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Internacional
Sexta - 06 de Julho de 2007 às 23:59

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São Paulo - Já no início da noite, a paz e a crítica à violência predominou na mais concorrida mesa, até o momento, da 5ª edição da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), que trouxe a prêmio Nobel sul-africana Nadine Gordimer e o israelense Amós Óz, este contemplado pelo prêmio Príncipe das Astúrias. A Tenda dos Autores lotou para ouvir os discursos pontualmente pacifistas dos dois escritores.

Nadine, de 84 anos, em coletiva à imprensa concedida antes do debate, avaliou o Apartheid e a forma como sua arte foi blindada pela perseguição. Segundo ela, sua obra só não desapareceu porque ela escreveu em língua inglesa e pôde, assim, ser lida em outros lugares, mesmo com a cassação de seus livros na sua terra natal. "Três livros meus foram banidos", lembrou ela. "Tive sorte de escrever em língua universal e ser publicada em outros lugares", complementou.

Ao avaliar o cenário norte-americano, a prêmio Nobel frisou que a população daquele país deve reunir núcleos civis que levem à paz. E não deixou de fazer críticas ao presidente dos Estados Unidos, George W. Bush: "Os americanos precisam se livrar de Bush". Nadine falou ainda sobre a questão da Aids em seu país natal e mencionou os avanços conquistados. "É impossível não enfatizar (o problema da Aids) de tão grave que é. Mas há conquistas na luta e prevenção da doença", disse. E emendou, em tom de crítica: "Mas (os avanços) estão sendo realizados lentamente e questiono o governo nesse sentido".

Tema incessantemente levantado após o abaixo-assinado formulado pelos biógrafos pela liberdade de expressão, Nadine não escapou de comentar o assunto. Para ela, hoje há uma censura vigente muito menor do que em décadas passadas. Se disse "aliviada" e lembrou que na sua época tudo que fosse considerado subversivo era eliminado. "Isso, ainda bem, acabou."

Reivindicações

Encerrado com tom de paz, a sexta-feira da 5ª edição da Flip foi eclética e teve espaço para um pouco de tudo, até mesmo para reivindicações. Foi o caso, por exemplo, do abaixo-assinado em prol da liberdade de expressão surgido no debate que reuniu os biógrafos Ruy Castro, Fernando Morais e Paulo César de Araújo. Houve também intercâmbio cultural e literário entre as escritoras Ahdah Soueif e Ana Maria Gonçalves. A relação personagens e cidade natal foi tema discutido entre o baiano Antônio Torres e o badalado Mia Couto, de Moçambique.

A primeira mesa do dia ("A Vida como ela foi") com os escritores biográficos Ruy, Fernando e Paulo, foi irreverente e teve, como já era esperado, a censura como tema principal. Vítimas de problemas e processos com obras que trataram de personalidades ou empresas, até mesmo um abaixo-assinado foi iniciado entre os autores na ocasião, após sugestão de uma pessoa do público. No documento, que deve ser encaminhado ao Congresso Nacional, pedem a garantia do direito de liberdade de expressão.

Em papo descontraído, ainda na manhã de hoje, a anglo-egipcía Ahdah Soueif e a brasileira Ana Maria trataram em "Álbum de família", de personagens que, em seus livros, atravessam adversidades ao desbravarem os continentes. Ana Maria iniciou o debate lendo um capítulo de "Um defeito de cor" (Record). Ahdah, por sua vez, leu trechos de "Mapa do Amor" (Ediouro).

A próxima mesa, já no início da tarde, reuniu Antônio Torres e Mia Couto. Juntos, os dois escritores, em "Terras", debateram sobre a relação da arte literária com sua região natal, características que marcam bastante suas obras, como em "Essa terra", de Torres, e "Terra Sonâmbula" (Companhia das Letras), de Mia Couto. Literatura e cinema foi o cerne da mesa que reuniu o norte-americano Dennis Lehane e o mexicano Guillermo Arriaga e encerrou a bela tarde de Paraty, em "Crime e Castigo".




Fonte: AE

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