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Polícia Brasil
Sexta - 01 de Junho de 2007 às 13:59
Por: Patricia Casali

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Depois de seis dias de silêncio um policial militar que acompanhou o desenrolar da tragédia do Jardim das Flores concedeu entrevista para o site Primeira Hora e a TV Cidade Record. Sem se identificar, com medo de retaliações do Comando Geral da PM em Mato Grosso, ele afirmou que a troca de balas de verdade por de festim foi feita em todas as armas que seriam usadas na apresentação do Jardim das Flores, inclusive nas três espingardas calibre 12. A troca de munição teria ocorrido na manhã do sábado por volta das 7h15, cerca de uma hora e meia antes da tragédia e ressaltou que os policiais tinham advertido por várias vezes o comando dos riscos que as apresentações daquela natureza poderiam acarretar à população. Para o policial, a culpa da tragédia é do comando.

O policial disse que dos 12 ou 15 homens que participaram efetivamente da simulação que acabou em tragédia, mais ou menos nove tinham tirado serviço durante à noite e foram para a apresentação sem descansar, depois de 12 horas seguidas de trabalho. "O plantão dos policiais militares é de 12 horas, como a simulação foi por volta das 8h30, às 9 horas eles já estavam com mais de 14 horas de serviço seguidos". Ele explicou que a rotina do policial é desgastante porque eles trabalham a noite toda na viatura rodando a cidade de Rondonópolis.

Ele também afirmou que os policiais ficaram sabendo da apresentação no início da noite de sexta-feira, por volta das 19 horas. A ordem partiu do comando e já não tinha mais tempo hábil para qualquer planejamento de segurança no local. De acordo com ele, os policiais receberam apenas a instrução da apresentação de uma simulação de seqüestro de um ônibus, com uso de bombas e tiros de festim de 12.

Pela manhã, os policiais do Grupo de Operações Especiais (GOE) estavam cedo no quartel, chegaram por volta das 6 da manhã. Segundo o PM, a troca de balas de verdade pelas balas de festim foi feita por volta das 7h15. E as armas prontas para apresentação, entre elas, as três espingardas calibre 12, uma das quais de onde partiu o tiro que matou Luiz Henrique, foram colocadas na viatura que conduziria parte do grupo para o Jardim das Flores. "Eu vi eles trocando as munições de verdade pelas de festim. Em todo o armamento usado na simulação foi colocada a munição de festim. (...) as armas foram colocadas na viatura e encaminhadas para o local da simulação. Tudo muito rápido, pois foi tudo avisado em cima da hora tanto pelo comandante do Batalhão quanto pelo comandante regional".

Alto Taquari

O policial ouvido pela reportagem avalia que o GOE sempre foi um grupo sério que trabalhou em benefício da comunidade. O PM disse que muitos policiais haviam advertido por várias vezes o comandante da Regional Sul, tenente-coronel, Wilquerson Sandes e o comandante do 5º Batalhão da Polícia Militar, major, Wilker Sodré, sobre o perigo das apresentações.

"Numa destas simulações em Alto Taquari o cabo Bosco (João Bosco Pereira da Silva) machucou o pé gravemente com a explosão de uma destas bombas que foram utilizadas aqui também no Jardim das Flores", destacou.

Segundo ele, desde a apresentação em Alto Taquari que feriu um colega, os policiais do GOE não queriam mais fazer as apresentações. "Tanto os policiais do GOE como toda a tropa reprovavam estas apresentações pois elas colocavam a todo momento em risco a vida de crianças, pessoas idosas, mulheres gestantes".

O policial é categórico ao afirmar que a ordem foi do comando apesar das advertências da equipe do GOE. "Tanto que a apresentação aconteceu numa rua apertada como os policiais puderam presenciar no local, como também aconteceu, se não me engano no bairro Jardim Iguaçu em frente a escola Rosalino, onde houve a mesma quantidade de aglomeração de pessoas. Onde também se colocou em risco a vida de pessoas".

O policial disse que decidiu falar porque entende que os policiais estão sendo acusados pela sociedade por um crime que nunca tinham a intenção de cometer. Desde a tragédia, toda a tropa está aquartelada e os sete policiais do GOE que participaram efetivamente da simulação de seqüestro que acabou em tragédia estão detidos no Batalhão.

"Os policiais agora estão sendo discriminados pela sociedade por uma ordem que partiu do seu comandante e não deles próprios, sendo que eles reprovavam o tipo de simulação que estava acontecendo".

Todas as informações contidas no inquérito militar estão sob sigilo e a Polícia Civil que também investiga o caso disse que só vai se manifestar sobre o assunto depois de ser concluída a perícia nas três espingardas calibre 12, que irá apontar de onde saiu o tiro que matou Luiz Henrique Bulhões, 12 anos, que assistia a apresentação no último sábado.

Informações de policiais militares dão conta de que até a simulação foi mal planejada pelos comandantes, já que, em hipótese de seqüestro se extrapolam todas as negociações antes de haver a invasão propriamente dita, como aconteceu na apresentação do Jardim das Flores.





Fonte: Primeira Hora

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