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Internacional
Domingo - 15 de Julho de 2007 às 11:55

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Pesquisa divulgada anteontem revela que a presidente do Chile, Michelle Bachelet, perdeu mais de 20 pontos percentuais de popularidade em apenas 16 meses de governo. O número dos que desaprovam a sua gestão já empata com o dos que aprovam --41% em cada grupo, segundo o trabalho do Centro de Estudos Públicos (CEP).

Apenas 24% dos entrevistados acham que a situação vai melhorar nos próximos 12 meses. Os resultados contrastam com os números do Chile oficial: a economia deve crescer 6% neste ano e o desemprego foi reduzido a 7%. A população abaixo da linha da pobreza foi reduzida a 13%, o menor número da região, sendo que era de 45% há 20 anos.

Ainda assim, no último ano o Chile foi sacudido por greves de estudantes secundaristas e universitários, de profissionais da saúde, mineiros e funcionários públicos. Também houve protestos contra um novo sistema de transporte público na capital que começou de forma atabalhoada.

Por que o mal-estar e o pessimismo no país tido como modelo de crescimento e estabilidade da América Latina? O bolo cresceu e não foi dividido? Ou as manifestações mostram um povo mais exigente?

As duas coisas, respondem vários especialistas chilenos ouvidos pela Folha em seminário realizado na Espanha na semana passada. Uma das mesas debateu a emergência da classe média do Chile.

"Perdemos o medo do conflito, de discordar. Os movimentos sociais já não temem pressionar ou criticar a Concertação [aliança de centro-esquerda no poder desde 1990]", diz a historiadora Lucía Santa Cruz.

"Mas a desigualdade social mantém sua persistência histórica. No Chile, todos enriqueceram e o número de pobres encolheu, mas a diferença entre ricos e pobres persiste", diz. A renda dos 20% mais ricos é treze vezes maior que a dos 20% mais pobres.

Perto da Europa

O PIB do país cresceu em 15 dos últimos 17 anos. A maioria de seus indicadores sociais o deixa mais próximos da Europa que da América Latina: o analfabetismo é de 3%, a mortalidade infantil é de 7,6 por mil nascidos vivos e a expectativa de vida é de 76 anos (no Brasil, o analfabetismo é de 11%, a mortalidade infantil é de 27 por mil, e a expectativa de vida é de 71 anos).

A renda per capita do país, que era menor que a do Brasil em 1980, hoje é 50% maior, de US$ 12.700. "O Chile virou um país onde a classe média é majoritária, logo ficou mais individualista, mais exigente e imediatista", diz o sociólogo Eugenio Tironi, professor da Universidade Católica do Chile.

Ele cita como exemplo a greve dos estudantes secundaristas, que pararam mais de 90% das escolas do país entre maio e junho do ano passado para arrancar mais recursos nacionais à educação. "Os estudantes não querem a revolução, só querem qualidade de ensino para entrar no mercado de trabalho. São totalmente pragmáticos", explica Tironi.

O sociólogo também fala que essa nova sociedade é muito despolitizada. Apenas 16% dos jovens com entre 18 e 24 anos de idade se inscreveram no registro eleitoral.

Tironi acha que os chilenos estão querendo gerentes, não políticos, no comando. O que favoreceria o líder da oposição, candidato derrotado por Bachelet no ano passado, o empresário Sebastián Piñeyra.

Apesar do progresso da transição, da baixa corrupção em comparação com os vizinhos e da criação de dois blocos políticos estáveis, o país não virou um tigre econômico como se previa dez anos atrás. O boom atual se deve mais à alta do preço do cobre, principal produto de exportação do país. Parte da renda é guardada em um fundo para quando seu preço cair.

"Ainda não somos Cingapura ou Coréia do Sul; as empresas tecnológicas do mundo ainda não pensam no Chile na hora de instalar novas indústrias de ponta", diz Tironi.

O antecessor de Bachelet, Ricardo Lagos, também presente ao seminário, disse que só a melhoria da educação e dos investimentos em ciência e tecnologia permitirão que o país alcance um estágio de desenvolvimento mais elevado.

"Nos países desenvolvidos, 3% do PIB é investido em ciência e tecnologia, e dois terços desse dinheiro são privados. Na América Latina, não chegamos a 1%, e dois terços são dinheiro público. Só vamos progredir quando empresariado e universidades caminharem juntos". disse Lagos.





Fonte: Estadão

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