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Domingo - 14 de Abril de 2013 às 17:39
Por: RODRIGO VARGAS

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Entre os fichados está Gilney Viana, Jane Vanini e o bispo emérito Pedro Casaldáliga. Todos eram tidos como ameaça ao re
Entre os fichados está Gilney Viana, Jane Vanini e o bispo emérito Pedro Casaldáliga. Todos eram tidos como ameaça ao re
O recorte do jornal, anexado a uma ficha marcada como "secreta" traz as fotos de vários jovens, homens e mulheres. A manchete, com data de novembro de 1969, diz que se tratam de terroristas perigosos, identificados e sob a mira das forças nacionais de segurança. 

 
 
Entre os citados, está o estudante de medicina mineiro Gilney Amorim Viana, descrito no texto como um dos membros da cúpula do grupo clandestino, com atuação em assaltos a estabelecimentos comerciais. 

 
 
Outra ficha traz um relatório, datado de abril de 1980, no qual um investigador descreve a atuação de um bispo "guerrilheiro e esquerdista" que "prega a luta entre irmãos e, cinicamente, em nome de Deus". 



 
"Casaldáliga é um dos elementos atuantes da Cúpula da Ala ‘Progressista’ do Clero Católico do País. Consta que prega a luta armada no campo", diz um trecho. 

 
 
Os registros citados acima fazem parte de um acervo que foi digitalizado e recentemente colocado para consulta via internet pelo Arquivo Público de São Paulo. 



 
São cerca de 280 mil fichas e prontuários produzidos pelo temido DEOPS (Departamento Estadual de Ordem Política e Social, também conhecido como DOPS) paulista desde a sua criação, em 1923, até a extinção do órgão que o sucedeu, o DCS (Departamento de Comunicação Social), em 1999. 

 
 
São mais de um milhão de páginas que, embora representem apenas 10% da documentação produzida pelo órgão, ajudam a reconstruir uma das facetas mais violentas e obscuras da ditadura militar. 

 
 
Gilney Viana, que foi capturado, torturado e condenado a 25 anos de prisão (dos quais cumpriu 10 anos em regime fechado e cinco em condicional), recomeçou sua vida política em Mato Grosso, onde se elegeu deputado estadual e federal na década de 90. 

 
 
Casaldáliga sofreu ameaças de expulsão do país, mas manteve-se à frente da Prelazia de São Félix do Araguaia até 2005, quando completou 75 anos e teve de se aposentar compulsoriamente do cargo. 

 
 
Eles não são os únicos "mato-grossenses" que constam no acervo digitalizado. 

 
 
Em uma pesquisa na página do acervo (www.arquivoestado.sp.gov.br/), a reportagem do DIÁRIO encontrou as fichas de figuras de grande relevância política, como o Padre Raimundo Pombo Moreira da Cruz, o Padre Pombo, morto em 1996. 

 
 
Filiado ao PMDB, partido que abrigava parte da oposição ao regime, Pombo teve registrada em sua a ficha a experiência frustrada de sua candidatura ao governo do Estado em 1982 - quando acabou derrotado por Júlio Campos em uma disputa marcada por denúncias de fraude.

 
 
O deputado estadual e ex-presidente da Assembleia Legislativa, Augusto Mário Vieira, que teve seu mandato cassado pela ditadura, é outro que consta nos registros do DEOPS. Ele recuperou seus direitos políticos e se elegeu novamente deputado, mas morreu antes de tomar posse, em 1986. 

 
 
A cacerense Jane Vanini, que ingressou na luta armada em São Paulo, é descrita em sua ficha como uma “terrorista da ALN [Ação Libertadora Nacional]”. “Pertence ao Setor de Falsificação de Documentos da ALN”, diz a ficha. 

 
 
Condenada pelo regime militar, Vanini foi para o exílio no Chile e lá ingressou no MIR (Movimento de Izquierda Revolucionário). Acabou morta pela ditadura chilena em dezembro de 1974. 

 
 
A digitalização dos arquivos paulistas contrasta com a realidade de Mato Grosso, onde o destino dos documentos do DOPS local segue ignorado. "É muito frustrante", admite a historiadora Vanda da Silva, que participou de uma comissão destinada a localizar os registros da delegacia local, sem sucesso. "As pessoas têm o direito a ter acesso às informações sobre aquele período". 





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