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Nacional
Quarta - 27 de Junho de 2007 às 18:20

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SÃO PAULO - Mikhail Baryshnikov, aos 59 anos, volta ao Brasil, onde dançou em 1998, um espetáculo-solo. Desta vez, com sua nova companhia, a Hell’s Kitchen Dance, que acaba de estrear em Nova York, depois de bem-sucedida turnê pelos Estados Unidos. Criada em 2006 e formada, na sua maioria, por jovens estudantes da Julliard School e da Tisch School, encerra a sua mini temporada brasileira, a cargo da Antares Promoções, com dois espetáculos no Teatro Municipal de São Paulo, dias 24 e 25 de julho, depois de se apresentar no Municipal do Rio (dia 20) e em Joinville (dia 18). O programa é composto por três obras: Years Later, de Benjamin Millepied, Leap to Tall, de Donna Uchizono, e Come in, de Aszure Barton.

Antes de pedir asilo político em Toronto, no Canadá, em 1974, durante uma turnê da companhia em que dançava, o Kirov Ballet, o seu talento já era reconhecido. Mas a projeção internacional que obteve com a carreira que desenvolveu nos Estados Unidos fez dele uma quase lenda. Lá, dançou no American Ballet Theater (1974 -1979), companhia da qual depois se tornou diretor, e também no New York City Ballet.

Fez cinema (Momento de Decisão, em 1977, e O Sol da Meia-Noite, em 1986), fez teatro na Broadway (a peça Metamorfose, de Kafka). Teve problemas com o joelho, deixou de dançar os clássicos que o consagraram e tornou-se um difusor da dança contemporânea. Na companhia que criou com Mark Morris, a White Oak (1990-2002), encenou muito do repertório da Judson Church, o berço da pós-modernidade norte-americana, e estimulou jovens coreógrafos. O compromisso com os novos talentos dilatou-se na companhia que agora dirige.

Baryshnikov falou por telefone do centro que planejava criar desde 2001, e que conseguiu inaugurar em 2005, em Manhattan, o Baryshnikov Arts Center (BAC). Situado na região conhecida como Hell’s Kitchen, a que se estende entre as Ruas 34 e 57, e entre a Oitava Avenida e o Rio Hudson, localiza-se no complexo 37 Arts, no 450W da Rua 37. Foi com o nome da região onde está instalada que a companhia foi batizada.

Qual a diferença entre a sua outra companhia, a White Oak, que tinha a proposta de dançar os clássicos da contemporaneidade, e a Hell’s Kitchen?

"mesmo dois tipos de companhias distintas. A White Oak era uma companhia permanente e o elenco agora é formado quase que exclusivamente por jovens muito talentosos que ainda estão terminando sua formação nas suas escolas, a Juilliard e a Tisch. Como eles são ainda estudantes, ensaiamos nos seus horários de folga, e só conseguimos viajar e fazer temporada no verão, época das férias escolares. Há um outro traço também, que é o fato de ela dançar obras criadas no Centro, seja por coreógrafos que fizeram residência aqui, como Benjamin Millepied, o grande solista do New York City Ballet, ou peças que produzo aqui, como as de Aszure Barton (Come in) e Donna Uchizono (Leap to Tall), que estreamos no ano passado.

Para quem já dançou com estrelas de todos os tipos de dança, como é dançar cercado por jovens promissores?



"Gosto muito de dançar com os jovens. Ajuda a diminuir a separação entre gerações e também faz parte dos objetivos que tenho com a minha fundação. Quero tentar ajudar jovens artistas a vencer em Nova York, sejam da dança, do teatro, da música, das artes visuais, do cinema ou do design."

Como esses jovens talentosos chegam à companhia?

Quando são estudantes, as informações vêm das escolas e dos professores. Mas todos fazem audição para entrar.

Ainda é mesmo necessário fazer aula todo dia?

Sim, especialmente quando estou em cena, como agora. Às vezes, ensaio com a companhia, às vezes, sozinho. Depende de os meus horários combinarem com os deles. Às vezes, vou fazer aula no New York City Ballet e noutras, simplesmente entro na aula de um desses professores que você paga por aula. Na minha idade e com a minha experiência, não penso que ainda vou aprender algo. O que busco é manter uma certa condição física. Por isso, ainda faço aula de balé, mas também invisto muitas horas em fisioterapia para cuidar de elasticidade, flexibilidade, alongamento, etc.

Foi muito difícil enfrentar os problemas com o joelho que terminaram em cirurgias?

Tive muita sorte em poder ser atendido por médicos muito bons, que souberam cuidar de mim com tanta competência que consegui continuar mantendo o meu padrão, que é fazer tudo 100%. Afinal, já faz tempo que não faço mais variações clássicas, em que é necessário saltar muito.

Essa cifra, a dos 100%, o acompanha há muito tempo. Há declarações suas dizendo que quando adolescente, já sabia que, fosse o que fosse que viria a fazer quando adulto, trabalharia para ser 100% bom. Bem mais tarde, quando foi pai, passou a dizer que tinha como objetivo ser 100% pai.

(Rindo) É verdade. Sou um Baryshnikov 200%. E agora vou precisar também ser 100% avô das minhas duas netas, uma com 2 e outra com 4 anos.

Com uma agenda como a sua, sobra tempo para ser avô?

Como minhas netas não moram longe de mim, consigo, sim, conviver com elas, pois passo o dia todo no Centro. Ser avô é mesmo como dizem: todos os prazeres e nenhuma das responsabilidades.

Também faz parte dessa agenda sair de casa para assistir dança?

Assisto muita dança contemporânea, é o que mais faço. Sigo a carreira de muitos dos coreógrafos de downtown (referindo-se à dança do circuito off), e também acompanho os processos de todos que vêm para residência no Centro.

E da Europa?

Tenho interesse em variados criadores, especialmente na França e na Inglaterra. Dentre os mais conhecidos, há o Mats Ek, que vai compor um dueto que dançarei com Ana Laguna. Estrearemos no fim do verão.

A fotografia ainda o interessa?

Sim, e muito. Durante muitos anos fotografei em preto-e-branco com a mesma câmera de 35 mm e o que me atraía eram fotos do cotidiano e fotos de viagem. Faz pouco tempo, comecei a fotografar movimento e dança, diferentes tipos de dança.

Alguma companhia em especial? Algum bailarino?

Estou começando um projeto com Merce (refere-se a Merce Cunningham), que se chamará Merce My Way (Merce do Meu Jeito). Tenho ido ao seu estúdio para fotografá-lo trabalhando. A idéia é que se transforme em um livro, no próximo ano.

Merce Cunningham e Trisha Brown fazem parte do seu percurso. Certa vez, enquanto ensaiava no estúdio de Trisha justamente uma coreografia de Cunningham, a Occasion Piece, aconteceu uma conversa entre vocês dois, que acabou sendo publicada por Annette Grant no New York Times, em 1999, na forma de uma entrevista sua para a Trisha. Havia uma declaração sua dizendo que havia sido necessário muito tempo para que aprendesse a separar dança de coreografia.

Quanto mais danço, mais entendo que a dança tem segredos. Quem é que consegue explicar por que uma obra funciona melhor do que a outra, por exemplo? Para mim, é sempre um mistério. A dança continua sendo misteriosa e, quanto maior o enigma, maior a atração. E quanto menos entendo, mais atraente ela fica.

A sua discrição com relação às doações que vem fazendo, ao longo de sua carreira, é notória. Agora elas se concentraram na criação desse Centro que tem seu nome, o Baryshnikov Arts Center (BAC)?

Na verdade, ainda não pensei sobre isso. Meu desejo é contribuir com a cidade, foi isso que me moveu. Nova York foi sempre excepcional em termos de arte, e quero muito ajudar essa cidade a continuar a ser assim. Foi isso que me fez criar o BAC

Você conhece o evento de Joinville onde vai se apresentar?

Muito pouco. Sei somente de alguns nomes que já se apresentaram lá. Mas estou muito animado em voltar ao Brasil, pois guardo recordações de bons amigos que fiz por lá, que espero reencontrar, e das platéias, sempre muito calorosas. Estou muito curioso em ver qual será a recepção ao trabalho que faço agora.





Fonte: Estadão

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