina estatal de açúcar, o Caaez (Complexo Agroindustrial Açucareiro Ezequiel Zamora). O objetivo é que a Venezuela pare de importar açúcar e restabeleça o fornecimento regular do produto, ultimamente em falta nas prateleiras.

Orçadas em R$ 160 milhões, as obras estão atrasadas em razão de um escândalo envolvendo um desvio de cerca de R$ 2,8 milhões. As investigações, em andamento, já levaram um general à prisão, mas não envolvem nenhum Chávez. Sem o Caaez, dezenas de pequenos agricultores incentivados a plantar cana estão perdendo toda a sua produção porque não têm a quem vender.

"A central ia ficar pronta em dois anos, já são cinco anos e até agora nada", diz o agricultor cooperado e taxista Juan García, 47, diante de um monte de cana queimada a poucos quilômetros do centro de Sabaneta. Ele diz que, incentivado pelo governo, plantou dez hectares de cana. Agora, espera o perdão do empréstimo de R$ 21 mil que contraiu do Estado.

"Para que nos serve o Chávez ser daqui?", questiona García, filiado ao partido Copei, agremiação opositora de perfil conservador que já teve Chávez pai e Anibal em suas fileiras.

Futebol

As críticas à família presidencial aumentaram ainda mais nas últimas semanas por causa da Copa América. O estádio local, "La Carolina", administrado pelo governo estadual, não foi reformado a tempo, levando a cidade a sediar apenas um jogo da primeira fase.

O esvaziamento frustrou parte do comércio da cidade, sobretudo o setor hoteleiro, que fez investimentos à espera de um maior público.

Além desses problemas, a família Chávez ainda tem de responder a diversos rumores sobre seu suposto enriquecimento. A maior parte das histórias envolve a fazenda da família, "La Chavera". Numa das mais famosas --e nunca comprovada--, Chávez teria destruído com um trator um veículo Hummer recém-adquirido pelo irmão Argenis.

O episódio, supostamente ocorrido no Natal, tem sido negado pela família.

Parte da mitologia se deve à oposição, que ensaia se reestruturar para disputar o pleito do ano que vem depois do boicote nas últimas eleições regionais, o que ampliou ainda mais o domínio chavista.

Na semana passada, durante um evento do recém-fundado partido Um Novo Tempo em Barinas, foram distribuídos panfletos sobre "novas medidas" de Chávez, como a proibição do uso de maquiagem em dias de semana e a limitação de compra de cerveja a uma caixa por mês.





Fonte: Folha De S.Paulo

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