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Internacional
Segunda - 11 de Junho de 2007 às 20:23

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Os tribunais de crimes de guerra dos EUA em Guantánamo traem os princípios de justiça que fizeram do julgamento de criminosos nazistas em Nuremberg um marco jurídico, disse na segunda-feira um norte-americano que atuou como promotor naquele tribunal após a Segunda Guerra Mundial.

"Acho que Robert Jackson, que foi o arquiteto de Nuremberg, daria voltas no túmulo se soubesse o que está ocorrendo em Guantánamo", disse o ex-promotor Henry King Jr. por telefone à Reuters.

"(Os tribunais militares) violam os princípios de Nuremberg, o que eles estão fazendo, bem como o espírito das Convenções de Genebra, de 1949", acrescentou.

King, 88 anos, foi subordinado de Jackson, um juiz da Suprema Corte dos EUA que foi o promotor-chefe no tribunal criado pelos Aliados para julgar políticos e militares nazistas depois da Segunda Guerra na cidade alemã de Nuremberg.

"O conceito de um julgamento justo é parte da nossa tradição, nossa herança", disse King em Ohio, onde vive. "Isso é que tornou Nuremberg tão imortal —justiça, uma presunção de inocência, assessoramento adequado de defesa, oportunidades de ver os documentos com os quais (os réus) estão sendo julgados."

King, que interrogou o réu Albert Speer em Nuremberg, se disse perplexo com o fato de as regras de Guantánamo abrirem espaço ao uso de provas obtidas por meio de coação.

"Torturar pessoas e então poder trazer provas obtidas à corte? Prova de ''ouvir dizer'' é permitida? Alguma prova fica disponível para a promotoria, mas não para os réus? Este é um tipo de ''justiça'' com a qual Jackson não sonhou", afirmou King.

Segundo ele, os presos de Guantánamo deveriam ser julgados em corte marcial ou pela Justiça Federal dos EUA, sob regras que prevejam a possibilidade de absolvição —o que ocorreu com três réus de Nuremberg, segundo ele.

O governo Bush diz que os tribunais especiais em Guantánamo são necessários para preservar a segurança nacional. Em 2006, a Corte Suprema derrubou a primeira versão dos tribunais de Guantánamo, por considerá-los ilegais.

Para que eles fossem recriados, o Congresso aprovou uma lei que, segundo King, "meio que dá as costas a Nuremberg". "Não acho que seja um crédito para nós ter essa coisa. Os Estados Unidos sempre foram pela justiça. Isso é o importante. Somos os que começamos os tribunais de crimes de guerra, e somos os arquitetos. Não acho que devamos dar as cosas a esta arquitetura."

King, que leciona Direito na Universidade Case Western Reserve, de Ohio, também questionou se o ex-preso de Guantánamo David Hicks deveria ser julgado como criminoso de guerra.

Após passar mais de cinco anos preso na base naval encravada em Cuba, o australiano se declarou culpado em março de dar apoio material ao terrorismo. Foi mandado ao seu país para cumprir o resto da pena de nove meses.

"Ele não é um tipo arqui-criminoso, só um sujeito que estava insatisfeito com o sistema", observou King.

Hicks, que admitiu ter sido treinado na Al Qaeda e lutado brevemente com o grupo no Afeganistão, é a única pessoa a ter sido condenada pelos tribunais de crimes de guerra de Guantánamo.




Fonte: Reuters

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