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Nacional
Sexta - 01 de Junho de 2007 às 19:32
Por: Christiane Samarco

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BRASÍLIA - Os aliados do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), no Conselho de Ética e Decoro Parlamentar, já definiram a estratégia ideal para apressar o desfecho da representação do PSOL contra Renan. Eles estão apostando no relatório que o corregedor do Senado, Romeu Tuma (PMDB-SP), vai elaborar, a partir de toda a documentação bancária e fiscal que recebeu do advogado do presidente do Congresso. A expectativa do grupo mais próximo de Renan é de que, em um cenário mais otimista, o caso possa ser encerrado na semana que vem.

Isto, no caso de a "peça" apresentada por Tuma ser consistente o suficiente para demonstrar que o presidente do Senado pagava com recursos próprios a pensão alimentícia e o aluguel da casa da jornalista Mônica Veloso, com quem tem uma filha. "O relatório do corregedor pode ser uma informação importante que dê aos conselheiros condições de decidir se devem ou não abrir processo disciplinar para investigar o caso", resume o líder do governo e suplente do PMDB no Conselho, senador Romero Jucá (RR).

A decisão está nas mãos do presidente do Conselho de Ética, senador Sibá Machado (PT-AC), mas ele mesmo se recusa a antecipar qualquer passo sem antes conhecer o relatório Tuma. A despeito dos protestos do senador Demóstenes Torres (DEM-GO), que invoca o regimento interno para argumentar que os documentos deveriam estar nas mãos dos conselheiros, e não do corregedor, o fato é que Tuma é membro nato do Conselho e foi ele quem tomou a iniciativa de convocar reunião para instalar o colegiado.

Demóstenes insiste, no entanto, que pelas normas regimentais cabe ao corregedor examinar apenas denúncias relacionadas a atos praticados pelos senadores nas dependências do Senado. A acusação que pesa sobre Renan, de que o lobista da Mendes Júnior, Cláudio Gontijo, teria pago suas despesas pessoais, foge aos limites físicos do Congresso.

O líder do PSOL na Câmara, Chico Alencar (RJ), advertiu ontem que seu partido não aceitará o "arquivamento sumário" da representação contra Renan. Os aliados de Renan argumentam, no entanto, que Sibá poderá pôr o relatório Tuma em votação no Conselho e que, a partir dele, os conselheiros poderão ter elementos para concluir com segurança, se o caso recomenda abertura de processo ou arquivamento da representação. "Este é o caminho mais curto e uma solução tecnicamente ajustada", defende Jucá.

Na avaliação do líder Chico Alencar, a representação não exige que se investigue apenas a questão da origem do dinheiro para à jornalista. O PSOL quer saber porque o pagamento era feito pelo lobista e se a evolução patrimonial de Renan é compatível com sua renda declarada ao fisco. Também quer detalhes da relação de Renan com o dono da Gautama, Zuleido Veras, acusado de comandar um esquema de fraude em licitações públicas.

Veja abaixo as acusações contra o presidente do Senado:

Operação Navalha - As conversas gravadas pela PF apontam que o ex-secretário de Infra-estrutura de Alagoas, Adeílson Teixeira Bezerra, junto com outros acusados de integrar o esquema de fraudes em licitações de obras, articulavam para que Renan pressionasse a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, a liberar recursos para obras fraudadas.

Em conversa com Enéas Alencastro, representante do governo de Alagoas em Brasília, Adeílson diz que se encontrou no dia anterior com Renan e afirma que o senador pediu para que ele conversasse com o governador de Alagoas, Teotônio Vilela (PSDB).

Adeílson e Enéas tratam sobre uma obra que deve ser licitada para o Estado, mas que pode ser compartilhada com municípios. Os dois citam Marco - não identificado - para "brigar para ir tudo pro Estado". Adeílson então diz que se encontrou no dia anterior com "ele (Marco), Olavo (deputado Olavo Calheiros, do PMDB, irmão de Renan) e com Vanderlei para conversar sobre esses problemas".

Enéas responde então que é para "tocar a parte da gente, e se depois Renan decidir com Dilma, com quem for, decidir que a prefeitura entra, nós estamos habilitados e aí a gente senta com eles em pé de igualdade, não senta na mão deles".

"Na sexta-feira, tive uma conversa muito boa com o governador. Essa semana a gente deixa a inadimplência de lado", diz Enéas. Para concluir a conversa, Adeílson diz: "O senador me pediu para gente sentar, nós dois, evidentemente levar isso ao governador, e ver o que acrescenta nas obras estruturantes pra botar logo no PAC (Programa de Aceleração de Crescimento)".

Relação com lobista - A revista Veja publicou na última sexta-feira que de janeiro de 2004 a dezembro do ano passado o lobista Cláudio Gontijo, da construtora Mendes Júnior, teria pago pensão mensal de R$ 12 mil para uma filha de três anos que o senador tem com a jornalista Mônica Veloso.

Renan argumenta que o dinheiro da pensão vem de rendimento de atividades agropecuárias, que recebeu uma herança. Renan dirá ainda no pronunciamento que pediu a Cláudio Gontijo para fazer os pagamentos porque desejava "manter discrição sobre o caso", segundo a assessoria.

"É intolerável que, de uma turbulência circunscrita à minha mais íntima privacidade, se queira extrair ilações desarrazoadas e conclusões perversas", acrescentou Renan em nota oficial distribuída na sexta. O processo de reconhecimento de paternidade vinha sendo conduzido na Vara de Família do Distrito Federal, sob segredo de Justiça.

"Laranjas" - Já o jornal O Globo diz que Renan e seu irmão Olavo são acusados de ocultar que são donos de propriedades rurais na região de Murici, Alagoas. Dimário Cavalcante, primo de Renan, alega que vendeu ao senador a Fazenda Novo Largo, que não consta da declaração de bens entregue pelo senador à Justiça Eleitoral. A suspeita é de que Renan use "laranjas" para esconder ser donos de fazendas em Alagoas.

Dimário, segundo O Globo, teria procurado o Ministério Público para denunciar o senador em 2005 depois de ter descoberto que, pelo menos em documentos públicos, aparecia como dono de uma fazenda em Murici sem nunca ter adquirido a propriedade.

Segundo ele, seu nome foi usado para que a família Calheiros recebesse indenizações milionárias do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), dentro do plano de recuperação ambiental da região, na Estação de Murici, que pertence à Mata Atlântica. As suspeitas de fraude interromperam o processo.




Fonte: Estadão

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