A cidade de Brasiléia, a 237 quilômetros da capital acreana com pouco mais de 21 mil habitantes, faz fronteira com a Bolívia e começou em 2010 a receber a visita dos imigrantes haitianos. Os moradores parecem já estar habituados com os estrangeiros, que normalmente estão de passagem, mas temem uma possível falta de emprego.
Romualdo Batista trabalha em uma firma de limpeza e está acostumado a visitar o alojamento dos refugiados. Comenta que sempre vai ao local para ouvir as histórias de vida dessas pessoas que vem de tão longe. Afirma que na cidade, todos tratam os visitantes bem, mas o morador teme que os visitantes tenham doenças contagiosas e se incomoda com o dinheiro público gasto com os imigrantes. “O governo ajuda muito eles, tem que ajudar nós que somos pobres. Já gastaram R$ 3 milhões, porque não ajudam a gente do Acre? Pra gente conseguir um emprego aqui é o maior sacrifício”, reclama.
Mesmo com as reclamações ele afirma que fez amizade e admira a inteligência dos visitantes. “Teve um que falava nove línguas”, lembra admirado. Sabe de cabeça o trajeto que os imigrantes ilegais fizeram para chegar até o Brasil, quanto gastam em média nas viagens e comenta sobre estrangeiros que conheceu, sabendo onde estão atualmente e com o que trabalha. “Tem um que está em Porto Velho, outros dois são professores na capital”, comenta.
O picolezeiro Zé Maria compartilha do medo de Romualdo de uma possível falta de emprego. “Daqui uns dias vai ser pior para nós, porque muito emprego é dado pra eles. Eu não reclamo que eles estão vindo, mas muita gente reclama, porque o emprego está tendo mais para eles”, afirma.
Zé Maria é cidadão de Epitaciolândia, cidade vizinha de Brasiléia, separada apenas por uma ponte. Ele também acredita que os visitantes são acolhidos sem problemas com os moradores.
Com seu carrinho ele aproveita o alojamento para vender seus picolés e extrair alguma vantagem com os visitantes. “Vende a mesma coisa, mas anda menos. Porque o picolé eu vendo todo aqui. Antes deles chegarem, eu andava Brasiléia todinha antes de vender”, lembra o picolezeiro.
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