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Saúde
Sábado - 19 de Maio de 2007 às 09:45

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A obsessão pelo consumo de alimentos saudáveis deixou as academias de ginástica para se tornar nome de doença: a "ortorexia", segundo os psicólogos e nutricionistas, afeta 2% da população de países como os Estados Unidos.

Javier Aranceta, vencedor do prêmio Grande Covián 2007 e professor de Medicina Preventiva e Saúde Pública da Universidade de Navarra, disse à agência Efe que na Espanha não há estudos sobre o número de pessoas que sofrem da patologia. Mas ela já é vista no país como uma "moda emergente" de "autistas alimentícios com tendência à infelicidade".

O acadêmico constatou que a ortorexia é um "fenômeno crescente".

Com o tempo, ela pode ser equiparada a outros problemas de saúde, como a anorexia, a bulimia ou a obesidade. Ele recomendou medidas preventivas para deter o seu crescimento, entre elas a educação desde a infância com hábitos alimentícios saudáveis.

Quanto mais "severa" for a obsessão, mais alimentos básicos forem excluídos da dieta, continuou o analista. A ortorexia pode resultar em desnutrição, anemia, perda de massa óssea, carências de vitaminas e minerais, fraqueza e um alto risco de infecções, alertou.

Alguns dos sintomas da doença, disse à Efe a psicóloga clínica Elena Borges, são "passar horas no supermercado" lendo a composição dos alimentos e comprar unicamente os orgânicos, macrobióticos, dietéticos, integrais, sem aditivos, e com garantias de que não contêm conservantes, pesticidas nem herbicidas.

Dedicar grande parte do dia a decidir meticulosamente o que se vai comer, evitar reuniões sociais e jantares para não "cair na tentação" de ingerir outro tipo de produto, pesar os alimentos e sentir "grande culpa se quebrar as regras" são indícios preocupantes, na opinião da especialista.

A falta de auto-estima e o medo do fracasso são outros condicionantes que acompanham os pacientes, disse. E o número de ortoréxicos aumenta a cada dia no seu consultório.

Os especialistas apontam outros fatores que desencadearam a tendência. O culto ao corpo e a publicidade de produtos supostamente saudáveis ou enriquecidos estão entre os mais importantes.

Aranceta afirmou que o ortoréxico se "enche" de produtos funcionais com o objetivo de ficar saudável. Porém, deixa de consumir "80% de outros que são mais saudáveis e básicos para o organismo".

Os doentes, em muitos casos "hipocondríacos e excessivamente rígidos em seus comportamentos", acabam acumulando algumas substâncias em excesso, enquanto carecem de outras fundamentais.

Nos Estados Unidos, cujas tendências são difundidas para o resto do mundo, ganharam força as campanhas sobre o problema dos alimentos geneticamente modificados e a ameaça de doenças como a da "vaca louca". O país hoje tem o maior número de supermercados ecológicos do planeta.

Aranceta afirmou que o melhor para se ter uma alimentação saudável é a "variedade". Só nela, explicou, "está a possibilidade de adquirir todos os nutrientes".

O acadêmico destacou que, "além da perda de tempo para medir milimetricamente o que se come", não é fácil encontrar produtos orgânicos. E eles também representam um elevado custo para os gastos com alimentação, aumentando em até 15 vezes a despesa de uma pessoa normal.

"Atualmente vivemos em uma sociedade de aparência e de um culto extremo ao material, deixando quase em último plano o que é realmente necessário", disse Borges.

A psicóloga ressaltou que o organismo do ser humano é "amplo, completo e complexo" e que por isso seu cuidado exige "ações pragmáticas, coerentes e equilibradas".

Borges também comentou que "a vida é muito mais flexível e dinâmica em todos seus aspectos" e afirmou que "a preocupação excessiva com a meticulosidade da comida" leva, pelo menos, a "mau humor, mal-estar e inquietação, e acaba com a saúde física e mental".

Como conselho, ela sugere uma mudança baseada em hábitos alimentares que "certamente será difícil, mas é uma questão de força de vontade". Para a psicóloga, é errado "esperar ficar doente para pôr a mudança em prática".

"É preciso tratar o problema levando em conta a razão de se estar centrando sua vida em comer desta forma", disse Borges, que defendeu o "aumento da auto-estima" dos doentes, "valorizando seus aspectos pessoais que não estão ligado a erros e defeitos".

É necessário refletir sobre as conseqüências ruins das suas condutas e também "ampliar seu círculo de amizades", que só é possível "com pessoas otimistas, positivas e com um bom senso de humor".





Fonte: EFE

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