País eleva gastos em máquinas, mas "patina" na infra-estrutura
Essa é a conclusão de estudo do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), elaborado pelos economistas Fernando Puga e Marcelo Nascimento.
Eles analisaram a taxa de investimento brasileiro após a revisão das contas nacionais feita pelo IBGE, que apontou uma queda da taxa média de investimento no Brasil de 19,1% para 16,4% entre 2000 e 2006.
Os novos cálculos revelaram que subiu a participação de máquina e equipamentos nos investimentos, enquanto caiu a de construções --em infra-estrutura, plantas industriais, edificações comerciais e habitação residencial.
Comparando as taxas brasileiras com as de países da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, grupo de países ricos) na média de 2000 a 2003, por exemplo, o estudo aponta como o país ainda investe pouco em infra-estrutura e habitação.
Enquanto o Brasil investiu no período uma média de 4% do PIB em infra-estrutura, plantas industriais e edificações comerciais, os países da OCDE aplicaram 6,2%.
O dado é mais preocupante ao analisar que o Brasil é muito mais carente em termos de infra-estrutura do que países como EUA, França e Japão, alguns membros da OCDE.
O mesmo pode ser observado em investimento em habitações residenciais. A taxa média no país, entre 2000 e 2003, ficou em 3,7%. Na OCDE, a taxa é bem superior -5,5% do PIB.
O lado positivo do estudo é a taxa de investimento em máquinas e equipamentos na comparação entre as duas economias. Aqui, ela ficou em 7,3% na média de 2000 a 2003, enquanto nos países-membros da OCDE foi de 7,9%. Essa taxa foi atingida pelo Brasil em 2006.
Segundo Fernando Puga, do BNDES, a revisão dos dados referentes a bens de capital apontam que o país pode ter uma taxa de crescimento 24% superior à anterior com o mesmo nível de investimentos. "Se você investir um ponto percentual a mais do PIB, consegue que a economia cresça mais do que antes", diz Puga.
Seu colega Marcelo Nascimento destaca que a chave para o país atingir a mesma taxa de investimento da média mundial é a construção civil.
Segundo ele, o Brasil precisaria elevar em 1,8 ponto percentual do PIB seus investimentos em construção residencial e em 2,1 pontos os gastos em infra-estrutura e plantas industriais.
O economista Sérgio Vale, da MB Associados, reconhece o aumento nas compras de máquinas e equipamentos, mas observa que isso tem servido para que as empresas atendam à demanda interna, sem fazer novos investimentos para ampliar suas instalações.
"Em 2004, as empresas tinham uma estratégia voltada à exportação, o que fez a compra de bens de capital e a construção civil crescerem juntas. Hoje essa lógica mudou: as empresas se modernizam para atender ao mercado interno, mas abrem novas fábricas no exterior, onde são competitivas", diz Vale.
Para ele, esse modelo leva a um crescimento da economia mais limitado do que aquele que combina a demanda doméstica com exportações.
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