Algodão de MT receberá selo de produção socialmente responsável
O selo vai informar a origem do produto cultivado por empreendedores rurais de Mato Grosso que respeitam a legislação trabalhista e os direitos humanos. "O selo é um instrumento de informação ao comprador da matéria-prima e ao consumidor final, atestando que o algodão foi produzido sem a utilização de mão-de-obra infantil, sem a utilização de mão-de-obra forçada e sem submeter o trabalhador a condições degradantes ou indignas", explica Félix Balaniuc, diretor-executivo do IAS.
Mato Grosso é o principal produtor e exportador de algodão do País, sendo responsável por 49% da produção nacional. Na safra 2004/2005, foram colhidas 6.390 toneladas de plumas, em uma área plantada de 425.000 hectares. Na safra 2006/2007, apesar da queda do dólar, houve expansão de 30% da área plantada, que passou a ser de 550.000 hectares. Atualmente a cotonicultura oferta cerca de 55 mil empregos diretos e 110 mil indiretos.
Em 2004, esses números foram ofuscados pela inclusão de agricultores da região na "lista suja" de trabalho escravo do Ministério de Trabalho e Emprego (MTE). Segundo Balaniuc, essa situação, aliada as barreiras não tarifárias impostas pelo comércio exterior, exigindo a comprovação da origem social da produção do algodão, são as causas primeiras, que motivaram a criação do IAS, em setembro de 2005. A iniciativa é pioneira no agronegócio e é um passo ousado dos próprios produtores, que viram a necessidade de adotar os princípios do desenvolvimento sustentável como forma de permanecer no mercado, aumentar sua competitividade e agregar valor ao produto, que deve ser cultivado com justiça social e respeito ao meio-ambiente.
A partir daí, o Instituto iniciou trabalho de orientação, informação e conscientização junto aos empreendedores rurais sobre a legislação trabalhista e o respeito às normas de segurança e saúde. Esse trabalho é realizado hoje por quatro equipes que, além da orientação, propõem adequações de eventuais irregularidades e verificam o seu cumprimento. Em recente levantamento, o IAS verificou que o percentual de trabalhadores sem carteira assinada não ultrapassa a 2% no estado. "São registrados assim que admitidos todos os trabalhadores, seja pelo período de experiência ou da safra", afirma Balaniuc.
Ele afirmou que a regularidade no cumprimento da lei foi verificada não só no que diz espeito ao registro em carteira, mas também no respeito a jornada legal, condições de vivência dignas, nos recolhimentos de FGTS e INSS, e na adequação das fazendas às normas de segurança da Norma Reguladora 31, do MTE. também, desde 2006, não há novos registros da inclusão de cotonicultores na "lista suja" e os que foram penalizados já foram excluídos.
Para Balaniuc, a adequação da legislação trabalhista às condições e realidade do trabalhador rural irá facilitar o cumprimento da lei. As principais áreas de conflito jurídico do trabalho no campo referem-se à jornada superior à legal, necessária para evitar prejuízos irremediáveis causados pelos longos períodos de seca ou de chuva excessiva; participação do empregado, sem natureza salarial, sobre os lucros, produtividade ou metas da fazenda; a regulamentação especial da terceirização nas atividades mecanizadas, tanto na preparação da terra, como na aplicação de defensivos e na colheita, hoje não admitidas pela fiscalização trabalhista, e a criação de um cadastro nacional de mão-de-obra rural informatizado, disponibilizado pelo SINE, como forma de evitar a figura do "gato" na contratação de mão-de-obra sazonal e proteger o trabalhador e a família dele.
Em breve, propostas neste sentido irão ser levadas ao ministro do Trabalho e Emprego, Carlos Lupi, por uma comissão de trabalho integrada pelo Instituto.
De um total de 400 fazendas associadas, 357 estão sendo acompanhadas pelo IAS e submetidas ao processo de auditorias técnicas especializadas para obtenção do selo de origem. A emissão dependerá, ainda, da avaliação de um comitê independente, do qual fazem parte representantes da ABIT, da ANEA e de uma empresa especializada em Responsabilidade Social.
"O Selo vai colocar o nosso algodão em patamar mais alto de competitividade e permanência no mercado nacional e internacional, além de agregar valor e possibilitar a quebra das barreiras não tarifárias impostas pelos consumidores finais que contam com apoio das ONGs internacionais", disse o executivo.
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