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Polícia Brasil
Sexta - 01 de Junho de 2007 às 22:02
Por: Vannildo Mendes

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SÃO PAULO - A Polícia Federal desarticulou nesta sexta-feira, 1º, com a Operação Bruxelas, uma quadrilha que vinha aplicando um golpe bilionário no exterior com títulos de crédito brasileiros falsificados. Foram presas 12 pessoas, cinco delas em São Paulo e quatro em Goiás e, as demais, no Distrito Federal, Paraná e Pará. Dois outros membros do bando, um deles português, estão sendo procurados no Brasil e no exterior.

As investigações, que correm em segredo de justiça, prosseguem e outros envolvidos poderão ser capturados. O golpe fez vítimas em pelo menos 20 países, até agora já mapeados com a ajuda da Interpol e de polícias estrangeiras, inclusive o FBI, dos Estados Unidos, país que registra o maior volume de prejuízo. Falsificados no Brasil, com a ajuda de dois falsários de Goiânia, os títulos eram vendidos a empresários e investidores de boa fé do exterior e também a golpistas, que reproduziam a fraude em outros países.

Os valores dos títulos falsos variavam de US$ 50 milhões a US$ 1 bilhão (quase R$ 2 bilhões). O requinte do golpe chegava a tal ponto que os membros da quadrilha falsificavam também os documentos de certificação internacional dos títulos, chamados Swift, da sigla em inglês Society for Wordwide Interbank Financial Telecomunication e Euroclear. A quadrilha chegava a manter um "consultor" para responder aos e-mails de clientes com informações técnicas sobre os papéis.

Descoberta

A quadrilha vinha aplicando golpes desde 1996, mas o esquema só foi descoberto há pouco mais de um ano, quando um empresário americano tentou negociar os títulos adquiridos, sem êxito, e a seguir foi preso um golpista marroquino na Alemanha. As investigações começaram em junho de 2006 e o cerco foi fechado hoje, com 14 mandados de prisão 22 de busca e apreensão executados no Brasil pela PF.

A PF evitou divulgar os nomes dos presos, por determinação judicial, mas um deles, flagrados por câmeras de TV quando era preso em Brasília, foi identificado como sendo o técnico legislativo do Senado Givon Siqueira Machado Filho. Advogado, bem relacionado no Congresso, Givon atuou nos gabinetes dos senadores Siqueira Campos (PSDB-TO), Sibá Machado (PT-AC), que é presidente da Comissão de Ética do Senado, e Cícero Lucena (PMDB-PB).

Os títulos falsos eram negociados em nome de instituições financeiras brasileiras legítimas, com valor de face astronômico, em dólares e euros. Os papéis não valiam nada, mas serviam num primeiro momento como garantia para obtenção de crédito aos seus detentores no exterior. Como são títulos de longo prazo, o esquema demorou a ser denunciado e descoberto.

Danos

O golpe causou danos incalculáveis à credibilidade dessas instituições de crédito, cujos nomes são mantidos em sigilo para não prejudicá-las ainda mais. A máfia cobrava um porcentual de 3% a 5% de comissão sobre o valor de face do título. Os chefes da quadrilha são dois empresários, um de São Paulo e outro de Curitiba, presos na operação. Só em 2006, o chefão paulista teria embolsado R$ 300 milhões em comissões. Os falsificadores goianos cobravam de US$ 3 mil a US$ 5 mil por documento. Só no ano passado, um deles faturou mais de R$ 100 mil com o negócio.

Entre os presos estão empresários, um funcionário público federal e um advogado que intermediou operações na Dinamarca e nos Estados Unidos. A Swift fica na Bélgica, no National Bank of Belgium, o banco central da Bélgica com sede em Bruxelas, capital do país. A máfia negociou garantias bancárias, notas promissórias, contratos de joint venture e letras de crédito em mais de 20 países como Estados Unidos, África do Sul, Equador, Dinamarca, Alemanha, Inglaterra Eslovênia,Rússia, Peru, México, Holanda, Romênia, Espanha, Ucrânia, Coréia do Sul, Hong Kong, China, Canadá, Emirados Árabes, Áustria, Suíça e Argentina. Na Romênia, por exemplo, circulam dez títulos falsos com valor de face de US$ 50 milhões, cada. Por um título de US$ 900 milhões, a quadrilha já havia recebido o equivalente a um montante entre R$ 300 e R$ 400 milhões de adiantamento. O técnico legislativo do Senado teria atuado nesse caso, fazendo a ponte entre a trading do empresário americano e o chefão paranaense da quadrilha. Os empresários adquirentes usavam os títulos, acompanhados de procuração de poderes, para usar como garantia na obtenção de empréstimos no exterior. Os autores do golpe foram indiciados por formação de quadrilha, crime contra o sistema financeiro, falsificação de documentos, falsidade material e ideológica. Eles teriam emitido mais de 300 garantias em títulos falsos.




Fonte: Estadão

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