Interdependentes, porém autônomos 2
Coincidentemente, ontem assisti, a convite, a um ato simbólico do Poder Judiciário, que levou as 79 comarcas do Estado, mais o Tribunal de Justiça, a se manifestarem, simultaneamente, em defesa daquele poder.
A iniciativa é interessante. Primeiro, porque torna os homens de preto mais humanos do que os percebemos. Em geral, juiz e policial metem medo nas pessoas pelo poder a eles conferido, de prender e mandar soltar nós outros. Em segundo lugar, porque a afirmação do Poder Judiciário vai exigir que, de fato, práticas de magistrados sejam modificadas.
Os magistrados eram personagens acima do bem e do mal até bem pouco tempo. Desde a prisão e execração pública do juiz Nicolau dos Santos (aquele do TRT), entretanto, vários outros homens da lei viram-se em situações reprováveis. O envolvimento de magistrados em escândalos de corrupção, em regra, foi um dedo longo e teso nas feridas internas do judiciário. Levou seus membros a compreenderem que embora tenham poderes superiores aos cidadãos comuns, a eles não é permitido tudo. Há limites, principalmente os institucionais e éticos, que devem ser respeitados.
E ensinou-lhes também que a sociedade tem seus próprios processos de formação de opinião e de atribuição de valor, e que a sua percepção sobre os magistrados e o poder público vem piorando gradual e constantemente.
Compreender isso e tentar intervir nesse quadro me pareceu ser a principal motivação que levou à manifestação de ontem do TJ e das comarcas. Isso é bem-vindo. Contudo, os magistrados precisam demonstrar, na prática, que estão dispostos a descer do pedestal que os colocou acima das pessoas comuns. Autocrítica não é simples exercício retórico. É ação concreta de correção de práticas consideradas inadequadas. Vai exigir desprendimento do corporativismo exacerbado. Vai exigir o corte da própria carne. Vai exigir coragem de enfrentar o debate público. E debate é troca, é via de mão dupla, é diálogo, não é o monólogo entediante que os magistrados, em geral, costumam fazer.
E vai exigir também uma nova postura institucional, levando a cabo o princípio segundo o qual a justiça é imparcial, trata ricos e pobres, brancos e pretos, crentes e não crentes, com o mesmo peso. E vai exigir ainda que o Poder Judiciário se afirme como poder independente, capaz de mediar as mais diversas querelas da sociedade, sem tomar partido, senão o da Justiça, ainda que um dos querelantes seja o Poder Executivo ou o Poder Legislativo. Acreditando que é tudo isso que Tribunal de Justiça quis nos dizer ontem é que fico animado. De fato, algo está mudando pra melhor.
KLEBER LIMA é jornalista pós-graduado em marketing. E-mail: kleberlima@terra.com.br. www.kgmcomunicacao.com.br.
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