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Internacional
Domingo - 03 de Junho de 2007 às 13:21

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Leitura de poemas, exposição de fotos e fóruns sobre os direitos dos homossexuais fizeram parte da programação do primeiro festival gay da Índia, que terminou neste sábado com um total de três mil presentes.

"Este festival seria inimaginável há cinco anos. As coisas mudaram muito", disse em entrevista à Efe um dos organizadores do evento, Gautam Bhan, membro da associação indiana Nigah.

O "QueerFest''07" extrapolou, pela primeira vez, os limites dos festivais de cinema gay e das manifestações organizadas junto de outras minorias para se estruturar como o primeiro evento "público e aberto" da identidade homossexual na Índia, afirmou Bhan.

O evento também serviu para reivindicar ao Governo que as relações homossexuais deixem de ser um crime no país, onde a prática pode levar a até dez anos de prisão.

"Por que a Índia e o Paquistão têm estas leis tão absurdas em relação ao homossexualismo?", perguntou um homem com sotaque inglês durante um dos fóruns realizados no evento.

Porque "são leis herdadas do Império britânico", respondeu a advogada presente na mesa de debates.

Na prática, o próprio artigo 377, que criminaliza a prática no código civil paquistanês, aparece nos livros indianos como um crime que vai "contra a natureza".

Ao longo dos anos, no entanto, os tribunais indianos incluíram neste artigo o castigo para casos de sexo oral heterossexual em público ou jogos eróticos como a "chuva dourada" (ato de urinar no parceiro).

A Fundação Naz apresentou em 2001 um recurso ainda pendente de resolução por parte do Tribunal Superior de Délhi para mudar a redação deste artigo, além de solicitar que o ato sexual entre pessoas do mesmo sexo deixe de ser um crime.

Os organizadores do festival decidiram dedicar um dia a este debate, que reuniu em uma sala 50 "hijra" (literalmente "eunucos"), que são conhecidos na Índia como o "terceiro sexo".

Os "hijra" vão desde homens que decidiram se castrar e agir como mulheres a hermafroditas, existindo até casos convencionais de transexualismo.

Excluídos do mercado de trabalho por sua opção sexual e alvos fáceis de doenças venéreas como a aids, os "hijra" formam um grupo de 125 mil pessoas, segundo dados da associação Nigah.

O passaporte indiano oferece legalmente, por exemplo, a possibilidade de que os "hijra" escolham além dos tradicionais "feminino" e "masculino" no campo do "sexo".

Socialmente, no entanto, a supersticiosa sociedade indiana os rejeita e os teme, convencida de que sua presença traz azar.

"Não se fala de sexualidade", queixa-se Bahn, que afirma que na Índia "o homossexualismo é praticado na escuridão".

Muitos gays não se atrevem a sair do armário por medo da reação da família. A maioria se casa e tem filhos para não se esquivar da instituição mais importante na Índia: o casamento.

"Os indianos desaprovam o homossexualismo porque o casamento é mais importante para eles. Mas quando virem que não há outro remédio, vão querer que os homossexuais se casem, e isso acontecerá em pouco tempo", prevê Bahn.

O "QueerFest''07", que será celebrado anualmente, segundo a pretensão de seus organizadores, pretende reunir a dispersa comunidade homossexual do país e promover a tolerância na sociedade indiana, predominantemente homófoba.

O festival incluiu a exibição de filmes de conteúdo gay, fóruns de discussão com homossexuais para que conheçam seus direitos legais e uma mostra fotográfica, além da leitura de poemas lésbicos.

Com a iluminação de centenas de velas em Nova Délhi, a comunidade gay concluiu neste sábado um festival que, segundo Bahn, quer construir um "espaço de dignidade" e tornar "visível" a realidade homossexual do país.





Fonte: EFE

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