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Internacional
Sexta - 01 de Junho de 2007 às 18:27

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Milhares de estudantes marcharam nesta sexta-feira na Venezuela protestando mais uma vez contra o fim da emissora privada RCTV, que não teve sua concessão de funcionamento renovada pelo governo. Fora da Venezuela, a polêmica sobre o fim da TV de oposição ao presidente Hugo Chávez também não pára de crescer: hoje, os Estados Unidos e a Espanha exigiram publicamente que a RCTV possa voltar ao ar.

A decisão de não renovar a licença da RCTV, que estava há 53 anos no ar e era a única rede de oposição de alcance nacional, já havia sido anunciada em dezembro de 2006 por Chávez.

A secretária de Estado dos EUA, Condoleezza Rice, afirmou que o fechamento da rede isolou a Venezuela em uma região onde a maioria dos países são livres e democráticos. "Nós convocamos o governo venezuelano a voltar atrás e reabrir a TV independente, e a acabar com os ataques à imprensa livre", disse Rice em uma entrevista coletiva.

Rice deu a entrevista após se reunir com o ministro das relações exteriores da Espanha, Miguel Angel Moratinos. "O ministro Moratinos e eu concordamos que essa emissora precisa continuar aberta e que este foi um ato antidemocrático", afirmou a secretária de Estado.

Em Caracas, milhares de estudantes universitários organizaram um protesto na tarde de hoje até a sede da Conferencia Episcopal, onde se reuniram com dois deputados. Os estudantes pretendiam chegar até a Assembléia Nacional, mas foram impedidos pela polícia.

Os estudantes de várias universidades públicas e privadas, que há uma semana se manifestam a favor da liberdade de expressão no país, queriam entregar um documento em defesa da RCTV na assembléia, mas sua manifestação não foi autorizada. Um forte cordão policial cercou o campus da universidade católica Andrés Bello.

Alunos da Universidade Central da Venezuela, considerada a maior do país, foram até a universidade católica e conseguiram retirar o cordão policial. Juntos, os estudantes marcharam até a Conferência Episcopal, onde se reuniram com os deputados Ismael García e Ricardo Gutierrez, do partido Podemos (que apóia criticamente o governo).

Manifesto pró-RCTV

Funcionários da RCTV também entregaram hoje à delegação da Organização de Estados Americanos (OEA) uma nota com um pedido de intervenção do órgão a favor da emissora. A RCTV parou de funcionar à 0h desta segunda-feira.

Chávez considera que o fim do canal é um combate ao "capitalismo e à ditadura da mídia". Ele acusa a RCTV de "envenenar" os venezuelanos uma programação que promove o capitalismo. O canal também é acusado de ter apoiado o golpe que tentou derrubar Chávez do poder em 2002. Ele chegou a passar dois dias preso, mas recuperou o poder logo depois.

Javier Vidal, um dos porta-vozes dos funcionários, afirmou que a nota foi recebida "de forma respeitosa" por Salvador Rodezno, representante da OEA. Ele afirmou que o grupo continuará a "lutar por seus objetivos" e negou que os atos sejam incitados pela oposição.

Drible

Apesar de ter perdido sua concessão na Venezuela, a RCTV (Radio Caracas Televisión) mantém suas transmissões e ataques ao presidente venezuelano Hugo Chávez. A emissora usa uma equipe reduzida para produzir e colocar na internet o telejornal 'El Observador'.

Reprodução

Telejornal "El Observador", da RCTV, continua suas transmissões por meio da internet "Reiteramos que 'El Observador', da Radio Caracas Televisión, segue na transmissão noticiosa em defesa da liberdade de expressão", diz o apresentadores Pedro Guerrero, num vídeo de quarta-feira (30). A cobertura enfatiza a onda de protestos, que acontecem em Caracas e outras localidades do país.

No espaço de comentários destinado para cada vídeo, internautas debatem em tom acalorado a medida de Chávez de não renovar a concessão do canal. Os filmes já foram vistos mais de 170 mil vezes. O perfil atribuído à RCTV no YouTube já jogou na rede 40 vídeos até agora.

O YouTube também abriga vídeos que acusam a RCTV de manipulações. Em um deles, a apresentadora Berenice Gómez, conhecida como "La Bicha", faz uma falsa denúncia para atacar um evento chavista. Para isso, usa uma foto-montagem --sem avisar ao telespectador de que se trata de uma manipulação de imagem.

Chávez X Lula

Além da pressão interna para suspender a decisão de retirar a RCTV do ar, Chávez envolveu-se em uma polêmica com o governo brasileiro após dizer que o Senado age "como um papagaio" do Congresso americano e que é mais fácil o Brasil "voltar a ser colônia portuguesa do que o seu governo devolver a concessão ao canal oposicionista RCTV".

Nesta sexta-feira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva respondeu às críticas, dizendo em Londres que Chávez "tem que cuidar da Venezuela".

"Eu tenho que cuidar do Brasil e o presidente [George W.] Bush tem que cuidar dos Estados Unidos", disse ele segundo assessores do Itamaraty que acompanham Lula em Londres.

Na terça-feira (29), Lula evitou comentar a decisão de Chávez de fechar a RCTV.

"O que o Brasil tem a ver com essa concessão? É um problema da legislação venezuelana. Da mesma forma que eu não quero que eles [os venezuelanos] dêem palpite nas coisas que eu fizer aqui", afirmou o presidente na ocasião.

Oposição

A retirada da RCTV do ar não pára de causar polêmica e protestos no país, já que muitos questionam se a decisão de Chávez pode representar uma ameaça para a democracia na Venezuela.

Para Trino Márquez, 56, doutor em sociologia e professor da Universidade Central da Venezuela, que conversou por telefone com a Folha Online de Caracas, os outros canais de TV da Venezuela não cumprem o papel de oposição que era feito pela RCTV. A Venevisión, concorrente de alcance nacional, não transmite mais "nenhum tipo de juízo crítico sobre o governo". "Os problemas do país não são examinados em profundidade", avalia.

Segundo Tullo Vegevani, coordenador de estudos da América Latina do Gacint (Grupo de Análise da Conjuntura Internacional), da USP, e professor da Unesp, a oposição venezuelana está "debilitada" desde a eleição de Chávez, e perdeu ainda mais força após a tentativa de golpe, em 2002.





Fonte: Folha Online

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