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Esportes
Quinta - 05 de Julho de 2007 às 23:17
Por: Rob Hughes

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O tráfico de potencial humano, e a inevitável migração dos artilheiros mundiais para os prósperos clubes ingleses de futebol, convenceu mais dois jogadores a deixar os lugares que viam como lar. O Arsenal contratou o brasileiro Eduardo da Silva, que encontrou fama na Croácia, pelo equivalente a U$ 16 milhões, caso o jogador seja aprovado nos exames médicos.

Na quarta-feira, com a mesma ressalva, o Liverpool anunciou que gastaria valor três vezes mais alto para contratar Fernando Torres, o ídolo da equipe do Atlético de Madri.

São dois homens diametralmente distintos em termos de presença física e formação profissional, mas sua fortuna se baseia em um mesmo instinto: eles colocam a bola na rede do adversário sem a menor hesitação. Silva, conhecido em sua pátria adotiva simplesmente como Eduardo, ou "Dudu", tem o contrato mais acessível, mas ainda assim apresenta o potencial mais intrigante.

Chegou a Zagreb aos 15 anos, sem conhecer qualquer pessoa na Europa ou uma palavra do idioma croata, trocando o calor do Rio de Janeiro pelos invernos do Dinamo de Zagreb. Mas, armado de um instinto quase sobrenatural quanto ao movimento das zagas e de um senso de antecipação das oportunidades de gol, o jovem atleta desfrutou das valiosas oportunidades oferecidas por uma escola única de aperfeiçoamento. A Croácia, e de fato muitos dos países dos Bálcãs, têm bom olho para identificar os jogadores mais técnicos, e amam verdadeiramente o futebol.

Havia membros da equipe técnica do time que, no momento em que puseram os olhos no jovem brasileiro, sabiam que ele valeria ouro, um dia. Silva veio do Nova Kennedy, um time juvenil do Rio, e ainda que o Dinamo de Zagreb viesse a permitir que ele retornasse ao Brasil para treinar com uma equipe de juniores, os treinadores acreditavam que, se tivesse a oportunidade, com certeza ele se adaptaria ao time.

Essa forma de apreciação vem se tornando cada vez mais rara. Os clubes, hoje, vivem sob a crua ditadura dos resultados, e raramente concedem às suas equipes técnicas, e menos ainda aos jovens jogadores, a oportunidade de desenvolver alguma coisa.

Em termos de estatística pura, Eduardo e seus mentores no Dinamo de Zagreb provaram que a confiança era justificada. Ele vem jogando pelo time principal desde 2001, e marcou 73 gols em 104 partidas. Silva assumiu a cidadania croata e marcou oito gols em 12 jogos pela seleção sub-21, bem como outros sete em 12 partidas pela seleção nacional adulta. "O Dinamo de Zagreb não queria vender seu capitão", diz Slaven Bilic, técnico da seleção croata. "O presidente do clube me contou que havia recebido ofertas muito mais altas de times da Rússia e Ucrânia. Mas, quando o Arsenal expressou interesse, eu disse ao presidente que ele não podia negar uma oportunidade como essa ao garoto".

Bilic, que foi zagueiro na seleção croata que saiu da guerra e encerrou a Copa do Mundo de 1998 com um terceiro lugar, jogou por outro time londrino, o West Ham, e acredita que o brasileiro tornado croata se adaptará, não só porque marca muitos gols, diz o treinador, mas porque cria muitas jogadas, igualmente.

Isso contraria a impressão causada ao assistir a partidas de Silva, nas quais ele parece surgir das sombras para marcar os seus gols. O jogador passa quase todo o jogo no anonimato, mas subitamente deixa sua marca com pontaria inesperada. Bilic insiste em que a impressão não procede. Silva não só marcou 34 gols em suas últimas 32 partidas pela liga croata como é o líder do país em assistências.

É provável que, no Arsenal, ocupe o posto que Thierry Henry abandonou, ainda que não exista um jogador no mundo que seja capaz de substituir o francês em sua condição de líder e símbolo da equipe. No entanto, se Eduardo encontrar seu ritmo, se começar a marcar, como acontece no Zagreb, aparentemente do nada, é perfeitamente possível que substitua bem Henry no gramado.

O preço pago por Eduardo, metade do que o Arsenal recebeu por liberar Henry, vai parecer uma pechincha caso o brasileiro-croata cure os problemas gerados pela má forma e falta de apetite de Henry na última temporada. Já no caso de Torres, por mais gols que ele marque pelo Liverpool vai demorar anos para que se possa alegar que sua transferência representou um bom investimento. Os grandes clubes europeus o vêm cobiçando há anos.

O jogador nasceu na região do Real, em Madri, mas começou a jogar na equipe rival, o Atlético, aos 11 anos. Aos 19, se havia tornado o mais jovem capitão na história do time e, ainda que Alex Ferguson, o diretor de futebol do Manchester United, tivesse declarado francamente sua admiração pelo jovem, e equipes de Milão a Munique o encarassem com ambição, a multa por transferência que fazia parte de seu contrato com o Atlético parecia proibitiva.

Foi então que surgiu o Liverpool, treinado por outro madrilenho, Rafa Benitez e recentemente adquirido por empresários norte-americanos. O time está com os cofres repletos, depois de chegar a duas finais da Liga dos Campeões nos últimos três anos. Torres, muito mais alto e mais atlético do que Silva, jogador de um time só até hoje, é conhecido pela grande variedade de seus gols, mais do que pelo volume deles.

Caso os exames médicos corram como esperado, o Liverpool pagará 27 milhões de libras por ele, e transferirá ao Atlético de Madri o passe de Luis Garcia, um atacante espanhol, avaliado em mais 2,5 milhões de libras. O Liverpool pagará 90 mil libras semanais de salário a Torres por um contrato de seis anos, e isso bastou para romper os elos que o jogador criou com o Atlético desde a infância.

Ainda que Silva e Torres tenham prometido que continuariam em seus times para sempre, os dois estão se transferindo. As forças de mercado ditam as ações não só dos jogadores mas, também, as dos clubes.

Tradução: Paulo Eduardo Migliacci ME





Fonte: Herald Tribune

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