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Sem bolsa, brasileiros temem perder vaga em universidades americanas
Após serem admitidos por universidades norte-americanas, estudantes brasileiros temem não conseguir ocupar a tão sonhada vaga por falta de auxílio financeiro. O fato de ser aceito por determinada instituição não significa que o candidato vá estudar de graça. Pelo contrário. Nos Estados Unidos, até as universidades públicas são pagas. Os programas de bolsas diferem em cada instituição, porém, a maioria concede descontos de acordo com a situação socioeconômica da família do estudante.
Nem sempre é possível conseguir 100% de isenção, principalmente porque a concorrência pelas bolsas aumentou. Em média, o custo para estudar nas universidades mais renomadas pode chegar até US$ 5 mil (R$ 10 mil) por mês, incluindo gastos com hospedagem e alimentação.
Para expor o problema e atrair a atenção de empresários e dos governos, um grupo de seis estudantes brasileiros criou o site ‘Apoie um talento" com objetivo de conseguir patrocínio. Os seis foram aprovados em instituições americanas importantes, mas esbarraram na questão econômica para estudar, pois não conseguiram uma bolsa que cobrisse todos os gastos.
Morador de Fortaleza (CE), Davi Chaves, de 18 anos, foi aprovado pela Universidade do Sul da Califórnia, mas não recebeu nenhuma bolsa de estudo. Davi também ficou na lista de espera do Instituto de Tecnologia de Massachussets (MIT), Universidade da Pennsylvania (UPenn) e Universidade de Chicago. Se quiser garantir a vaga, o estudante precisa se matricular na Universidade do Sul da Califórnia até o dia 1º de maio, já que a resposta das demais instituições deve vir depois desta data e é impossível saber se ele será convocado, muito menos se terá bolsa.
“É uma situação tensa, se tivesse condições já estaria lá [na Universidade do Sul da Califórnia], mas pagar mensalidade é fora de cogitação”, diz Davi que estudou em um colégio particular de Fortaleza como bolsista. O pai de Davi trabalha no Tribunal Regional Eleitoral (TER) e a mãe é professora. “Se eu não conseguir bolsa ou patrocínio, simplesmente não vou, vai ser o fim de um sonho.”
Em Santos (SP), Bárbara Cruvinel Santiago, de 18 anos, vive o mesmo dilema e também participou da criação do site. Ela quer seguir carreira como pesquisadora em física, por isso optou por fazer universidade nos Estados Unidos. Tem vaga garantida na Universidade de Boston, onde Martin Luther King estudou, e está na lista de espera do MIT, Yale, Duke e Columbia.
“Não consegui nenhuma bolsa da Universidade de Boston, porque eles não dão para alunos internacionais. Tem um programa de bolsa por mérito, mas é muito concorrido. Meu pai é bancário, minha mãe advogada. Pagar 100% da mensalidade é inacessível, o custo é maior do que meus pais ganham o ano inteiro juntos.”
Bárbara passou no curso de engenharia mecânica na Universidade de São Paulo (USP), pois diz que no Brasil é mais fácil fazer pesquisa como engenheira do que como física. “Penso em estudar nos Estados Unidos desde os 15 anos, não sei como vai ser se não conseguir. Seria uma frustração muito grande. Meus estão correndo atrás de empresas para ver se conseguimos doações, eles estão tão ansiosos quanto eu porque sabem o quanto eu queria.”
Pedido para reconsiderar valor
Marta Bidoli Fernandes, supervisora do Alumni Advising – EducationUSA, afirma que é fundamental o estudante procurar saber da política de bolsas da universidade antes de se candidatar às vagas. Segundo ela, as informações costumam estar disponíveis nos sites das instituições, porém, quando necessário, o estudante pode entrar em contato via e-mail.
Para os admitidos que receberam uma bolsa insuficiente da instituição, a dica de Marta é para que o candidato peça que o valor seja reavaliado. “Se a oferta não for suficiente, vale pedir para que a instituição reconsidere via e-mail ou carta. Isso não faz parte da cultura brasileira, mas acontece muito. É importante o candidato reforçar o interesse pela universidade, falar dos objetivos, o pedido precisa ter conteúdo. Em geral, o estudante consegue o retorno da universidade.”
A supervisora diz que nem sempre a universidade favorita do candidato é que mais oferece ajuda financeira, neste caso vale avaliar e aceitar o convite, por exemplo, de uma segunda instituição “mais generosa.” O estudante ainda tem como opções o empréstimo estudantil concedido pela instituição, geralmente a baixos juros, alternativa muito utilizada pelos americanos, mas que precisa ser estudada por toda a família; além de patrocínios de empresas.
“As bolsas de 100% estão cada vez mais competitivas porque o número de estudantes cresceu. Não é que exista menos oferta, a procura que aumentou”, diz Marta. Para ela, os alunos internacionais, apesar disso, são muito requisitados pelas universidades americanas que valorizam a diversidade.
Campanha na internet
A Fundação Estudar, ONG que tem como missão identificar e apoiar talentos brasileiros, vai lançar na segunda-feira (15) uma iniciativa de crowdfunding chamada "Estudar fora" com objetivo de arrecadar verba para pagar as despesas de cerca de 20 estudantes que foram aprovados em instituições americanas neste ano e não têm de condições de arcar com as mensalidades. O dinheiro que for arrecadado pelos estudantes vai ganhar reforço com uma contrapartida de uma empresa patrocinadora.
Estes estudantes participaram do Prep Program e tiveram orientação da Fundação Estudar em todo o processo seletivo para a conquista de uma vaga. "Queremos garantir que o dinheiro não seja um limitador para estes estudantes que já conseguiram o mais difícil: a vaga. Estudar fora está se tornando mais democrático, o número de candidatos é maior a cada ano. No Brasil não existe financiamento para isso e o problema tende a aumentar", diz Renata Moraes, gerente de educação da Fundação Estudar.
Todos os anos a Estudar seleciona até 30 alunos de graduação e pós para o programa de bolsas que inclui além de aporte financeiro, orientação para a carreira. Os contemplados recebem até 95% de bolsa para cobrir os custos, mas estes têm um compromisso moral de retribuir o dinheiro à ONG para que seja investido em outros estudantes, até cinco anos após sua formação.
Fonte:
Do G1
URL Fonte: https://reporternews.com.br/noticia/22780/visualizar/
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