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Internacional
Sexta - 08 de Junho de 2007 às 06:30

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LONDRES - As relações entre Estados Unidos e Venezuela só poderão melhorar depois da sucessão de George W. Bush, segundo o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em declarações ao jornalista David Frost para a emissora em inglês da rede "Al Jazira".

Na entrevista, gravada durante a recente passagem de Lula por Londres e que será exibida na noite desta sexta-feira, 8, ele se diz convencido de que "é quase impossível construir uma boa relação" entre o presidente americano, George W. Bush, e o venezuelano, Hugo Chávez.

Para o presidente brasileiro, "tem graça" que os dois presidentes estejam brigados quando "os Estados Unidos precisam do petróleo da Venezuela, e a Venezuela precisa vender petróleo aos Estados Unidos".

"É uma briga que não consigo entender muito bem", comenta, acrescentando que um dos motivos pode ser o fato de que "durante muitos anos a política venezuelana esteve muito subordinada à dos Estados Unidos, sobretudo no que se refere ao petróleo".

"Chávez se rebelou contra isso, e acusa os americanos de tentarem derribar seu Governo", lembra Lula.

"Acho que outro presidente poderia recuperar as relações entre EUA e Venezuela, que são para nós dois países amigos. Queremos que vivam em paz, e sobretudo também com o Brasil", disse.

Lula afirmou ainda que sua relação com Chávez "não é de chefes de Estado, e sim de amizade, de companheirismo". Ele chamou o líder venezuelano de "um companheiro" com quem tem "uma relação excelente pessoalmente", acrescenta.

"O Brasil tem interesses na Venezuela, e vice-versa. Temos projetos conjuntos. Estamos construindo juntos, por exemplo, uma refinaria. Há muitos investimentos brasileiros na Venezuela, e acho que a cooperação entre os dois vai continuar", aposta.

Ele reafirma na entrevista a sua "confiança no presidente Chávez".

"E tenho certeza de que ele também tem confiança em mim. Quando temos alguma divergência, falamos abertamente sem que haja segredos entre nós", diz.

Sobre a falta de entusiasmo de Chávez e do presidente cubano, Fidel Castro, pelo etanol e pelos biocombustíveis em geral, dos quais o Brasil é um grande incentivador, Lula diz ter assistido recentemente a uma cúpula sobre energia na Venezuela. E afirma que não houve "as discordâncias citadas pela imprensa brasileira e internacional".

"É um fato que Chávez preside um país no qual há muito petróleo. Por isso o biocombustível para ele não o mesmo peso que para o Brasil. Mas a Venezuela compra etanol brasileiro. Cada país é soberano para decidir sobre seus próprios interesses energéticos", analisa.

"Embora o Brasil seja auto-suficiente em petróleo, os biocombustíveis contribuem para a descontaminação do planeta e a geração de emprego. Além disso, oferecem ao continente africano a possibilidade de reduzir a pobreza no século XXI", acrescenta Lula.

"Meu sonho é de que os países ricos comprem biocombustíveis dos países africanos. É tudo o que desejo: criar riqueza, criar emprego e distribuir renda", afirma.

Ao comentar a estagnação nas negociações multilaterais de comércio, Lula reafirma a sua esperança em avanços. Ele diz que sente uma "boa disposição" dos líderes europeus, dos americanos e do G20.

"Desde dezembro, estive mais de duas vezes em contato com os principais líderes mundiais, tentando de demonstrar que a rodada de Doha é uma decisão política, não econômica. Os europeus terão que liberalizar a entrada em seus mercados dos produtos agrícolas dos países pobres. Os EUA precisam reduzir seus subsídios e os países do G20, entre eles o Brasil, devem mostrar flexibilidade nos produtos industriais e nos serviços", diz.

"Se não houver um acordo, será, na minha opinião pessoal, um ato de covardia política dos dirigentes de todo o mundo. Porque se não houver acordo, não adianta falar de terrorismo ou que a paz corre perigo. O momento é agora. É hora de se chegar a um acordo para permitir que os países mais pobres tenham a oportunidade de se desenvolver", reivindica o presidente.





Fonte: EFE

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