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Nacional
Quarta - 23 de Maio de 2007 às 23:44
Por: Pedro Dantas

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RIO - No 23º dia de confronto entre policiais e traficantes no Complexo do Alemão (zona norte do Rio), os criminosos fizeram um trégua na tarde desta quarta-feira, 23, para a entrada na favela da Vila Cruzeiro do subprocurador-geral de Direitos Humanos do Ministério Público, Leonardo Chaves, que foi ouvir as denúncias de maus tratos dos moradores contra a polícia.

Na parte da manhã, policiais que retiravam as barreiras colocadas por bandidos nos acessos às favelas foram atacados a tiros e granadas. Uma idosa foi baleada na cabeça.

Trinta policiais do 16º Batalhão de Polícia Militar demoraram duas horas para retirar a mais ousada barreira colocada por traficantes na Rua Joaquim Queiroz, principal acesso à favela da Grota. Um Ford KA virado e pregado ao chão com uma viga de ferro soldada ao veículo. Três blindados foram usados na remoção, realizada sob tiros vindos do alto da favela. O comércio fechou.

A reunião entre o subprocurador e lideranças comunitárias terminou ao som de fogos e tiros disparados por traficantes contra o "caveirão" que patrulhava as imediações. "Ouvi apenas fogos", desconversou o representante do Ministério Público, após ouvir dos moradores reclamações contra o fechamento de sete escolas, prejuízos dos comerciantes cujas lojas são fechadas por ordem dos traficantes e queixas unânimes contra o "caveirão", que ironicamente socorreu Lindalva de Almeida Silva, 57, baleada na favela Nova Brasília. Desde às 15h até o fechamento desta edição ela permanecia no Centro Cirúrgico do Hospital Getúlio Vargas onde médicos tentavam extrair a bala do cérebro da paciente.

No caminho até a reunião realizada no Espaço do Instituto Brasileiro de Inovações em Saúde Social (Ibiss), um oásis com direito a piscina semi-olímpica no meio de barracos espremidos, o subprocurador, acompanhado por três seguranças, passou por algumas das dezenas de barreiras do tráfico feitas com com vergalhões de ferro, pedras e sinalizadas por espantalhos no meio de ruas estreitas cujo odor vem do esgoto a céu aberto e do lixo acumulado nas ruas, pois a coleta não é feita há dias. "Existe o Rio de Janeiro e o Rio do bueiro. Este lugar precisa de projetos sociais", afirmou na reunião o Padre Serafim Fernandes, pároco do Santuário da Penha.

"Acho que a única solução é a saída da polícia (da favela). Nosso dia-a-dia é de terror", declarou a dona de casa Antônia Dalva de Souza, de 32 anos, baleada em casa na favela da Chatuba no último dia 6. Presente ao encontro junto com outras mães, ela contou que perdeu a filha Joice, de 6 anos, morta em casa por uma bala perdida em 1997.

O subprocurador disse que ficou chocado com o aumento do atendimento dos feridos a bala no Hospital Getúlio Vargas que pulou de 37 em maio do ano passado para 81 neste ano. "Vou analisar estes números e esperar diálogo entre as autoridades e as lideranças comunitárias para solucionar a questão", disse. Presente ao encontro, o deputado Alessandro Molon (PSOL) disse que tenta promover um encontro entre a cúpula da Segurança e lideranças das favelas.

O governador Sérgio Cabral Filho (PMDB) disse que a ação da polícia continua. "Aquele local está necessitando de uma ação policial para salvar os moradores dos marginais, verdadeiros terroristas que tomaram conta do território", afirmou, referindo-se ao fato de o Complexo do Alemão ser considerado quartel-general do Comando Vermelho.




Fonte: Estadão

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