China executa ex-ministro por corrupção
Zheng, de 63 anos, recebeu em 29 de maio a sentença à pena de morte do Tribunal Popular Municipal Intermediário Número 1 de Pequim, que calculou os subornos recebidos em US$ 832 mil (incluindo presentes, o que representa cerca de R$ 1,6 milhão) e o acusou ainda de descumprimento do dever.
É a primeira vez nos últimos três anos que a pena de morte é aplicada a altos dirigentes.
As últimas execuções ocorreram em 2004, com a do vice-governador Wang Huaizhong, e em 2002, com as de Hu Changqing, vice-governador da província de Jiangxi, e de Cheng Kejie, vice-presidente do Legislativo, todos eles por terem aceitado subornos.
A China tenta limpar assim sua imagem e mostrar pulso firme no combate à corrupção e à falta de controle sanitário de produtos chineses tóxicos que vêm causando vítimas no mundo todo.
As autoridades chinesas foram implacáveis com Zheng, destituído em 2005 após quase dez anos no cargo e condenado em maio deste ano por aceitar subornos para aprovar novos medicamentos.
Após ser condenado à pena máxima por ter liberado um antibiótico que teria causado pelo menos dez mortes, sua execução hoje coincidiu com a forte pressão da comunidade internacional para que Pequim garanta a segurança de seus produtos alimentícios e farmacêuticos exportados.
O ex-chefe da Administração Estatal de Alimentos e Remédios tinha se transformado em símbolo da permissividade, aceitando suborno para liberar produtos sem nenhum controle de qualidade.
A execução de Zheng foi confirmada nesta terça-feira pela televisão estatal e pela agência oficial de notícias "Xinhua".
O ex-diretor, cujo cargo era equivalente ao de ministro, recorreu da sentença por considerá-la muito severa e ofereceu informações sobre outros envolvidos, mas o Tribunal Popular Superior de Pequim as rejeitou porque estas já tinham sido obtidas pelos investigadores.
A máxima instância afirmou, ao ratificar a pena capital contra Zheng, que "tinha suficientes provas e que a punição era a adequada", informou hoje a agência "Xinhua". "A negligência de Zheng afetou a eficácia do controle de remédios e alimentos da China, pôs em perigo a saúde do povo e teve um impacto social muito negativo", acrescentou o tribunal.
Muitos dos subornos aceitos por Zheng (dinheiro e presentes) vinham de oito empresas farmacêuticas a quem beneficiou nos quase dez anos em que esteve no comando da Administração, ao aprovar remédios e equipamentos, segundo o tribunal.
A Corte considerou ainda que Zheng violou as normas de informação e os processos de tomada de decisões entre 2001 e 2003, ao aprovar uma série de remédios fraudulentos e aceitar documentos falsos de laboratórios e empresas.
Na semana passada, um dos subordinados de Zheng, Cao Wenzhuang, ex-responsável pelo registro de remédios, também foi condenado à morte - apesar de poder ser indultado - ao ser considerado culpado de corrupção por aceitar suborno e por negligência.
A execução de Zheng ocorre em um momento no qual Pequim enfrenta várias acusações devido a escândalos farmacêuticos e alimentícios, entre eles a morte de mais de cem pessoas no Panamá por xaropes contra a tosse falsificados e a ração contaminada que matou animais de estimação nos Estados Unidos.
"Como país em desenvolvimento, a supervisão de alimentos e remédios na China começou tarde, e seu funcionamento apresenta falhas. Por isso, ainda não podemos ser otimistas sobre a segurança alimentar e de remédios", reconheceu hoje Yan Jiangying, porta-voz da Administração.
Yan anunciou um plano para reforçar a supervisão de alimentos e remédios e "reduzir de maneira significativa o número de incidentes causados" até 2010, segundo a "Xinhua".
Para ele, a execução de Zheng serve para "aprender com estes casos".
Segundo Yan, a nova lei de controle de remédios, que será aprovada em breve, "assegurará a transparência do procedimento de aprovação dos produtos".
O porta-voz do Ministério de Exteriores, Qin Gang, disse hoje à imprensa que o Governo chinês tratou o caso de Zheng "de acordo com a lei" e que sua execução "demonstra a determinação de Pequim de lutar contra a corrupção".
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