Parada Hétero pede "liberdade" e critica dinheiro público na Parada Gay
Criticado por organizar a iniciativa, uma semana após a realização da Parada Gay, o grupo esclareceu que pretende apenas defender a liberdade de expressão, sem nenhum tipo de apoio à homofobia. Mas houve críticas ao apoio oficial do governo à Parada Gay.
"Temos amigos gays que fazem parte de nossa comunidade do Orkut e dão seu apoio à nossa idéia de defender o orgulho heterossexual", conta um dos organizadores, Cristiano Vicente, 20, professor de inglês e estudante de design na faculdade privada Anhembi Morumbi.
Com apoio de sua família, que mora em São Bernardo do Campo (Grande SP), ele organizou a parada heterossexual com o amigo Luis Fernando, 20, estudante de publicidade da Universidade Metodista. "A idéia surgiu durante conversas sobre a Parada Gay", afirma Fernando, que adotou como símbolo do movimento uma placa de banheiro com imagens de bonequinhos dos dois sexos.
Na comunidade do Orkut, eles receberam mais de 200 apoios à iniciativa. Por volta das 16h, havia menos de 15 pessoas (homens, na maioria) com o grupo, na calçada do Masp. Mas os organizadores disseram que alguns participantes estavam atrasados e que o "número oficial" da parada seria de 30 pessoas. A primeira Parada Gay reuniu um público estimado em 2.000 participantes, em 28 de junho de 1997.
A concentração estava marcada para 15h. O grupo estendeu uma faixa com a mensagem "1ª Parada do Orgulho Hétero - muitos são, poucos se orgulham". No momento da Parada Hétero, ocorria a tradicional feira de antigüidades do vão do Masp --um comerciante da feira manifestou apoio à iniciativa, considerando apenas uma "brincadeira dos jovens".
Mãe de Cristiano, a gerente administrativa Eliana Brykcy, 46, diz que o "movimento é sem preconceito" e que o grupo recebeu críticas também de alguns heterossexuais. Sobre a falta de público relevante para a iniciativa, eles citaram a "preguiça" de se sair aos domingos, que o evento foi convocado em cima da hora e que faltou divulgação pela mídia tradicional. O dia estava ensolarado --o termômetro do Masp marcava 29ºC.
Participante da parada, o arquivista Brando Brito, 35, menciona o caso da cartilha sobre o uso de drogas para criticar o apoio da Prefeitura de São Paulo à Parada Gay, um dos principais eventos do calendário turístico da cidade.
"Foi usado dinheiro dos impostos que todo mundo paga para elaborar uma cartilha ensinando a usar drogas. Isso está errado", diz Brando.
Entidades ligadas ao movimento de diretos dos homossexuais defenderam a cartilha por contribuir para a política de redução de danos, pela qual a divulgação de cuidados sobre o uso de drogas é positiva para minimizar problemas. Já algumas autoridades policiais acham que essa política incentiva o consumo e favorece o tráfico de drogas.
Os organizadores da Parada Hétero dizem que esperam a permissão da prefeitura para realizar, no próximo ano, shows no vão do Masp para atrair mais público. Eles cogitam até colocar um casal de dançarinos (homem e mulher) para animar o ambiente. "Queremos dobrar o número de público no próximo ano e comemorar o recorde", afirma Eliana, que defende também a criação por lei do Dia do Orgulho Hétero.
A estudante Viviane Vicente, 24, filha de Eliana, conta que a comunidade no Orkut atraiu internautas de outros Estados, como Rio, Bahia e Rio Grande do Sul. Por enquanto, não há casos de namoro surgidos na comunidade. "Mas isso pode ser uma conseqüência natural", diz Cristiano, que também é guitarrista da banda Radio Ska.
Comentários