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Nacional
Sexta - 11 de Maio de 2007 às 08:58

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Bento 16 vai quebrar a própria regra. Hoje, às 9h30, ele fará de Antonio de Sant'Anna Galvão, o frei Galvão, o primeiro santo brasileiro. Contrariando o que havia anunciado ao assumir o cargo no Vaticano, em 2005, a canonização acontece fora de Roma.

No altar montado no Campo de Marte, em frente a milhares de fiéis, o papa irá ler o decreto de santificação após a apresentação de uma biografia do religioso. Difícil será, em poucos minutos, condensar a vida do franciscano que construiu o mosteiro da Luz com as próprias mãos e criou as pílulas de papéis, milagrosas segundo seus devotos.

A missa no Campo de Marte, na zona norte de São Paulo, deve durar duas horas. Para o evento, 1 milhão de pessoas são esperadas. Antes de iniciar o ato religioso, o papa Bento 16 fará um giro dentro do papamóvel entre os fiéis.

Nascido em uma família rica e influente em Guaratinguetá, no ano de 1739, o menino Antonio cresceu em uma casa de dez cômodos servido por 28 escravos. Mas não se deslumbrou com o luxo e aprendeu com os pais o ato da caridade. Ainda criança, via a mãe dar o que tinha em casa aos pobres.

Aos 13 anos, seu pai o mandou estudar no Seminário de Belém, escondido em Cachoeira, a 109 km de Salvador. Da ordem dos jesuítas, era o melhor colégio religioso da época. Foi um aluno notável e decidiu seguir a vida religiosa. Teve de mudar de ordem, porém -os jesuítas estavam sendo perseguidos no país e seus colégios acabaram fechados.

Antonio abraçou a ordem dos franciscanos, da qual seu pai já fazia parte. Em 1762, foi transferido, já ordenado, para o Convento de São Francisco, no centro de São Paulo, onde permaneceu por 60 anos.

Terras paulistas

Em terras paulistas, realizou seus feitos: tornou-se poeta e membro-fundador da Academia dos Felizes, primeira academia de letras de São Paulo; passou 28 anos construindo o mosteiro e a igreja da Luz; peregrinou a pé pelo Estado em busca de donativos; pagou dívidas de trabalhadores sem que soubessem; começou, sem querer, a propagar sua fama de santo mesmo em vida.

Alguns episódios contribuíram para isso. Histórias da época contam que o frade teria o dom da bilocação (capacidade de estar em mais de um lugar ao mesmo tempo) e, por várias vezes, teria sido visto por devotos em dois locais na mesma hora.

Para reforçar a crença de que ele era, no mínimo, alguém especial, casos de cura começaram a ser relatados.

Tudo por conta das pequenas pílulas que, quase sem querer, frei Galvão acabou criando nos últimos anos do século 18.

Procurado por um pai que não sabia mais o que fazer para aplacar as dores de um filho que sofria de pedras nos rins, ele decidiu escrever em um pequeno pedaço de papel um trecho em latim do Ofício de Nossa Senhora. Enrolou o papel e deu ao homem para que ele fizesse o filho tomá-lo. Ordem cumprida, o doente expeliu as pedras e não sentiu mais dor.

O fato se repetiu pouco tempo depois com uma mulher que corria risco na hora do parto. Pílula tomada, mãe e filho ficaram salvos. As histórias correram de boca em boca e, em pouco tempo, fiéis iam a procura das pílulas. Ao morrer, em dezembro de 1822, elas já eram feitas pelas freiras do mosteiro.

Mesmo após sua morte, a devoção continuou aumentando e, em 1938, começou o primeiro processo para a canonização do frade, que não seguiu adiante. Em 1986, o processo foi reaberto e o primeiro milagre atribuído a frei Galvão por causa das pílulas (a cura de uma menina) recebeu reconhecimento do Vaticano em 1998. João Paulo 2º fez do frade um beato.

Oito anos depois, um segundo milagre (a salvação de mãe e filho em uma gravidez cientificamente improvável) foi confirmado por Bento 16, que anunciou a canonização.





Fonte: Folha de S.Paulo

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