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Nacional
Sexta - 22 de Junho de 2007 às 14:26

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Comprar uma fábrica no Brasil e mudá-la para a China: esse é um plano tão simples quanto complexo, levado em conta seu nível de ambição, mas se existe alguém capaz de fazê-lo, esse é o multimilionário chinês Yin Mingshan, assim, é claro, que o governo brasileiro der sinal verde para seu arrojado projeto.

"O Brasil nos disse que podemos comprar a fábrica, mas só se concordarmos em não tirá-la do lugar", disse Yin, 69 anos, fundador e diretor da Chongqing Lifan Holdings, uma gigante das motocicletas que agora espera juntar outra fortuna através de automóveis.

A fábrica em questão é uma joint venture de 50% entre a DaimlerChrysler AG e Bayerische Motoren Werke AG (BMW), avaliada em US$ 500 milhões e situada em Campo Largo, no Paraná, onde produz motores Tritec de 1,4 e 1,6 litro.

A Lifan, cuja sede se encontra na agitada metrópole chinesa de Chongqing, é um dos compradores destes motores. Eles são instalados no Sedan 520, lançamento da empresa que se aventura assim no setor automobilístico.

Mas além de ser um simples cliente, a Lifan tem manifestado há tempos seu interesse em comprar a fábrica.

Uma decisão final sobre o assunto precisa ser adotada logo, já que o contrato de joint venture entre a Chrysler e a BMW expira no final de junho, o que força a uma decisão sobre o futuro da companhia. A fábrica do Brasil interrompeu sua produção em meados de junho e não fez nenhum novo anúncio sobre quando voltará a funcionar. Seus 382 empregados esperam em casa, de acordo com o jornal O Estado de São Paulo.

Yin disse que só pode especular sobre as razões pelas quais o governo brasileiro se nega a permitir o translado da fábrica, mas sugeriu que a perda de empregos talvez seja a maior preocupação. Os sócios da joint venture não quiseram se comprometer quanto ao futuro da fábrica brasileira.

"Estamos explorando futuras opções para a joint venture do Tritec, mas ainda é pré-maturo discuti-las até esse ponto", disse Trevor Hale, um porta-voz da DaimlerChrysler. "É possível que os atuais acordos possam ser estendidos com o fim do atual contrato", completou.

A permissão para mudar a fábrica de lugar provavelmente é um requisito indispensável para a Lifan comprá-la, consideram analistas. "Se não transportarem a fábrica e embarcarem os motores terminados para a China, os custos serão muito mais altos", apontou Jia Xinguang, um analista da consultora China Automotive Industry Consulting and Development Corp, baseado em Pequim.

Transladar fábricas inteiras por milhares de quilômetros atravessando fronteiras é uma façanha que não é inédita, mas em geral é era um feito realizado por exércitos vitoriosos.

Depois da vitória aliada contra a Alemanha em 1945, por exemplo, o exército soviético desmantelou fábricas nazistas inteiras e as transportou ao território da ex-URSS, como uma forma de compensar os sofrimentos da guerra.

Nos anos 60, a própria China transportou muitos setores de sua indústria pesada ao interior do país, em preparação para o que Pequim considerava uma guerra inevitável contra os Estados Unidos ou a União Soviética. Os tempos mudaram desde então e agora o objetivo-chave é a transferência de tecnologia.

A prova da importância que a China tem dado ao acordo é que as negociações com o Brasil têm sido levadas não apenas pelos empresários da Lifan, mas também por representantes do governo chinês.

"Não falamos de um preço", disse Yin. "Mas como a fábrica já não é nova, esperamos ter que pagar menos que o montante originalmente investido pelos dois sócios do joint venture", acrescentou.

Financiar o acordo não será um problema, enfatizou, e sugeriu que se recorresse a um crédito bancário: "Vivemos num mundo de liquidez mais do que abundante. Vivemos em uma China de liquidez mais do que abundante".

"O principal tema é a atitude do governo brasileiro e por agora as duas partes não conseguiram muitos progressos", apontou Jia, o analista de Pequim.




Fonte: AFP

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