Para Lula, países ricos pedem 'contribuição desproporcional'
"O Presidente Lula observou em conclusão que os paises desenvolvidos buscaram acomodar seus próprios interesses defensivos em agricultura e ao mesmo tempo pedir contribuição desproporcional dos países em desenvolvimento no que diz respeito aos bens industriais", afirmou Baumbach, em Brasília. v Segundo o porta-voz da Presidência, Lula disse a Blair que a Europa e os Estados Unidos assumem posição dura no momento e que os principais pontos de divergência acontecem em agricultura, que Lula chamou de "motor da rodada e setor de maior interesse para paises em desenvolvimento".
Para o presidente, as negociações técnicas "já se esgotaram" e é chegada a hora de uma reunião de líderes políticos.
A última tentativa de se retomar a Rodada Doha – cujas negociações estão interrompidas desde o ano passado – fracassou nesta semana, durante encontro de embaixadores em Potsdam, na Alemanha. Brasil e Índia se retiraram do encontro.
Subsídios americanos
Baumbach disse que Lula reclamou a Blair que "foi desconsiderado o princípio central da Rodada Doha, de que esta é uma rodada de desenvolvimento".
Apesar disso, o brasileiro teria se comprometido a continuar trabalhando em Genebra para que se encontre uma solução política para o impasse.
Lula teria relatado a Blair o que considera os principais problemas da Rodada Doha: a questão dos subsídios domésticos, os problemas no acesso a mercados e um problema de "equilíbrio", ou seja, de pedidos desproporcionais feitos por países desenvolvidos.
Na questão dos subsídios, Lula disse que o G20, grupo de emergentes liderados pelo Brasil, pedia cortes dos subsídios americanos para até US$ 12 bilhões. No entanto, os Estados Unidos propuseram corte para US$ 17 bilhões, valor que estaria acima da média gasta pelo governo americano com subsídios nos últimos anos.
Segundo Baumbach, Blair disse a Lula que, para evitar um fracasso nas negociações de Doha, os países emergentes teriam de aceitar a redução tarifária para os produtos industrializados na ordem de 20%. Lula teria respondido que o Brasil "prefere discutir algo em torno dos 30%".
Blair também disse a Lula que as próximas 48 horas serão decisivas para a Rodada Doha e afirmou que conta com a liderança do presidente brasileiro.
O primeiro-ministro britânico também teria se comprometido a transmitir a mensagem de Lula aos demais líderes europeus.
OMC enfraquecida
Nesta sexta-feira, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, que participou das negociações em Potsdam, disse que considera "morto" o G4 – grupo que lidera as negociações para retomada de Doha, formado por Brasil, Índia, União Européia e Estados Unidos.
Na avaliação do embaixador Roberto Abdenur, o fracasso da Rodada de Doha pode deixar a OMC mais enfraquecida e sem poder para forçar os países a aceitar as regras do comércio internacional acordadas na organização.
"Com um resultado positivo na Rodada de Doha, a OMC ganharia muita musculatura, muita substância, e estaria consagrada como um propulsor de comércio no plano internacional. Com o fracasso de Doha, ela tende a ser cada vez mais uma arena de litígios, e isso leva a um desgaste e perda de moral", avalia Abdenur, que foi embaixador brasileiro no Equador, China, Alemanha, Áustria e em Washington até o início deste ano, quando se aposentou e voltou ao Brasil.
Um exemplo disso, diz Abdenur, é o caso levado pelo Brasil contra os Estados Unidos contra o subsídio ao algodão americano. O Brasil ganhou, mas até agora os Estados Unidos não cumpriram a decisão integralmente.
"Provavelmente, os americanos nunca mais vão cumprir a decisão do algodão", afirma o embaixador.
Abdenur lembra que os americanos já têm uma tendência de não se subordinar às decisões internacionais por considerá-las uma redução da soberania do país.
"A OMC não é ainda uma organização inteiramente consolidada no plano internacional", diz o diplomata brasileiro. Um fracasso de Doha, acrescenta Abdenur, reduz as chances de que a OMC venha a se transformar na "ONU do comércio internacional", como gostaria o Brasil.
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