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Nacional
Terça - 15 de Maio de 2007 às 14:22

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Lula rejeita 3º mandato, chama greve de 90 dias de férias e indica queda de juro Publicidade GABRIELA GUERREIRO PATRÍCIA ZIMMERMANN da Folha Online, em Brasília Na primeira entrevista coletiva de seu segundo mandato, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva descartou hoje a possibilidade de disputar a reeleição em 2010 para a presidência da República. Lula deixou em aberto a hipótese de apoiar o governador tucano Aécio Neves (Minas Gerais) para o cargo, mas disse esperar que a base aliada do governo tenha candidato único na disputa presidencial --com a esperança de fazer o seu "sucessor" para o posto. "Eu não brinco com democracia. Fui obrigado a ser candidato à reeleição. Sou contra e não serei candidato em 2010. Não é por nada não, é porque a Constituição não permite." Lula defendeu a pluralidade de forças políticas que compõem o seu segundo mandato ao justificar a escolha de antigos críticos de seu governo para o primeiro escalão do Executivo --como o ministro Geddel Vieira Lima (Integração Nacional) e o filósofo Mangabeira Unger.

Lula disse que "muita gente vai ter que engolir" o que disse do seu governo com o passar do tempo.

O presidente negou que tenha reduzido o espaço do PT no primeiro escalão do governo, mesmo com a substituição de petistas para abrir espaço a partidos da base aliada. "O PT tem o privilégio de ter o cargo de presidente, o mais importante da República. Mais do que isso, é querer muita coisa", enfatizou.

Lula disse que fez acordo com partidos políticos, e não com pessoas. Mas admitiu que, no exercício do seu mandato, um presidente não governa necessariamente com as forças que gostaria de governar. "Cabe ao partido indicar as pessoas, desde que elas estejam aptas a assumir funções", disse.

Greve

Sobre o projeto elaborado pelo governo para regulamentar o direito de greve no país, o presidente disse que se sente à vontade, como ex-sindicalista, para propor a discussão do tema. "A greve no setor público não pode ser feita como em uma fábrica", disse.

Lula negou que o objetivo do governo seja proibir o direito de greve no Brasil. Mas criticou os que abusam do direito sem efetivas razões trabalhistas.

"Não é possível que alguém faça greve 90 dias e receba os dias parados. Porque deixa de ser greve e passa a ser férias. Todos nós temos o direito de fazer greve, mas saber que não é tirar férias. Afinal de contas você ganha pelo dia que você trabalha, e não pelo que fica em casa."

Lula criticou a greve dos servidores do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), que protestam contra a divisão do órgão, proposta pelo governo.

Segundo ele, "todos temos medo de mudança", mas a proposta de separação das áreas de licenciamento e de preservação ambiental é uma forma de se modernizar o Ibama.

O presidente tentou minimizar os efeitos do movimento dos trabalhadores em projetos importantes do governo, como o licenciamento das hidrelétricas do rio Madeira (RO), e disse que não deixará para o seu sucessor um "apagão" no setor elétrico.

Ao comentar as divergências entre as ministras Dilma Rousseff (Casa Civil) e Marina Silva (Meio Ambiente), Lula fez questão de dizer que qualquer disputa se encerra quando chega à sua mesa, porque a decisão do governo.

Aborto

Sobre o aborto, ele disse que pessoalmente é contra. Mas que como chefe de Estado não pode se omitir sobre o assunto. "Eu tenho comportamento como cidadão, sou contra o aborto. E não acredito que tenha uma mulher nesse país favorável ao aborto, como se fosse coisa que as pessoas querem fazer. Mas como chefe de Estado, sou a favor de o aborto ser tratado como saúde pública, dar atenção a pessoas que tiveram gravidez indesejada", afirmou.

Crise aérea

Lula responsabilizou parte da crise aérea que atinge o país ao que chamou de "falta de planejamento histórico" no setor aéreo brasileiro.

Segundo o presidente, ainda é cedo para apontar culpados para a crise ou para o acidente entre o Boeing da Gol e o jato Legacy, no ano passado. Mas reconheceu que, diante do sucateamento do setor nos últimos anos, a crise acabou ganhando força.

"Estamos sendo vítimas da falta de planejamento histórico desse país. E agora temos que recuperar. Se algum aeroporto ou a Infraero gastou dinheiro a mais em publicidade, tem que se investigar. No mais, vamos continuar trabalhando nos aeroportos brasileiros porque eles precisam que a gente continue trabalhando", disse.

Violência

O presidente disse, na entrevista, que o governo federal não é o maior responsável pela crise de segurança pública vivida atualmente no país. Segundo Lula, os Estados têm a prerrogativa de desenvolver ações de combate à criminalidade.

"Na questão da segurança pública, o governo federal não é o foco principal. Somos a força auxiliar do sistema de segurança pública que é majoritariamente controlado pelo governos estaduais. Às vezes, temos que pedir autorização aos Estados para a Polícia Federal entrar. O governo federal só entra quando é pedido", disse.

Lula admitiu que nenhum governo conseguirá solucionar em curto prazo o problema da violência e o aumento da criminalidade.

Juros

Na entrevista, Lula reafirmou que não irá interferir nas decisões do Copom (Comitê de Política Monetária) para forçar uma queda mais rápida da taxa básica de juros (Selic) e defendeu a autonomia do Banco Central. Ao ser questionado sobre um descompasso entre o ritmo de queda da taxa de juros e os avanços da economia brasileira, o presidente defendeu o Banco Central e disse que a taxa de juros vai continuar caindo sem que se faça a "estupidez" de uma intervenção.

Ele lembrou que a taxa atual é a mais baixa da história, e o "viés é de baixar", sem que haja a 'tensão pré-Copom' do passado. "Quando as pessoas viram oposição colocam uma tapa nos olhos e esquecem quanto era os juros quando governavam o país", afirmou.

Entrevista

O presidente respondeu a 15 perguntas de jornalistas sorteados pelo Palácio do Planalto de veículos credenciados na Presidência da República. Bem-humorado, Lula não se recusou a responder nenhuma pergunta.

Em quase duas horas de entrevista, o presidente ficou de pé em um púlpito separado pela presidência da República e em diversos momentos recorreu ao copo d'água oferecido pelo cerimonial do Palácio do Planalto.

Ao final da entrevista, assessores da presidência afirmaram que a entrevista coletiva não foi a primeira concedida por Lula em seu segundo mandato. Eles alegam que o presidente, em viagens ou cerimônias oficiais, já concedeu 44 entrevistas desde o início de janeiro --embora a de hoje tenha sido a primeira no formato oficial, seguindo o modelo implantado em apenas uma coletiva de seus quatro primeiros anos de governo.





Fonte: Folha Online

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